A formiga no barril
Um sábio eremita acolhia na sua escola todos os jovens, generosos e cheios de ideais, que desejavam aprender a verdadeira sabedoria. Para testar a personalidade deles, tinha encontrado um jeito bem curioso. Na frente da porta do quarto, onde cada aluno ficava hospedado, colocava um barril de água da chuva e nele deixava cair uma formiga.
Certo dia, chegaram três alunos. O primeiro olhou no barril e viu a formiga. Disse a ela:
– O que está fazendo no meu barril de água da chuva? Fora daqui! – E a esmagou. “Este é um egoísta”, pensou o mestre.
Em seguida chegou o segundo, olhou, viu a formiga e disse:
– Sabe, hoje está muito quente também para as formigas. Não está me prejudicando em nada. Fique onde está. “Este é tolerante, sentenciou o mestre.
Por fim, chegou o terceiro aluno. Nem ficou chateado e nem agiu com tolerância. Viu a formiga na água e, alegremente, deu-lhe um pouco de açúcar. “Este conhece o amor”, concluiu o mestre.
Evidentemente nós não somos formigas e nem nadamos num barril de água, no entanto, muitas vezes, precisamos de ajuda e ficamos gratos a quem nos socorre. Seria muita arrogância achar que nunca vamos precisar dos outros. Também seria muito triste pensar que não temos nada para dar e, por isso, não podemos ajudar a ninguém. Todos, um dia, vamos precisar de uma mão amiga e, por nossa vez, é muito bom aprender, desde criança, a estendê-la a quem pede auxílio.
Nos seus diálogos noturnos com Nicodemos, Jesus explica muitas coisas sobre ele mesmo e a missão que o Pai lhe confiou. Esta é a maneira que o evangelista João encontrou para nos ajudar a entender algo que, a princípio, estaria fora do nosso alcance. Com efeito, bem pouco sabemos sobre Deus. O que as religiões, os sábios e filósofos sempre fizeram foi imaginar Deus muito mais poderoso do que qualquer ser humano. Até chegar a pensá-lo absolutamente perfeito. Quem sabe tudo e pode tudo, evidentemente, não precisa de nada. Por que, então, Deus deveria interessar-se pela humanidade?
Muitos ainda pensam assim. Consideram o ser humano tão ingrato e malvado que não merece tal interesse. Outros entendem que se Deus tivesse mesmo algo a ver conosco já deveria ter resolvido, de uma vez por todas, os nossos problemas de sofrimento e de morte. No entanto, nas palavras de Jesus do evangelho deste quarto domingo de Quaresma, tomamos conhecimento de que Deus não se interessa pelos homens porque o mereçam e nem passa por cima da nossa liberdade e responsabilidade, acabando com o mal sem a nossa vontade e participação. Ele também não quer nos amedrontar e esmagar com o seu poder.
Com Jesus, Deus prefere partilhar a nossa vida e a nossa morte. Faz-se criança e nasce “de mulher”. Aceita os limites do tempo e do espaço. Sem ter feito alguma coisa errada, escolhe estar do lado dos condenados. Crucificado, sofre até morrer; derrama seu sangue perdoando seus algozes. Tudo por amor, sem condições, sem preferências para uns ou para outros, sem pedir nada em troca, por pura generosidade. Ele quer nos tirar do abismo do mal, passando pelo caminho do perdão, da paz e da comunhão. Deus Pai enviou o seu Filho por amor e este não veio para julgar e condenar, mas para dar vida nova a quem a tinha perdido. Esta é a salvação! Quem crê e confia no Deus de Jesus começa a fazer parte desta vida plena que é a própria vida divina. Acolher Jesus é como encontrar a luz que permite discernir – julgar – o caminho do bem e da verdade. O contrário é escolher a escuridão, fugir e se esconder da luz para que não seja desmascarado o mal praticado.
Nunca é tarde para levantar a cabeça e olhar para Jesus, crucificado por amor, levantado na cruz para reerguer os caídos, morto para dar vida aos mortais. Tudo é puro dom de Deus (cf. Ef 2,8). Se, quando estamos na dificuldade, aceitamos a ajuda dos homens, por que ainda não confiamos sem reservas no amor de Deus? A formiguinha, que somos todos nós, não é nem esmagada e nem tolerada: é amada. A caro preço.