Vírus oceânicos podem amenizar impactos das mudanças climáticas

Micro-organismos são imprescindíveis em mecanismos que mantêm a biodiversidade, mostra expedição internacional de cientistas. A captura de CO2 emitido na atmosfera é um dos processos-chave

Camilla Germano*

A bordo do veleiro Tara, um grupo internacional de cientistas pesquisou a diversidade ecológica de vírus nos oceanos. Apesar de pequenos, esses seres vivos desempenham grande papel nos ecossistemas marinhos e nas cadeias alimentares. Estão envolvidos em questões que vão desde a evolução das espécies até as mudanças climáticas, ajudando, por exemplo, a dar utilidade ao gás carbônico despejado pelos seres humanos. Segundo os participantes da expedição, o trabalho ajuda a demonstrar o quanto o planeta pode ser afetado pelas interações entre organismos microscópicos.

“Vírus são essas pequenas coisas que você nem consegue ver, mas, porque estão presentes em números tão grandes, realmente são importantes”, frisa Matthew Sullivan, o autor principal do estudo e microbiologista da Ohio State University, nos Estados Unidos. Segundo o cientista, nos oceanos, grande parte da biodiversidade — essencial para a manutenção de funções e serviços ecossistêmicos — está contida no reino microbiótico, que representam 60% de sua biomassa.

Uma das funções dos micróbios nos oceanos é produzir o oxigênio respirado pelos outros seres vivos. O oceano absorve ao menos 25% do dióxido de carbono emitido pelo homem, em um sistema controlado por micro-organismos. Altos níveis de CO2 na superfície acidificam os ecossistemas marinhos (Leia mais nesta página). Entretanto, se o dióxido de carbono é convertido em carbono orgânico e biomassa — mecanismo que ocorre com a ajuda de vírus marinhos —, suas partículas podem ser fragmentadas e afundam o carbono nos oceanos profundos.

“Os vírus encontrados na pequisa infectam micro-organismos importantes na fixação do dióxido de carbono atmosférico. Portanto, se o equilíbrio entre essas populações não se mantém, a fixação de CO2 nos oceanos pode diminuir, aumentando a quantidade de carbono atmosférico”, resume Fernando Melo, professor visitante no Instituto de Biologia e no Departamento de Fitopatologia da Universidade de Brasília (UnB).

A equipe também detectou que esses micro-organismos são responsáveis por impulsionar processos que reciclam constantemente elementos químicos na natureza. O chamado ciclo biogeoquímico envolve seres vivos (bio), ambiente terrestre (geo) e elementos químicos e acontece para garantir uma reciclagem dos elementos químicos e a disponibilidade deles na natureza. Por meio desse mecanismo, os elementos transitam pela atmosfera e entre os seres vivos e podem assegurar a manutenção da vida na Terra.

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