Exposição apresenta memórias de diálogo artístico no mercado Porto do Sal, em Belém

Elaine Arruda e mestre João Aires abrem exposição “Mastarel: Rotas Imaginais” na próxima quinta-feira (19), a partir das 18h30, no Espaço Cultural Banco da Amazônia

 

A partir do diálogo entre arte e cultura ribeirinha, a artista Elaine Arruda e o mestre de carpintaria naval João Aires inauguram a mostra “Mastarel: Rotas Imaginais” na próxima quinta-feira (19), às 18h30, no Espaço Cultural Banco da Amazônia, com curadoria de Vânia Leal. A entrada é  gratuita. A exposição reúne elementos da pesquisa visual e material no entorno do Mercado do Porto do Sal, localizado no bairro da Cidade Velha, na capital paraense. O nome da mostra é uma alusão ao conceito de uma “Amazônia Imaginal” descrita pelo autor Vicente Franz Cecim, que descreve esse estado entre o real e o imaginário.

A exposição terá fotografias, gravuras, desenhos, livro de artista, documentos e objetos que fazem parte da pesquisa de doutorado de Elaine, na Universidade de São Paulo (USP), e que contam a história do desenvolvimento da obra “Mastarel”, instalada em 2016 no topo do mercado, às margens da baía de Guajará tornando o local num barco imaginário; seu João é o único mestre em carpintaria naval da região do Porto do Sal,  um dos raros locais da cidade onde a prática da construção de barcos em madeira é exercida.

Quando instalada, há três anos, a ideia era lembrar a presença dos mastaréus (parte superior do mastro) nos barcos e o próprio território ribeirinho como uma referência ao passado de tradições que estão desaparecendo, deslocando simbolicamente a margem do rio para cima do mercado por meio da instalação artística. Desta vez, os artistas observam as narrativas e a poesia da obra, a partir da relação das pessoas que moram nas palafitas ao redor do mercado e que circulam e trabalham diariamente por lá – um desdobramento do sentido inicial da obra.

“Passamos a pensar o próprio mercado como um barco, a partir das entrevistas com os moradores. Uma das feirantes, a Arlete, que tem um restaurante em um box, me relatou que as pessoas chegam ao mercado e se referem à ele como um barco, perguntam quando o barco vai navegar. Ela responde que todos os dias. Foi a partir disso que começamos a pensar nesse espaço como pertencente à uma Amazônia do passado, entre o real e o imaginário”, comenta Elaine Arruda.

Para seu João Aires, que atuou como marceneiro durante 26 anos e é um dos únicos responsáveis pela manutenção dos barcos que atracam nos portos da Cidade Velha, a obra traz a lembrança de suas antigas demandas de trabalho. “O mastarel existia nos barcos e nas canoas, mas hoje os barcos se modificaram. Tudo mudou. Me sinto feliz que isso trouxe curiosidade nas pessoas, eu converso, explico. Fico emocionado em falar dessa obra que realizamos juntos”, comenta o mestre.

Mastarel

Em proposta de site specific (obras criadas para um determinado local e em diálogo com a sua história e pessoas), “Mastarel” foi o resultado de uma relação de pesquisa sobre a paisagem ribeirinha da Cidade Velha. Contemplada com o Prêmio de Pesquisa e Experimentação Artística 2016, da Fundação Cultural do Pará (FCP), a ideia era que a obra ficasse por 30 dias no topo do mercado, mas por conta de uma repercussão positiva junto à comunidade, o Iphan concedeu parecer favorável à permanência do mastro. Com isso, a estrutura recebeu iluminação de Lúcia Chedieck bem como restauros periódicos.

Sobre Elaine Arruda

Artista visual e doutora em Artes Visuais pela ECA-USP, com doutorado sanduíche na Université Paris 8. Em 2018, participou da exposição Brésil trois points, que ocorreu no Bateau Lavoir, em Paris. Ainda na França, a artista expôs na Biennale Internationale de la Gravure, na cidade de Sarcelles; e na mostra Gravures Contemporaines d’Artistes Français et Brésiliens, em Lyon. Na Holanda, expôs no Teatro Munganga e no Amsterdam House of Arts – integrando a coletiva Verbinding –  ambos em Amsterdã. Em Québec, Canadá, participou da exposição Estampe Amazonienne, no Centro Artístico Engramme. No Brasil, expôs no Salão Arte Pará 2017 e 2014; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo; Centro Cultural São Paulo; Goethe-Institut de Porto Alegre; SESC Boulevard, Belém; Atelier 397, São Paulo. Participou do Circuito das Artes 2014 – Projeto Triangulações, com itinerância pelos estados de Alagoas, Pará e Bahia. Fundadora do Coletivo Aparelho, atua como gestora cultural desenvolvendo projetos de arte e cidadania no Porto do Sal, centro histórico de Belém. Em sua trejatória, foi contemplada em diversos editais de financiamento às artes visuais. Os mais recentes são: III Concurso de Arte Impressa do Goethe-Institut Porto Alegre; Programa de Exposições 2018, do CCSP – Centro Cultural São Paulo; Prêmio de Experimentação, Pesquisa e Difusão Artística da FCP 2016; e Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 12° edição – 2015.

Sobre mestre João Aires

Nasceu em Santa Cruz do Arari (1958), município do estado do Pará, trabalha há 30 anos na região portuária de Belém, sendo atualmente responsável pela construção e manutenção dos barcos do Porto Vasconcelos. Morador do Porto do Sal, mestre João é colaborador do Coletivo Aparelho, que atua na região desenvolvendo ações de arte e cidadania. João é o único mestre em carpintaria naval da região do Porto do Sal – um dos raros locais da cidade onde a prática da construção de barcos em madeira é exercida –, tal é a importância desse mestre para a cultura paraense. Seu conhecimento é um patrimônio cultural e imaterial da região norte do país, o qual deve ser valorizado, preservado e incentivado.

Serviço

Exposição “Mastarel: Rotas Imaginais”, de Elaine Arruda e mestre João Aires, com curadoria de Vânia Leal

Quinta-feira (19/12/2019)

18h30

Centro Cultural Banco da Amazônia (Av. Pres. Vargas, 800 – Campina)

Entrada gratuita

Visitação: 20/12 a 30/01/2020, de 9h às 17h

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