Colisão entre navios em Fazendinha compromete entrega de carga e expõe o risco de danos ambientais e a ameaça à vida humana

Dois navios estrangeiros, de carga, colidiram na manhã desta quarta-feira, 11, em frente ao balneário de Fazendinha, em Macapá: o navio Eden Bay, carregado com trigo, e o Mazury, carregado com fertilizantes. Além do prejuízo pelo atraso dos produtos no destino, o acidente chama a atenção para o perigo da falta de profissionais da praticagem na condução de embarcações de grande porte em águas da navegação brasileira, o que pode causar danos ao meio ambiente, perda de vidas, além do risco de colidirem com barcos de tamanho menor, comuns nos rios da Amazônia, embora o serviço esteja permanentemente disponível 24 horas por dia.

O acidente ocorreu nas primeiras horas da manhã, em frente à estação de praticagem no fundeadouro de Fazendinha, perímetro em que a contratação dos serviços de praticagem já é obrigatória. O navio Eden Bay aguardava fundeado, após autorização da Capitania dos Portos para ancorar nesse local, para que o comandante pudesse atender ao chamado do Capitão dos Portos do Amapá para responder a um inquérito sobre outro acidente, um encalhe ocorrido três dias antes, quando navegava sem Práticos entre o Canal do Curuá e Fazendinha, área de praticagem facultativa. O navio Mazury, que seguia para o mesmo destino, e também navegava sem práticos, se preparava para fundear em Fazendinha onde aguardaria a visita de autoridades portuárias por se tratar de embarcação estrangeira, quando o acidente aconteceu.

A causa dos acidentes, tanto o encalhe, quanto a colisão, será apurada pelas autoridades, mas há a possibilidade de terem ocorrido pela falta de conhecimento das características  hidrográficas locais, considerando o horário da colisão, que coincidiu com a preamar, e o Mazury pode ter sido dominado pela corrente de enchente do Rio Amazonas e arremessado para cima do Eden Bay.

O Amapá, integrante da bacia hidrográfica da Amazônia, a maior zona de praticagem do mundo, é rota de grandes embarcações de diversas nações vindas do alto-mar rumo à foz do Amazonas. As particularidades desta zona de praticagem, entre o Canal do Curuá e a cidade de Itacoatiara, compreendendo também  os afluentes das duas margens do maior rio do mundo, torna necessário o serviço de práticos, que são profissionais habilitados para auxiliar o comandante nas manobras, dificultadas pelas condições geográficas inconstantes da região.

O acidente de hoje não teve vítimas fatais, mas segundo profissionais da área, poderia ser bem pior, causando inclusive danos ambientais com o vazamento de combustível e carga. “Os práticos são capacitados para conduzir os navios em segurança, têm conhecimentos profundos da geografia da região em que atuam, evitando acidentes, prejuízos ambientais e a perda de vidas humanas”, disse Adônis dos Santos, do Grupo BAP, empresa de praticagem que atua no Amapá.

“É possível que, se os navios estivessem sob a orientação de práticos, esses dois acidentes e outros poderiam ter sido evitados, pois investimos tempo em treinamento, estudo e equipamentos de ponta para estarmos familiarizados com as profundidades, o efeito das correntes, a dinâmica particular das embarcações típicas de cada lugar, e outras características da região, o que pode evitar encalhes, colisões, danos ambientais e, sobretudo, a perda de vidas. Graças a Deus não houve vítimas fatais nem danos ambientais, o prejuízo foi material e para a sociedade brasileira, que vai ter que esperar um pouco mais para receber o fertilizante, que impulsiona o agronegócio da região, e o trigo, matéria prima de muitos alimentos essenciais.”, disse Adonis dos Santos.

Mariléia Maciel

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