Exposição no IMS Paulista celebra 50 anos de carreira do fotógrafo paraense Luiz Braga,com obras inéditas
A mostra, que abre no dia 12 de abril, ocupará dois andares do centro cultural, com cerca de 250 fotografias produzidas ao longo da trajetória de Braga, da década de 1970 até a atualidade, sendo 190 inéditas. A seleção evidencia os principais temas presentes na produção do fotógrafo, como a conexão com o seu território de origem e a perspectiva intimista diante dos ambientes e personagens retratados.
Em 50 anos de carreira, o fotógrafo paraense Luiz Braga (1956) construiu um vasto arquivo composto, sobretudo, por fotografias de paisagens, indivíduos, costumes e tradições do território paraense, feitos a partir de momentos de troca e convivência. “Desde que tenho 18 anos, guardo as fotos que produzo. O arquivo é um espelho de tudo o que fiz em todo esse tempo“, afirma o fotógrafo. Resultado de um processo de imersão nesse material, a exposição Arquipélago imaginário abre no dia 12 de abril (sábado) no IMS Paulista.
Com curadoria de Bitu Cassundé e assistência de Maria Luiza Meneses, a mostra ocupa dois andares do centro cultural e reúne 258 fotografias. Desse conjunto, 190 nunca foram exibidas, incluindo desde fotos feitas na década de 1970, no início da carreira de Braga, até imagens recentes, tiradas em 2024. No dia da abertura (12/4), às 11h, Braga e a equipe de curadoria participam de uma conversa com o público sobre a exposição. O evento é gratuito, com distribuição de senhas 1 hora antes.
Nascido em 1956, em Belém (PA), Luiz Braga iniciou sua trajetória como fotógrafo na década de 1970, atuando primeiramente na área de publicidade e, posteriormente, trabalhando como fotógrafo autônomo. Em paralelo, cursou arquitetura na Universidade Federal do Pará (UFPA). Em 1979, realizou sua primeira exposição individual e, a partir de então, passou a colaborar e expor em diversas instituições.
A exposição no IMS é dividida em nove núcleos, evidenciando temas e elementos presentes na obra de Luiz Braga. Nas primeiras seções, são apresentadas imagens em preto e branco, feitas principalmente no início de sua carreira. Nos núcleos seguintes, as fotos coloridas, faceta mais conhecida da produção do artista, tornam-se mais presentes, com destaque para imagens feitas nos últimos anos na ilha do Marajó, local de investigação do fotógrafo nos últimos 20 anos.
Nos primeiros núcleos da exposição, a curadoria reforça a importância do vínculo do fotógrafo com os locais que registra e as pessoas que o habitam. São exibidas imagens feitas na tradicional procissão do Círio de Nazaré, cenas do cotidiano ribeirinho, da arquitetura das casas de palafitas, tradicional em Belém e arredores, ou ainda uma fotografia de uma mulher que caminha pela rodovia Transamazônica, feita em 1996. O artista comenta seu processo de trabalho: “Tenho como metodologia visitar inúmeras vezes os locais onde fotografo, o que faz com que me torne conhecido e possa, conhecendo, respeitar os códigos, o ritmo e os costumes do lugar.“
Outra característica central em sua obra, evidenciada na exposição, são as cenas do interior de residências e estabelecimentos, numa perspectiva intimista que mostra os detalhes e objetos presentes nos lares e comércios. Cortinas, relógios, vasos de flores, banquinhos e ventiladores ocupam as imagens, remetendo a memórias, afetos e vestígios do tempo. O universo do trabalho também é um tema recorrente, com imagens de profissionais atuando no espaço público, como cabeleireiros, alfaiates, pescadores e açougueiros. Nas fotografias, as pessoas são documentadas nos seus espaços de trabalho, geralmente em ação.
Entre as séries apresentadas, está ainda Nightvision − Mapa do Éden, iniciada em 2006, durante a transição da técnica analógica para digital. Braga começou a investigar a funcionalidade de fotografia noturna de sua câmera, inicialmente em contextos de baixa iluminação, seguindo para o uso à luz do dia. Como resultado, obteve imagens em tons prata-esverdeados que ampliaram a pesquisa cromática. A série elabora uma visualidade fantástica sobre a Amazônia, entre o verde militar e as nuances de sombras, na qual a ficção das cores abre espaço para a inventividade narrativa, em imagens oníricas e surrealistas que se contrapõem aos estereótipos geralmente associados à região.
Também são destaque os núcleos Retrato e Antirretrato. No primeiro, a curadoria ressalta como os retratos produzidos por Braga diferem do formato clássico, marcado pelo fundo neutro. Em suas imagens, os ambientes e objetos em torno dos indivíduos são centrais para compor a cena. Roupas, bolas de futebol, barcos e bares são protagonistas junto aos personagens. Já a seção Antirretrato reúne fotografias em que os indivíduos aparecem geralmente de costas ou de lado, enquanto contemplam o horizonte ou caminham imersos em seu cotidiano.
A mostra encerra com a série de imagens da ilha do Marajó (PA), único núcleo com todas as fotos coloridas e o maior da exposição. Território de histórias e ancestralidade, imerso nos saberes indígenas que regem a culinária e a língua, a ilha tem sido o local de investigação do fotógrafo nos últimos anos, com ênfase na forma, na luz equatorial e na cor do arquipélago. A partir do Marajó, Braga sistematiza uma prática assídua no seu trabalho, focada na escuta e na oralidade, interessada nas histórias das pessoas e dos saberes populares, que passam a ser protagonistas.
Ao visitar a seleção, o público também encontra uma cronobiografia, que reconstitui a trajetória de Braga e identifica elementos centrais da construção de sua obra, como afirma a curadoria: “A produção de Luiz Braga opera numa instância da convivência com os lugares, mergulho na dimensão do alheio e numa prática que aciona o afeto como gesto principal. O encontro desses fatores, somados a um fotógrafo que escolhe não apenas permanecer em sua terra natal, mas também a elege como terreno de aprendizado, partilha de vida e investigação, entregam ao mundo uma obra incontornável tanto para a construção de um imaginário sobre a região quanto para a consolidação da história da fotografia paraense e brasileira.”
Em cartaz até 31 de agosto, a mostra conta com recursos de acessibilidade, como pranchas táteis e audiodescrição, além de uma programação pública, que será anunciada em breve. Na exposição, os visitantes poderão se aproximar do universo poético e dos lugares e personagens que habitam a produção de Luiz Braga, como afirma em suas próprias palavras: “Esta mostra é uma grande cartografia de vidas, mas, antes de tudo, é uma homenagem à fotografia. É através dela que vejo o invisível, escuto o outro e a mim mesmo, e abraço a vida com os olhos. […] A exposição celebra as centenas de vidas que cruzaram a minha, os lugares acolhedores, os saberes do povo, a espiritualidade e a alegria que são até hoje inspiração inesgotável.”
Serviço
Luiz Braga – Arquipélago imaginário
Abertura: 12 de abril (sábado)
Visitação: até 31 de agosto
7 e 8º andar do IMS Paulista | Entrada gratuita
Conversa com Luiz Braga, Bitu Cassundé e Maria Luiza Meneses
12 de abril, às 11h
Cinema do IMS Paulista
Entrada gratuita, com distribuição de senhas a partir das 14h. Limite de 1 senha por pessoa.
IMS Paulista | Avenida Paulista, 2424, São Paulo. Tel.: 11 2842-9120.
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
Informações para a imprensa:
Mariana Tessitore