Desenvolvimento de antibióticos potentes ainda é lento, alerta OMS

Enquanto isso, o número de mortes pela falta desses medicamentos não para de crescer. Só a tuberculose resistente mata 250 mil pessoas por ano

Embora microscópicas e unicelulares, bactérias são extremamente espertas. Seres vivos mais antigos a habitar o planeta, elas aprenderam, na história evolutiva, a contornar as ameaças à sua existência. Graças a essa propriedade de mutação genética, as espécies patógenas adquiriram resistência aos antibióticos. E se elas foram rápidas na ação – afinal, a penicilina foi descoberta há menos de 90 anos -, a ciência não está acompanhando esse ritmo. Em um relatório divulgado ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a pesquisa de novos medicamentos está atrasada, ao mesmo tempo em que o número de óbitos provocados por doenças transmitidas por bacilos e outros micróbios perigosos continua em alta.

O documento Antibacterial agents in clinical development — an analysis of the antibacterial clinical development pipeline, including Mycobacterium tuberculosis (Agentes antibacterianos em desenvolvimento clínico — uma análise do desenvolvimento clínico em andamento, incluindo Mycobacterium tuberculosis) aponta que apenas a tuberculose resistente a antibióticos mata 250 mil pessoas por ano. Ao mesmo tempo, de 51 drogas e combinações de medicamentos dessa classe em testes para tratamento de patógenos resistentes prioritários, somente oito são considerados pela OMS como verdadeiramente inovadores, com “potencial de adicionar valor ao arsenal atual”.

“A resistência antimicrobiana é uma emergência de saúde global que vai comprometer seriamente o progresso da medicina moderna”, avaliou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em um comunicado. “Há uma necessidade urgente de mais investimento em pesquisa para infecções resistentes a antibióticos, incluindo tuberculose, ou, de outra forma, seremos forçados a voltar a um tempo em que as pessoas temiam infecções comuns e arriscavam suas vidas durante pequenas cirurgias”, alertou.

O infectologista do Hospital Santa Lúcia Werciley Júnior, chefe da Comissão de Controle de Infecção do Grupo Santa, lembra que as duas últimas grandes novidades em antibióticos de largo espectro e para combate a bactérias gram-negativas ocorreram, respectivamente, em 1994 e 1998. Há dois anos, uma combinação de drogas preexistentes se mostrou eficaz para a temida KPC (Klebsiella pneumoniae Carbapenemase), popularmente chamada de superbactéria. Esse regime ainda não foi aprovado no Brasil.

Júnior explica que um conjunto de fatores contribui para que as bactérias alterem seus genes de forma a se tornar resistentes aos medicamentos. Os dois principais são o mau uso e o uso abusivo dessa classe de remédios. “Há até pouco tempo, se tomava antibiótico para tudo: gripe, resfriado, qualquer doença viral”, recorda. “E as pessoas têm essa mania de parar de tratar quando se sentem bem clinicamente. Não pode interromper o tratamento em um primeiro momento, é preciso um uso racional e coerente”, diz.

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