Nos ombros do Bom Pastor

Dom Pedro José Conti
Dom Pedro José Conti

Mandamos imprimir e já distribuímos milhares destes folhetos. Também acredito, que em todas as Igrejas deve ter um banner, ou um cartaz, com esta figura. Estou falando do logotipo do Ano Santo da Misericórdia. Talvez seja bom, neste Quarto Domingo da Páscoa, Dia Mundial de Oração pela vocações e domingo do evangelho do Bom Pastor, refletir um pouco sobre o sentido desse desenho espalhado pelo mundo inteiro.

logotipo“O logotipo e o lema colocados juntos oferecem uma feliz síntese do Ano Jubilar. O lemaMisericordiosos como o Pai (retirado do Evangelho de Lucas, 6,36) propõe viver a misericórdia no exemplo do Pai, que pede para não julgar e não condenar, mas perdoar e dar amor e perdão sem medida (cfr. Lc 6,37-38). O logotipo – obra do padre jesuíta Marko I. Rupnik – apresenta-se como uma pequena suma teológica do tema da misericórdia. Mostra, na verdade, o Filho que carrega nos seus ombros o homem perdido, recuperando uma imagem muito querida da Igreja primitiva, porque indica o amor de Cristo que realiza o mistério da sua encarnação com a redenção. O desenho é feito de tal forma realçando o Bom Pastor que toca, profundamente, a carne do homem, e o faz com tal amor capaz de lhe mudar a vida. Al&eacute ;m disso, um detalhe não é esquecido: o Bom Pastor com extrema misericórdia, carrega sobre si a humanidade, mas os seus olhos confundem-se com os do homem. Cristo vê com os olhos de Adão e este com os olhos de Cristo. Cada homem descobre assim em Cristo, novo Adão, a própria humanidade e o futuro que o espera, contemplando no Seu olhar o amor do Pai.” (http://www.iubileummisericordiae.va/)

Andando pelas comunidades, eu mesmo expliquei esse desenho muitas vezes e, vou dizer a verdade, os que mais rapidamente percebem a singularidade dos “três olhos” são as crianças. Talvez porque elas ainda enxerguem melhor do que os mais velhos ou, simplesmente, por acharem tudo isso bem fora do normal. Mas é isso mesmo que o artista Pe. Rupnik quer nos conduzir a entender: como estamos longe de olhar o mundo, a história, os outros, com o mesmo olhar de Jesus. Ele, sabemos pelos evangelhos, tinha um olhar compassivo e misericordioso, sabia ver a situação das pessoas, suas lutas, seus anseios, suas lágrimas e suas decepções. Acima de tudo, porém, Jesus olhava “por dentro”, via o coração. Não era um olhar superficial, que ficava só nas aparências. Ele conhecia os pensamentos bons, as fraquezas e também a maldade dos homens.  Aconteceu com Mateus, quando foi chamado atrás da banca dos cobradores de impostos (Mt 9,9). Aconteceu com o jovem rico que queria saber como ganhar a vida eterna (Mc 10,21). Aconteceu com Pedro, após a traição e, ele, tocado por aquele olhar, “chorou amargamente” (Lc 22,61-62). Até Pilatos ficou com medo e perguntou a Jesus: – De onde és tu? – (Jo 19,8-9).

A essa altura, é fácil entender que, para nós, somente será possível aprender a ver com o olhos – e o coração – misericordiosos de Jesus se nos deixarmos, também, carregar nos seus ombros, andando por onde ele andava, aproximando-nos daqueles a quem ele buscava, rezando ao Pai como ele rezava. Ele procurava as ovelhas perdidas, mas começou por aquelas de Israel, ou seja, justamente por aqueles que não se achavam perdidos, mas com lugar garantido no céu por serem “filhos de Abraão”. Talvez seja essa também a nossa tentação, porque já recebemos todos os sacramentos ou participamos de algum grupo ou movimento da Igreja. Melhor se formos mais humildes e admitirmos quanto ainda precisamos nos deixar carregar sobre os ombros do Bom Pastor. Mas também podemos ajudar Jesus, aprender a carregar com ele tan tos outros irmãos e irmãs, aqueles que não conseguem ainda andar com as suas próprias pernas no caminho da fé. Temos medo que a carga seja pesada demais? Será que é por isso que faltam carregadores generosos?  Se o fizermos por amor, todo fardo se torna leve e até suave, palavra de Jesus.

 

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