Santo Antônio e os peixes
Certo dia, o bom Deus querendo provar a grande santidade do seu fiel franciscano e dar uma bela lição aos cidadãos de Rimini, indiferentes à pregação de Antônio, o enviou à beira do mar e lá ele, por divina inspiração, começou a ensinar aos peixes. “Escutai a Palavra de Deus, vós, peixes do mar, já que os infiéis e os heréticos desta cidade a desprezam! ”. Logo que Antônio começou a falar, aproximou-se da beira do mar uma grande multidão de peixes, desde as pequenas anchovas até os grandes atuns. Nunca se tinha visto, em todo o mar Adriático, tanta fartura. Todos eles olhavam para o pregador, nada espantados, mansos e atentos às palavras do santo. Ele falou das grandes obras do Criador e de como os peixes tinham sido escolhidos para morar em meio das águas. Por fim, lembrou que eles também tinham colaborado generosamente com Jesus no dia da grande multiplicação dos pães e dos peixes.
Ao ouvir essas palavras todos aqueles seres, habitantes das águas, inclinaram a cabeça em sinal de devoção e começaram a dar pulos de alegria em louvor a Deus. Quanto mais Antônio falava, mais crescia aquela multidão de peixes que parecia não querer se afastar nunca mais daquele lugar. Alguns pescadores viram todo o acontecido e espalharam, rapidamente, a notícia do milagre. Assim os moradores da cidade acorreram arrependidos e, Santo Antônio, depois de despedir os peixes, pôde anunciar-lhes a Boa Nova de Jesus.
Apesar das festas juninas terem passado, esta página da vida milagrosa de Santo Antônio, que ficou entre as “Florinhas de São Francisco”, pode nos ajudar a entender a “falta de fé” dos moradores de Nazaré e, também, a nossa dificuldade a nos abrirmos ao anúncio do Evangelho. A Palavra de Deus deste domingo nos diz que Jesus ensinava na sinagoga daquela cidade, mas os ouvintes ficavam “escandalizados”, porque não conseguiam entender de onde lhe vinha tamanha sabedoria e a força dos gestos novos que ele fazia. O fato de conhecê-lo, desde a infância, tornou-se uma desculpa para a recusa da sua mensagem. “Um profeta – diz Jesus – só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. Ele também ficou decepcionado com a atitude deles; com certeza esperava mais.
Um dos assuntos que sempre animam as nossas Comunidades é o da evangelização. Quem participa e está feliz com a própria fé, gostaria muito de poder comunicar esta alegria aos demais irmãos e irmãs que encontra nos caminhos da vida. No entanto, a resposta, muitas vezes, é a indiferença, a crítica, se não o desprezo. Surge, portanto, a pergunta: Jesus e a sua mensagem não são uma boa notícia para os nossos contemporâneos? É culpa da mensagem ou os mensageiros são incapazes de transmitir a beleza do anúncio? Saber que Jesus foi acolhido por alguns e rejeitados por outros – incluindo as autoridades, os mestres da Lei e muitos religiosos daquele tempo – nos faz entender que nunca será fácil aceitar a novidade do Evangelho.
Jesus anunciava um Deus Pai misericordioso, pronto a abraçar e perdoar quem estivesse disposto a renovar a sua vida. Assim ele foi uma boa notícia para os pobres, os pecadores, tantos e tantas que buscavam a Deus, mas não se encaixavam na pureza da Lei ou numa visão seletiva do amor divino.
Com isso é fácil entender que também as atitudes dos mensageiros – que somos todos nós batizados – são decisivas para a acolhida da mensagem de Jesus. Ensinava Paulo VI quarenta anos atrás: “O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres ou então se escuta os mestres é porque são testemunhas” (cf. EN 41). Papa Francisco repete: não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização! (EG 83).
Se precisar de uma nova pregação para os peixes, o Rio Amazonas está bem aí, na esquina, mas se for o povo a dar ouvido ao Evangelho de Jesus, melhor.