Alunos e professores lamentam fechamento de escolas em São Paulo
A Escola Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, no Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade, está entre as que serão fechadas. A corretora de imóveis Tânia Bueno chorou ao falar sobre os problemas que a reorganização ocasionará na vida da filha Vitória, aluna da escola.
“Estou muito triste, porque estamos em um país em que não se tem ensino, não se tem nada, e agora vão tirar o pouco que temos. Não dá para a acreditar, minha filha ficou muito chateada”, afirmou a corretora. Tânia disse que a escola a ser fechada oferecia bom ensino e é bem localizada. Ela destacou que a filha teve, inclusive, oportunidade de estudar em escola particular, mas preferiu permanecer na atual.
O advogado Evandro José de Lima, de 94 anos, tem duas netas que estudam na mesma escola. Elas moram em um condomínio onde vivem 3 mil pessoas, a cerca de 50 metros da unidade de ensino. No condomínio, há muitas outras crianças matriculadas na Escola Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo. “É um absurdo, um país que está precisando de escola, de cultura, e vão fechar escola?”, reclamou.
Lima calcula que a outra escola mais próxima fica a pelo menos 2 quilômetros da que será fechada. “É muito longe, tem o problema da condução, da mudança de amizades. Tem aquele núcleo se perde”, lamentou o advogado.
Prejuízo para professores
A Escola Estadual Miss Browne, na região de Perdizes, também fechará. Segundo a professora Helena Teixeira, que leciona língua portuguesa há 17 anos nessa unidade, muitos docentes temem não conseguir preencher o horário da jornada de trabalho nas novas escolas. Com a redução do número de aulas, alguns professores poderão ter de lecionar em várias unidades para permanecer com salário igual.
“Vai ter superlotação das salas. Fizeram essa bagunça para melhorar a qualidade de ensino, mas não é nada mais que uma falácia. Tudo isso veio de cima para baixo, da noite para o dia, sem consulta ao corpo docente, à comunidade e aos alunos. Esse prejuízo, ou desgoverno, veio da noite para o dia, sem aviso prévio”, reclamou a professora.
A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, disse que o governo não poderá demitir professores efetivos, mas reduzirá custos diminuindo a jornada de trabalho. Em média, um professor com jornada de 40 horas semanais recebe R$ 2,4 mil por mês, valor que poderá cair par R$ 1,8 mil em caso de cortes na jornada, afirmou Maria Izabel. “Agora, pergunto: um professor consegue viver com um salário desses?”
Para Izabel, o maior impacto para os alunos será a superlotação nas salas de aula. A sindicalista disse que é contra a separação dos ciclos (anos iniciais e finais dos ensinos fundamental e médio) por acreditar na importância da integração entre alunos de diferentes idades.
Ontem (29), cerca de 20 mil professores se reuniram na Avenida Paulista para protestar contra a reorganização escolar.
Outro lado
Segundo o secretário estadual da Educação, Herman Voorwald , as mudanças são motivadas pela a queda de matrículas de novos alunos. Houve redução, entre 1998 e 2014, de 6 milhões para 3,8 milhões de estudantes. Além disso, um estudo mostrou que os alunos têm melhor desempenho nas unidades de ciclo único, disse ele.
Em nota, a Secretaria da Educação informa que consolidou o estudo de reorganização de sua rede de escolas, que prevê a criação de 754 unidades atendendo a apenas um ciclo de ensino e focadas em apenas uma faixa etária. Com isso, 94 escolas estaduais de São Paulo serão fechadas e destinadas a outras atividades educacionais. “Cabe destacar que a reorganização é um processo contínuo e duradouro, realizado com responsabilidade e transparência”, diz a nota.
A partir do ano que vem, 2.197 escolas em todo o estado (43% do total) passarão a funcionar no novo modelo. Serão abertas 2.956 classes, hoje ociosas, e haverá uma diminuição de 18% de escolas de dois segmentos, passando de 3.209 para 2.635, acrescenta a secretaria.
*Com informações da TV Brasil