Movimentos sociais encontram na internet o caminho para mobilizar militantes
Para fazer um balanço dos movimentos sociais em 2015, foram convidados para o programa a filósofa, feminista e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Djamila Ribeiro; o filósofo e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, Alessandro da Silva; e o militante do Movimento Juntos, doutorando em sociologia, Thiago Aguiar.
Djamila Ribeiro fala sobre como o feminismo negro se apropria da internet para instrumentalizar a militância. “A mídia hegemônica nos invisibiliza [as mulheres negras]. E na internet a gente encontrou um espaço pra existir”, afirma.
Djamila afirma que o próprio racismo cria uma hierarquia de gênero, na qual a mulher negra é posta em uma posição inferiorizada.
“O movimento feminista, de certa forma, acaba privilegiando a mulher branca. E o movimento negro tem um olhar extremamente masculino. Então a mulher negra fica no limbo. As feministas negras surgem para fazer essa crítica também a esses movimentos e perceber que nós, mulheres e negras, não podemos escolher contra qual opressão lutar”.
Entre as dificuldades que os movimentos sociais têm de se articular de maneira eficiente o professor Alessandro Soares da Silva cita a organização das pautas. “As pessoas sempre partem daquilo que diz respeito a elas. Há uma dificuldade em se construir uma noção de nós, de coletivo. É uma relação de poder. Para que haja igualdade, alguém tem que abrir mão de alguma parcela de poder e, além disso, tem que reconhecer o outro”.
Thiago Aguiar defende que os movimentos sociais têm importante papel em um momento de crise, no qual a população parece estar, cada vez mais, dissociada da representação política.
“A corrupção mostra que o Estado é organizado para atender determinados interesses. Acho que o que a gente precisa é recuperar a necessidade de defender o aprofundamento da democracia e ter uma saída de conjunto. O povo é que tem que decidir o que acontece no nosso país”.
Thiago lembra a força das mobilizações sociais, e cita a ocupação das escolas em São Paulo.
Ele afirma que, em um primeiro momento, o governo do estado tentou desqualificar o movimento. No entanto, ao perceber que se tratava de uma demanda justa, muitas pessoas começaram a se mobilizar. “Era evidente o descaso com a qualidade da educação. Então a mobilização venceu”.
O professor Alessandro avalia que um dos problemas do Brasil é que, normalmente, quem pensa as políticas públicas são os “especialistas”. No entanto, como garantir que os especialistas sabem o que a população, objeto da política pública, quer?
O programa Brasilianas.org é exibido semanalmente e traz debates sobre temas importantes como infraestrutura, saúde, educação, habitação, tecnologia, artes, política, entre outros.