MPF: Aldemir Bendine e operador usavam aplicativo para destruir mensagens

Ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil foi preso nesta quinta, acusado de receber propina

A Polícia Federal prendeu, na manhã desta quinta-feira (27), o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine, na 42ª fase da Operação Lava Jato. Mandados foram cumpridos no Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Entre eles, três de prisão temporária e 11 de busca e apreensão. Além de Bendine, foram alvos operadores financeiros, suspeitos de participar do recebimento de R$ 3 milhões em propinas pagas pela Odebrecht.

De acordo com o Ministério Público Federal, Bendine e seu suposto operador André Gustavo Vieira da Silva utilizavam o aplicativo Wickr “para evitar eventuais interceptações das comunicações entre eles”. Após as conversas que travavam, destruíam as mensagens a cada 30 minutos. Segundo a força-tarefa da operação, em alguns casos, as mensagens eram destruídas a cada 4 minutos “para evitar a utilização como prova de ilícitos praticados”. Contudo, eles fizeram print de mensagens, o que acabou servindo de prova para a operação realizada nesta quinta-feira.

Portugal

Bendine tinha uma passagem de ida para Portugal, marcada para esta sexta-feira (28). “É importante destacar que o MPF encontrou apenas a passagem de ida, não significa que não havia a passagem de volta”, afirmou Athayde Ribeiro Costa, procurador da República, em entrevista à imprensa em Curitiba. Mais tarde, contudo, a defesa de Bendine apresentou o recibo da viagem de volta, de Lisboa a Campinas, marcada para o dia 19 de agosto, e pediu ainda a revogação da prisão.

Segundo o procurador, há evidências de que os outros dois alvos dessa operação tentaram apagar provas e obstruir a Justiça. Um deles, André Gustavo Vieira da Silva, foi detido em um aeroporto no Recife. Ele viajaria para Brasília. Foi preso ainda o irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior. Os dois são sócios em uma agência de publicidade, chamada Arcos, e são apontados como operadores da propina.

“André Gustavo e Antônio Carlos, ainda em conluio com Bendine, teriam praticado em 2017 atos que caracterizam lavagem de ativos e obstrução das investigações. O produto do crime até o momento não foi recuperado”, afirmou Athayde Ribeiro Costa ao justificar os pedidos de prisão.

Os três suspeitos foram presos temporariamente. A prisão tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo ou convertida para preventiva, que é quando o investigado não tem prazo para deixar a cadeia.

Bendine esteve no comando do BB entre 17 de abril de 2009 e 6 de fevereiro de 2015, e foi presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. De acordo com o MPF-PR, existem evidências de que ele pediu propina à Odebrecht AgroIndustrial.

“Numa primeira oportunidade, um pedido de propina no valor de R$ 17 milhões realizado por Aldemir Bedine à época em que era presidente do Banco do Brasil, para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, executivos da Odebrecht que celebraram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, teriam negado o pedido de solicitação de propina porque entenderam que Bendine não tinha capacidade de influenciar no contrato de financiamento do Banco do Brasil”, diz a nota.

Além disso, segundo o MPF, “há provas apontando que, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, o que ocorreu em 6 de fevereiro de 2015, Aldemir Bendine e um de seus operadores financeiros novamente solicitaram propina a Marcelo Odebrecht e Fernando Reis. Desta vez, as indicações são de que o pedido foi feito para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em relação às consequências da Operação Lava Jato.”

Aparentemente os pagamentos somente foram interrompidos com a prisão do então presidente da Odebrecht. O nome da fase, batizada de Cobra, é uma referência ao codinome de Bendine nas tabelas de pagamentos de propinas apreendidas no chamado setor de operações estruturadas da Odebrecht, durante a 23ª fase da Lava Jato.

Jornal do Brasil

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