Projeto de extensão “Vivências Negras” lança livro de memórias e pesquisas sobre a Favela

O antigo “bairro” Favela, hoje centro de Macapá, é o local das investigações e depoimentos contidos na publicação. Lançamento será na próxima sexta-feira, 22. na quadra da Escola de Samba Maracatu da Favela, em Macapá (AP).

“Favela” nunca chegou a ser, de fato, registrado como um bairro de Macapá, mas habita as memórias e tradições das pessoas negras que identificavam aquele núcleo populacional localizado no centro da cidade de Macapá (AP) com esse nome. A história e manifestações culturais da comunidade negra que vivia e vive no local são temas do livro “Os caminhos que levam à Favela”, produto editorial resultado do projeto de extensão “Vivências Negras”, vinculado ao curso de História da Universidade Federal do Amapá (Unifap). O lançamento do livro ocorrerá no dia 22 de dezembro, às 17h, na quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Maracatu da Favela, em Macapá (AP).

De acordo com a coordenadora do Vivências Negras e autora do livro, Profa. Ms. Mariana Gonçalves, o livro é resultado de atividades de pesquisas realizadas pela docente com as turmas do curso de História de 2015.1 e 2015.2. A publicação também traz memórias autobiográficas e artigos de pessoas convidadas que escreveram sobre práticas culturais de negros e negras no Amapá a partir de dois de seus maiores símbolos no presente: os Marabaixos e a Escola de Samba da Favela.

“O antigo ‘bairro’ da Favela é o epicentro das investigações realizadas e envolve pessoas, lugares e acontecimentos que demonstram uma historicidade de luta contra o apagamento de suas gentes dessa espacialidade, hoje o centro da cidade. A Favela como um lugar de acontecimentos, vivências, pessoas e personalidades marca a história recente e a vida cotidiana da cidade de Macapá. A Favela que aparece no livro nunca se configurou como um bairro; não tem registros municipais, não aparece nos guias de endereçamento postal e não consta em cadastro de Companhias de Energia Elétrica ou de Água e Esgoto. Mesmo com esta invisibilidade diante dos órgãos públicos, a Favela é viva na memória, na história e nas tradições culturais de cidade de Macapá”, explica a Profa. Ms. Mariana Gonçalves.

A programação do lançamento contará com a Feira de Artesanato, presença de Grupos como o Berço do Marabaixo da Favela, a Associação Zeca e Bibi Costa e o Grupo Raízes da Favela Dica Congo e da Escola de Samba Maracatu da Favela.

Tradição e memórias
A estrutura do livro conta com uma Introdução que traz uma narrativa sobre os caminhos percorridos pelas atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária desenvolvidos pela autora da publicação, com um olhar para uma história oficial que apaga e silencia a contribuição de grupos negros na formatação da sociedade local e outro para uma historiografia capaz de demonstrar como essas populações têm história, memórias, valores, raízes e dados para a construção história de Macapá para muito além da instalação do Território Federal, segundo a Profa. Ms. Mariana Gonçalves.

O primeiro capítulo é composto de 17 matérias realizadas por discentes da Licenciatura em História, entre 2017 e 2018, com memórias e relatos de vida de negros e negras que viveram ou vivem no espaço conhecido como Favela. Os Marabaixos da Favela, a Escola de Samba, o Glicério Marques, o futebol de Oratório e Cristal também integram essas memórias e relatos. O segundo capítulo traz cinco memórias autobiográficas de pessoas convidadas pela autora para relatarem suas vivências na Favela.

O terceiro capítulo é um artigo apresentado em um Encontro Acadêmico de Antropologia, no qual a autora do livro defende a proposta da Favela enquanto um Território Negro em Macapá. O quarto capítulo também é um artigo apresentado no II Congresso do Carnaval, por ocasião dos 50 anos de Carta do Samba, redigida por Édson Carneiro, no qual a docente afirma que as Escolas de Samba em Macapá promovem um inventário do patrimônio cultural amapaense.

Sobre a autora
Mariana Gonçalves é mestre em História pela Universidade Estadual de Campinas (2001) e docente do Curso de Licenciatura em História da Unifap. Ministra as disciplinas “Histórias e Culturas Africana” e “Histórias e Culturas Afro-brasileiras”. As experiências profissionais envolvem as populações negras no Amapá e atua na implementação de uma educação das relações étnicorraciais, mobilizando uma rede de estudo e pesquisa composta por entidades, grupos e movimentos socioculturais que discutem identidades, diferenças, memórias, festas, patrimônios e religiões Afro-ameríndias. Por mais de doze anos foi carnavalesca da Escola de Samba Maracatu da Favela, com vários enredos campeões no desfile das Escolas de Samba. É afrorreligiosa – Mariana de Omulu – e Ekedjy Ny Ogum, do Ylê de Ogum do sacerdote Antônio Carlos Tojá Lonàá.

Sobre o Vivências Negras
O projeto de extensão “Vivências Negras” surgiu a partir das necessidades e experiências advindas das disciplinas “História e Culturas Africanas” e “História e Culturas Afro-brasileiras”, ministradas pela Profa. Ms. Mariana Gonçalves.

“Ele é executado a partir das questões levantadas nas disciplinas e se destina a cobrir o mundo negro que existe e é bem vasto, diversificado. Assim, os discentes desenvolvem algumas ações de irem ao mundo social, de contactarem com esse mundo negro e perceberem que até são negros mas, até então, não tinham parado para pensar essas suas raízes identitárias”, explica a coordenadora do projeto.

As disciplinas e o projeto de extensão visam alcançar o público mais amplo, mas principalmente os professores do curso de Licenciatura em História. A coordenadora do projeto ressalta a intenção de transformar, a partir dos professores de História da educação básica, a realidade da escola atual, contribuindo na buscar soluções para problemáticas existentes, a exemplo do racismo estrutural e da ausência de disciplinas escolares como História de Amapá e Geografia.

Além do livro, o “Vivências Negras” lançou, em novembro, um vídeo documentário sobre a Educação das Relações Étnicorraciais e o jornal Mundo Negro, realizado entre 2020 e 2022. Os dois produtos comunicacionais podem ser acessados no link https://drive.google.com/drive/folders/1NDnG45lb87ioTyxSu03e5iNAB30jEV3Y.

Serviço
Lançamento do livro “Os caminhos que levam à Favela”, do projeto de extensão Vivências Negras.
Dia 22 de dezembro de 2023, às 17h, na quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Maracatu da Favela (Rua Padre Júlio Maria Lombard, bairro Santa Rita, Macapá-AP).

O que você pensa sobre este artigo?

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.