Seminário “As veias abertas da Volta Grande do Xingu” será realizado na próxima quinta (11), em Belém

A UFPA realizará o evento em desagravo ao impedimento do primeiro pela prefeitura de Senador José Porfírio, assim como em defesa da liberdade de pesquisa, expressão e autonomia universitária

 

Transcorridos 43 dias da interrupção do evento original, de forma autoritária por agentes da administração do município Senador José Porfírio (PA), o Seminário “As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu” será finalmente realizado nesta quinta-feira (11), às 15h, no auditório Benedito Nunes, da Universidade Federal do Pará (UFPA), no Campus Guamá, em Belém. A entrada é gratuita. O evento terá também exposição de fotografias e lançamento do Boletim Informativo dos Povos Tradicionais da região.

 

A programação conta com duas mesas-redondas para a discussão dos resultados de pesquisas sobre os efeitos sociais, ambientais e políticos de dois megaempreendimentos instalados na região do Rio Xingu, no estado Pará: a Usina Hidrelétrica Belo Monte e o Projeto Volta Grande da Mineração, empreendimento da mineradora canadense Belo Sun que se propõe a explorar ouro na região do Rio Xingu.  O reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, e a professora  Rosa Acevedo Marín, professora titular do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA, fazem a conferência de abertura.

 

A primeira mesa será sobre “Movimentos sociais, reivindicações de direitos e conflitos sociais face à instalação de megaempreendimentos de mineração no Pará” e a segunda sobre “Práticas de pesquisa e práticas jurídicas em situações de conflito social entre povos e comunidades tradicionais e empresas de mineração. Para finalizar, às 19h, será realizado um ato de resistência, com garimpeiros, música de tambor, mostra de vídeos. Os participantes podem solicitar certificado ao final do evento.

 

Pesquisa

Após o impedimento da realização do Seminário no dia 29 de novembro do ano passado, quando o prefeito de Senador José Porfírio adentrou a sala onde estavam os pesquisadores, um dos sentidos do evento em Belém é o de reiterar a ação de pesquisadores, estudantes e professores em consonância com princípios éticos, em defesa de linhas de trabalho independentes e socialmente comprometidas, assim como de autonomia intelectual.

 

“Dessa forma, conhecimento e informação tornam-se dinâmicos, como ferramentas para transformar, produzir críticas e defender posicionamentos contra o genocídio de povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, contra a destruição irreversível dos recursos naturais e a imposição de silêncios, isolamentos, regressões de direitos territoriais, étnicos, ambientais e de expressão”, diz a professora  Rosa Acevedo Marín.

 

Parte da pesquisa que ela coordena consistiu no mapeamento social orientado para o fortalecimento dos agentes locais. “Em inúmeras situações identificadas, ficaram evidentes os conflitos com empresas, segmentos do agronegócio, projetos governamentais (hidrelétricas, portos, estradas de ferro)”, relata.

 

“Os trabalhos realizados na região da Volta Grande do Xingu dialogam com práticas jurídicas, orientadas para a exigência de procedimentos adequados ao corpo legal e ao reconhecimento de direitos, que via de regra tem sido vilipendiados pelas empresas Norte Energia,  Mineração Belo Sun e as que lhe antecederam, como a Oca Mineração e a Verena Mineração, por exemplo”, explica a professora.

 

Ela conta que esses processos identitários e as mobilizações políticas de povos indígenas, de populações e comunidades tradicionais que reivindicam direitos territoriais, étnicos e ambientais têm sido temas de pesquisas e publicações do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, entre outros trabalhos capitaneados pela universidade.

 

“A pesquisa praticada insere-se e articula-se refletidamente com os agentes sociais e as mobilizações que protagonizam no Brasil. A programação desse Seminário incorpora como possibilidade plena o conhecimento dos povos e seu desejo de autonomia, respeito, dignidade”, aponta Rosa Acevedo.

 

O Seminário “Veias abertas da Volta Grande do Xingu” será realizado pela parceria entre a Universidade Federal do Pará, a Faculdade de Etnodiversidade/ Campus Altamira (UFPA), a Universidade do Estado do Amazonas, os Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia e Cartografia da Cartografia, o Grupo de Pesquisa Lab Ampe (UFPA), a Fundação Rosa Luxemburgo, Cooperativa Mista dos Garimpeiros da Ressaca, Gallo, Ouro Verde e Ilha da Fazenda (COOMGRIF), o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, com o apoio da Fundação Ford.

 

Histórico – Na tarde do dia 29 de novembro de 2017, o prefeito do município de Senador José Porfírio (PA), Dirceu Biancardi, coordenou a invasão a um seminário de pesquisa acadêmica na UFPA.  Na ocasião, um grupo de pesquisadores, professores, estudantes e integrantes de movimentos sociais foi duramente hostilizado e impedido, por mais de 30 minutos, de sair do auditório em que seria realizado o seminário “As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu”.

 

Para cercear o debate e forçar a abertura de uma sessão não programada e controlada por ele, o prefeito contou com o apoio de uma comitiva de mais de 30 pessoas, entre as quais se encontravam vereadores, funcionários públicos locais, garimpeiros, assentados, indígenas Juruna, comerciantes e moradores do município e moradores do município, aparentemente incitados à defesa do empreendimento Belo Sun, assim como a presença do deputado estadual Fernando Coimbra.

O evento consistia no segundo dia da programação promovida pela UFPA, em parceria com a Universidade do Estado do Pará, a Fundação Rosa Luxemburgo e o Movimento Xingu Vivo para Sempre. Não fosse a violenta interrupção, a agenda permitiria a discussão dos resultados de pesquisas e informações levantadas sobre o maior projeto de mineração de ouro a céu aberto do Brasil.

 

Serviço:

Seminário As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu

Data: 11.01.2018 (quinta-feira)

Hora: a partir das 15h
Local: Auditório Benedito Nunes (UFPA)

Entrada livre.

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