Dom Pedro Conti: O entregador de pizza
Uma empresa entendeu que estava no momento de mudar o estilo de gestão e contratou um novo gerente-geral. Logo no primeiro dia, ele fez uma inspeção na empresa toda, acompanhado pelos principais dirigentes. Quando chegou no armazém viu que todos trabalhavam, menos um rapaz. O jovem estava, tranquilamente, encostado numa parede com as mãos nos bolsos.
– Isso é intolerável; aqui precisa algo exemplar para mudar as coisas – pensou consigo mesmo o novo gerente. Em voz bem alta, perguntou ao rapaz:
– Quanto você ganha por mês?
– Em média trezentos reais – respondeu o jovem.
O gerente tirou trezentos reais do bolso e gritou:
– Toma o teu dinheiro e some daqui. E nunca mais apareça, seu inútil!
O rapaz guardou o dinheiro e saiu como lhe foi ordenado. O gerente, todo orgulhoso, disse:
– Alguém sabe o que este rapaz estava fazendo aqui?
– Sim, senhor – responderam os operários – ainda sem acreditar no que tinham visto – Ele tinha acabado de entregar uma pizza. Ou seja, não tinha nada a ver com a empresa!
Coloquei esta historinha para dizer que Jesus, quando expulsa os vendilhões do Templo de Jerusalém não é, e nem quer ser, um modelo de novo “gerente” com ideias novas, intolerante com a situação. Jesus está preocupado com o Templo e o lucrativo comércio ao seu redor, mas está nos ensinando muito mais do que isso. Como sempre, o evangelista João quer nos ajudar a entender qual é a verdadeira novidade que Jesus nos trouxe. No trecho anterior, o das Bo das de Caná, o evangelista já nos deu a entender que o antigo passou. A água das talhas para as purificações rituais dos judeus foi transformada em vinho novo, melhor do que o velho. O mesmo podemos dizer do gesto do Templo, o maior símbolo da fé dos judeus. O Templo era o sinal, visível e grandioso, da presença de Deus no meio do seu povo. Uma referência majestosa. Devia ser o centro irradiador da fé judaica. A partir de agora, porém, a presença de Deus, não dependerá mais das pedras bonitas do Templo, mas de uma pessoa: Jesus. As diferenças são muitas.
Vamos lembrar ao menos duas. Jesus é a Palavra viva, fala com sua vida. Antes a Lei estava escrita em tábuas de pedra; algo, simbolicamente, firme, seguro, indestrutível. Na prática, tinha-se tornado um peso a carregar, um conjunto de normas que acabavam dividindo o povo em observantes – abençoados – e não observantes – amaldiçoados. A obediência rigorosa da Lei condenava as pessoas pelas suas faltas. Deus tinha se tornado um juiz implacável. Jesus pratica a única verd adeira lei de Deus: o mandamento do amor a Deus e ao próximo. Ele perdoa, abraça, cura, muito além de qualquer Lei, incluindo aquela suprema do dia de sábado. Jesus se manifesta livre para fazer o bem a todos, a começar pelos doentes e pecadores.
Uma segunda novidade é, evidentemente, a que o amor deve ser vivido e praticado na vida cotidiana, fora do Templo, no meio do povo. A religião e as práticas religiosas devem conduzir a uma nova convivência fraterna, a uma sociedade justa e solidária. Por isso, também na catequese do evangelista João, Jesus insiste no “corpo” dele. Este “corpo” é a vida real, concreta, do dia a dia. O “corpo” é mortal, pode ser destruído, mas a vida n ova, o amor praticado, já é “ressurreição”, é o homem novo, resgatado do pecado e da morte, que age de uma forma nova. É a vida plena, verdadeira, já presente na história conturbada do mundo, com Jesus e os seus seguidores. O gesto dele com aqueles vendedores não foi de violência, mas de indignação. Saber indignar-se não significa condenar, mas dar voz e vez a valores esquecidos ou, infelizmente, desprezados. Ritos perfeitos eram cumpridos, mas os corações deles estavam muito longe de Deus. Hoje, também, não basta rezar. Quem não sabe mais se indignar com a corrupção, as mentiras e as falcatruas, acaba, com a sua indiferença, compactuando com as mazelas do mal que excluem os pobres e enaltecem os espertalhões da vez. No fundo, a ação de Jesus é uma nova “gestão” da humanida de. A “gestão” do amor e não mais do lucro.