Amazônia abriga cerca de mil espécies de formigas, segundo Guia
As mais conhecidas são tucandeira, de fogo, louca, formigão, carpinteira, de correição e cortadeira
MANAUS – O Brasil tem a maior diversidade de gêneros de formigas, com 31% reconhecidos no mundo, e possui a segunda maior diversidade de espécies de formigas do planeta. Com exceção dos círculos polares, as formigas estão presentes em todos os ambientes terrestres, geralmente, em número considerável. É difícil estimar o número preciso de espécies, mas acredita-se que existam pelo menos mil espécies de formigas já catalogadas pela ciência na Amazônia.
Para reunir as informações do animal, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), por meio do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio) e do Instituto Nacional de Ciência Tecnológica (INCT) – Centro de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazônia (Cenbam), lançou o “Guia para os Gêneros de Formigas do Brasil”.
A publicação é bem ilustrada e traz informações com uma linguagem simples sobre a morfologia, o histórico taxonômico do grupo, além de explicar como coletar e identificar os mais de 100 gêneros que ocorrem no Brasil. De acordo com um dos autores do guia, o biólogo Fabrício Baccaro, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e integrante do PPBio, as formigas estão por toda parte e possuem importante papel no equilíbrio do ecossistema porque desempenham diversas funções essenciais para o funcionamento dos ecossistemas, como controle de insetos herbívoros, transformação do solo e dispersão de sementes.
Baccaro explica que além de abundantes, as formigas são muito diversas. Segundo ele, no momento que esse livro foi finalizado, eram conhecidos aproximadamente 13 mil espécies de formigas, distribuídas em 16 subfamílias e 330 gêneros. A região Neotropical, que se estende desde a Terra do Fogo até o deserto do México, apresenta 13 subfamílias, 142 gêneros e aproximadamente 3 mil espécies descritas. “O Brasil tem uma posição de destaque e abriga mais da metade das espécies descritas para a região Neotropical com aproximadamente 1.458 distribuídas em 11 gêneros”, diz.
A ideia de fazer o guia surgiu em 2009 durante o Simpósio de Mirmecologia que ocorreu em Ouro Preto (MG). Também são autores da publicação: Rodrigo Feitosa (Universidade Federal do Paraná), Fernando Fernández (Universidade Nacional de Colombia), Itanna Fernandes (doutoranda do Inpa/Smithsonian Institution), Thiago Izzo (Universidade Federal do Mato Grosso), Jorge de Souza (bolsista de pós-doutorado do Programa de Apoio à Fixação de Doutores no Amazonas da Fapeam) e Ricardo Solar (Universidade de Viçosa).
O guia está disponível por enquanto em formato online e pode ser baixado clicando aqui. A versão impressa está prevista para ser lançada em 2016. Este é mais um guia produzido pelo PPBio e Cenbam. Entre eles está o Guia de Cobras da Região de Manaus. Veja a lista de guias.
Formigas na Amazônia
Na Amazônia, os gêneros de formigas mais conhecidos pela população são: Paraponera (tucandeira, que é usada no ritual de iniciação masculina da etnia Sateré-Mawé), Solenopsis (formigas de fogo), Azteca (tapiba), Nylanderia (formiga louca), Pachycondyla (formigão), Camponotus (formiga carpinteira), Eciton (formiga de correição) e Atta (formiga cortadeira).
Na Amazônia, a formiga tucandeira (Paraponera clavata), que chega a medir 2,5 cm de comprimento, é usada no ritual de iniciação masculina na tribo Sateré-Mawé. Os meninos de 8 a 9 anos vestem luvas cheias de formigas e devem aguentar por mais de 10 minutos. O ritual continua até a idade de 14 anos quando o jovem aprende a suportar dor sem dar sinal de sofrimento. Para os Sateré-Mawé, a ferroada da formiga tucandeira funciona como uma espécie de vacina.
A formiga içá, popularmente conhecida como tanajura, é a fêmea da saúva, que em tupi-guarani significa “formiga que se come”. Em muitas partes do país é considerada uma iguaria. A parte comestível é o abdômen da formiga, ou seja, a “bunda de tanajura”. É torrada com farinha de mandioca ou pura. Alguns dos melhores chefes do país também já inseriram a tanajura no cardápio.