Pedro Cardoso da Costa: Preguiça é nosso mal maior
Como se define alguma característica pela qual um povo fica conhecido mundialmente talvez ninguém saiba ao certo. Mas, eles adquirem suas marcas.
Os britânicos ficaram famosos pelo cumprimento rigoroso de horário. Argentinos ficaram conhecidos pelo orgulho de serem o que não são. Franceses, pela secura com que tratam os povos “menores” do mundo todo. E os brasileiros são conhecidos mundo afora pela preguiça e expertise, versão light de desonestidade. Se cada povo faz jus à fama ou não, impossível se saber, mas sobre nós é possível destacar alguns pontos.
Existe a preguiça de fato, de ação, mas ela parece ser mais reflexiva e antecedida de uma descomunal preguiça mental.
Nossa primeira manifestação de preguiça está na quantidade de jovens grávidas por conta da preguiça de se prevenir, de usar os métodos contraceptivos. E aí a incidência maior está nas camadas sociais mais baixas mesmo. Em qualquer reportagem sobre incêndios, violência, desapropriação de terrenos em comunidades é inevitável a presença de muitas, mas muitas crianças. E a causa de fundo é a preguiça de se precaver, mulheres e homens, sem se importarem com as consequências graves que vêm depois.
Outra demonstração clara de apatia aparece nos sorrisos cobertos com mãos-bobas para não expor a falta dos dentes. O desânimo da criança foi antecedido pelo dos pais, que não cobraram nem ensinaram a fazer a escovação correta e que ela é necessária para evitar cáries e outras complicações, além de esteticamente mais agradável. O cuidado bucal evita até a dor de dente aguda.
Procurem saber dentre os familiares mais próximos quantos levam as crianças ao dentista, quem exige que usem fio dental e escovem os dentes após as principais refeições.
Mas, sem descer a detalhes por falta de espaço, esse desânimo leva a todo tipo de descuido. Na casa do brasileiro todo utensílio falta um pedaço ou está quebrado. Vale desde as dobradiças dos móveis, passa por paredes riscadas, sofás emendados, pratos, xícaras e tudo o mais com pedaços arrancados. Quem tem chuveiro a gás não reaproveita a água porque falta coragem de colocar um balde enquanto a água esquenta.
E sai do campo individual e atinge à coletividade. A rua é carente de árvore porque falta disposição para plantar uma na frente da casa.
Também se expande para todas as áreas. Mesmo pessoas pós-graduadas escrevem errado nas redes sociais pela indolência de não olhar a palavra certa acima, no mesmo “post”.
Nas competições esportivas internacionais os nossos resultados são pífios. Jogamos sempre por entretenimento, por brincadeira. Não se treina para valer, nem se aprimora e não se tem compromisso com a busca dos resultados. Nesse ponto, a demonstração é que surge um atleta de ponta sempre como exceção. Gustavo Kuerten, Cesar Cielo, Fabiana Murer são exemplos… No próximo texto abordarei outros sintomas da preguiça.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bacharel em direito