Elite mundial da pesquisa em reprodução de peixes está em Manaus e pode contribuir para a piscicultura local

Um observador leigo que chegar ao Tropical Hotel e assistir a uma das apresentações científicas do 11º Simpósio Internacional de Fisiologia Reprodutiva de Peixes pode até não assimilar bem os resultados das pesquisas apresentadas durante o evento. Mas a verdade é que a aplicação prática dessas pesquisas pode se refletir na qualidade, e até mesmo no preço, do peixe que chega à mesa de todos.

Afinal, as técnicas apresentadas por pós-doutores, doutores e mestres durante o simpósio são aplicadas em criatórios de peixes ao redor do mundo. E a atividade de criação de peixe em cativeiro para o consumo humano tem crescido cada vez mais no Amazonas nos últimos anos. “Hoje, grande parte dos peixes consumidos no mundo são cultivados, ou seja, são produzidos em tanques. Esse é o futuro da piscicultura e da aquicultura no mundo. Sabemos que no Amazonas essa é uma das prioridades”, lembra o pesquisador Luiz Renato França, organizador do evento e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

A importância da pesquisa para o sucesso da piscicultura como atividade econômica também é ressaltada por Renato França, que não esquece o fator tempo. “Quem cultiva salmão na Noruega, que é grande parte da economia de lá, está no ramo há 150 anos”, diz. “Aqui na região amazônica temos várias espécies de importância econômica muito grande como pirarucu, tambaqui, matrinxã, tucunaré e outras, que para chegar num nível de produção de alta qualidade e rentável, precisam de muitas pesquisas”, avalia.

De acordo com o cientista, áreas como fertilização, sobrevivência da larva, doenças, patologia e ração, por exemplo, têm avançado mundialmente por conta das pesquisas feitas justamente pelas maiores autoridades da área, que se encontram durante esta semana em Manaus, apresentando seus experimentos de ponta.

Organizador da última edição do simpósio, há quatro anos, em Portugal, o pesquisador Adelino Canário concorda com o colega brasileiro. “Em alguns países e em algumas pisciculturas, o processo já está muito avançado tecnologicamente. Na Amazônia, ainda é necessário começar do princípio. Alguém daqui que venha a assistir ao simpósio tem a oportunidade de receber ideias e conhecer tecnologias que podem, imediatamente ou com alguma adaptação, ser aplicadas à piscicultura da região”, opina o cientista português.

Participante local do simpósio, o pesquisador do Inpa Alexandre Homczarik ressalta que a parte fisiológica tratada pelos cientistas no evento está diretamente relacionada com o desempenho do peixe em cativeiro. “Se você não sabe como o peixe funciona, quais são os mecanismos, se não sabe aplicar a biotecnologia e todos os aspectos da reprodução, da nutrição e tudo o mais, a piscicultura fica prejudicada”, afirma.

Para Homczarik, pode-se agregar muito à piscicultura amazônica estudando as células reprodutivas das espécies locais, por exemplo. “A maior parte dos pesquisadores que estão aqui trazem exemplos de estudos com outras espécies, mas que podem muito bem ser replicados com as nossas espécies, justamente para poder favorecer a criação dos nossos peixes. Então, este evento tem muito a acrescentar para nós como exemplos que temos que copiar, aplicar e transformar para a área de produção local”, ensina.

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