Programa oferece cursos a mulheres em situação de vulnerabilidade no DF

“A princípio eu procurei o curso por causa da bolsa. Mas depois que comecei me apaixonei. Nós, mulheres, ainda somos vítimas de inúmeras formas de preconceito. Triste saber que ainda permitimos ser abusadas e deslocadas de nossos sonhos”. Assim a aluna Ana Carla Rodrigues iniciou seu discurso como oradora de uma turma com 150 alunas no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.
A cerimônia marcou a formatura hoje (11) de turmas do Programa Mulheres Mil. Entre as qualificações estavam cuidadora de idosos, assistente administrativa, porteira e vigia, cuidadora infantil, camareira e organizadora de eventos. Os cursos foram ofertados em diversas cidades e regiões do Distrito Federal (DF), como Gama e Cruzeiro, no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).Em 2017, 600 mulheres passaram por atividades de formação do Pronatec Mulheres Mil na capital do país. No ano anterior, foram 250. Para 2018, a expectativa dos responsáveis pelo projeto é garantir que de cada cinco pessoas formadas pelo Pronatec, uma esteja inserida no Mulheres Mil. No primeiro semestre deste ano, o Pronatec disponibilizou um total de 5 mil vagas.

Público alvo

O foco do programa são mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência doméstica. No DF, a Secretaria de Educação informa à Secretaria de Desenvolvimento Social quantas vagas estão disponíveis e esta indica pessoas atendidas por projetos sociais como os Centros de Referência em Assistência Social e a Casa da Mulher.

“Os cursos trabalham não só a capacitação em diversas atividades profissionais mas também o empoderamento. Ressuscitar essa mulher, esse instinto dela para que ela se sinta capaz não só de trabalhar mas mudar a vida dela”, diz Flávia Rebelo, coordenadora do Pronatec DF.

Empoderamento

É o caso da oradora da turma, Ana Carla. Em um relato forte, ela contou como passou por diversas situações de preconceito e discriminação ao longo da vida. Já trabalhou como prostituta e relatou sofrer com o julgamento de pessoas próximas em razão dessa condição, além de ter vivenciado outras formas de opressão. Concluiu seu discurso exaltando a força das mulheres, sendo aplaudida de pé pelas formandas e por familiares.

“Eu, mãe, esposa e dona de casa, cuido da educação dos filhos, do orçamento doméstico e ainda tenho que estar linda pra receber meu marido. Se me nego começa a violência afetiva. Exerci o cargo de prostituta. Dizem que somos mulheres de vida fácil. Não há nada de fácil nisso. Seja qual for o porquê, luto pelos meus direitos. Somos fortes, somos guerreiras”.

Brasília - Cerimônia de formatura do Programa Pronatec Mil Mulheres. Mais de 150 mulheres em situação de vulnerabilidade concluíram cursos profissionalizantes (Valter Campanato/Agência Brasil)
Brasília – Cerimônia de formatura do Programa Pronatec Mil Mulheres. Mais de 150 mulheres em situação de vulnerabilidade concluíram cursos profissionalizantes Valter Campanato/Agência Brasil

Claudia Machado, que é professora de um dos cursos do Mulheres Mil, também falou durante a cerimônia destacando a importância das alunas tomarem as rédeas de seus destinos. Ela contou que, como é comum no Brasil, é filha de mãe doméstica, teve padrasto alcoólatra, saiu de casa aos 15 anos, quando teve seu primeiro filho, e sofreu violência doméstica. “Depois disso, me empoderei, voltei a estudar em 2010, finalizei meu primeiro curso e primeira faculdade. Fiz especialização e continuo ainda minha caminhada”, relatou.

Na avaliação de Sara dos Santos, uma das 150 formandas que recebeu seu diploma hoje, os cursos foram importantes para ampliar as perspectivas profissionais das alunas. Ela obteve o certificado de vigia e porteiro. “O curso foi bem suficiente, os professores foram bons, assim como o conteúdo. Escolhi participar porque apesar de ter profissões eu acho que abre um leque. Quero ter experiência neste mercado”, contou ela.

Mercado de trabalho

Após a conclusão dos cursos, uma demanda das participantes é a inserção no mercado de trabalho, em um cenário econômico em que o índice de desemprego chega a 12%. Segundo a coordenação do projeto, há atualmente diálogo com empresas para indicar pessoas formadas, no entanto, ainda não há ações formalizadas de mapeamento de postos de trabalho.

Os responsáveis pelo projeto informaram à Agência Brasil que recebem solicitações de indicação e que, frente a essas demandas, sugerem pessoas que passaram pelo projeto. Isso vem ocorrendo, por exemplo, com empresas de eventos, já que vários cursos lidam com atividades relacionadas a esse tipo de negócio.

Jonas Valente – Repórter Agência Brasil Edição: Denise Griesinger

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