Manobra ajuda a virar bebê dentro da barriga para aumentar a chance de um parto normal
A Versão Cefálica Externa é um procedimento realizado no hospital por obstetras qualificados e habilitados, e consiste em uma tentativa de girar o feto para posicioná-lo com a cabeça para baixo.No entanto, movimento é liberado apenas para algumas gestantes (leia na reportagem quais são os critérios).
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Num movimento cada dia mais intenso das mulheres em busca do parto natural e vaginal, algumas delas ainda enfrentam um obstáculo no decorrer da gravidez: o feto permanece na posição pélvica (sentado) ou deitado na transversal, em vez de estar com a cabeça para baixo (posição cefálica), o que dificultaria ou até poderia impedir a realização do parto normal.
Com o avanço da gestação e crescimento do feto, é bem difícil que ele gire sozinho para a posição correta – pode acontecer com o auxílio de alguns exercícios, pilates e até mesmo da acupuntura, mas nem sempre isso acontece. Segundo dados da literatura, cerca de 3 a 4% dos bebês continuam sentados no final da gravidez. Além disso, aproximadamente 0,5% ficam atravessados na barriga (com a cabeça para um lado e pé para o outro).
Apesar disso, o sonho do parto normal não precisa ser deixado de lado. Para as mulheres que querem muito ser mães sem recorrer a uma cesárea, existe uma opção chamada Versão Cefálica Externa (VCE), que é uma manobra realizada pelo médico obstetra na barriga da gestante, sem cortes, de maneira gentil, que tem como objetivo tentar girar o feto e colocá-lo na posição cefálica (de cabeça para baixo) e, assim, aumentar as chances de um parto vaginal.
Mas não é para todo mundo. Segundo a médica ginecologista e obstetra Rita Sanchez, coordenadora do setor de Medicina Fetal do Hospital Israelita Albert Einstein, a VCE é uma alternativa indicada para mulheres que estão com um pré-natal em dia, sem nenhuma intercorrência e sem nenhuma comorbidade, como hipertensão e diabetes, cujos bebês não viraram para a posição correta quando a gravidez atinge 36 semanas ou mais.
“Antes da realização da manobra, é necessário que a gestante faça um bom ultrassom para descartar que tenha uma ‘circular de cordão’, ou seja, que o cordão umbilical esteja enrolado no pescoço, ou braço ou perna do feto. Além disso, o bebê não pode ter restrição de crescimento, alterações de Doppler, nem nenhum outro problema que possa se tornar um risco para o bebê”, explica a médica.
O procedimento deve ser realizado após 35 semanas de gestação, sendo o período ideal entre a 36ª e a 37ª semanas da gravidez. “Isso porque o bebê não está tão grande a ponto de dificultar a manobra, e nem tão prematuro a ponto de que seja um problema caso seja preciso realizar o parto caso aconteça alguma complicação”, explicou Rômulo Negrini, coordenador-médico da Obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein, que já fez cerca de 15 a 20 manobras em grávidas que acompanhava.
A VCE nem sempre requer anestesia, pois isso depende da sensibilidade da gestante e da avaliação médica. A anestesia é recomendada nos casos em que a mãe não consegue suportar a dor durante a tentativa de aplicar a técnica. Nessas situações, a gestante é levada para o centro cirúrgico e recebe uma anestesia raquidiana, a mesma usada em cesáreas. Ela permanece acordada durante todo o procedimento.
Foi o que aconteceu com a dona de casa Aline da Silva Gama, de 30 anos. Ela planejou a gravidez e seguiu o pré-natal à risca, com o objetivo de fazer um parto normal. Mas Joana, a bebê, insistia em ficar na posição sentada. A partir da 22ª semana de gestação, Gama passou a ser acompanhada por uma enfermeira obstétrica e, juntas, iniciaram uma maratona de exercícios e técnicas caseiras na tentativa de fazer Joana virar de cabeça para baixo – todas sem sucesso.
“Tentamos de tudo e Joana não virava. Eu estava frustrada e desesperada, achando que teria que ir para uma cesárea de qualquer jeito. Mas o meu médico [doutor Rômulo] comentou a respeito dessa manobra. Na época, eu nem sabia que era possível. Fiquei um pouco receosa, com medo de dar errado, mas acabei aceitando e foi a melhor decisão possível”, conta Gama, ao lembrar que após ser anestesiada e o médico iniciar a manobra, Joana mudou de posição rapidamente. “Acho que não demorou nem cinco minutos, foi surpreendente”, disse.
Metade das grávidas conseguem
Segundo Negrini, a literatura aponta que o procedimento é bem-sucedido em 35% a 86% das vezes (sendo a média de 58%), portanto a gestante precisa estar ciente de que existe a chance de insucesso.
“Além disso, mesmo que a manobra seja inicialmente bem-sucedida, não há garantia de que o bebê permanecerá com a cabeça para baixo (cefálico) até o final da gravidez. Mais que isso, mesmo que o procedimento dê certo e o bebê esteja de cabeça para baixo no momento do nascimento, as chances de parto vaginal são de cerca de 80%”, frisou o médico.
Importante destacar também que a versão cefálica externa não é livre de riscos e um deles é justamente a necessidade de fazer uma cesariana de emergência (é um risco baixo, mas ele existe). Outros riscos incluem mudanças transitórias no ritmo de batimento do coração do bebê; sangramento vaginal; descolamento da placenta; prolapso do cordão umbilical e até mesmo óbito do bebê.
“Algumas complicações geram cesariana de emergência, mas as complicações são bastante raras. O benefício associado à manobra é apenas a possibilidade de um parto normal com menos riscos associados”, disse Negrini.
A mulher que deseja um parto normal e descobre que o bebê está sentado deve procurar um especialista na técnica porque nem todos os obstetras possuem treinamento para a realização dessa manobra. Em geral, aqueles obstetras que não se sentem capacitados para fazê-la devem encaminhar a paciente para outros profissionais habilitados. “O mais importante é entender os riscos e os benefícios envolvidos na manobra e tomar uma decisão consciente”, finalizou Negrini.
Fonte: Agência Einstein