Dom Pedro José Conti: E danço o resto da vida
Certa vez, andando pelo mundo, encontrei uma placa pendurada na entrada de uma casa simples que dizia assim: “Vai ter uma festa que vou dançar até o sapato pedir para parar, aí eu paro, tiro o sapato e danço o resto da vida”.
Nos evangelhos do último Domingo de Advento, sempre encontramos a pessoa de Maria, a mãe que espera o nascimento do filho. Todas as mães sabem o que isso significa: cuidados, apreensão, medo, mas também um grande desejo de ver e ter, finalmente, em seus braços aquele pequeno ser humano que sentira crescer, aos poucos, dentro de si. A vida é um dom que recebemos, porque uma mãe nos carregou até o fim, com paciência e carinho, no seu próprio corpo. Só as mulheres mães podem contar isso. É um privilégio e, ao mesmo tempo, uma grande e maravilhosa responsabilidade. Por isso, Maria é a “mãe” de Jesus que nos doa o seu Filho no Natal e o entrega de novo nos braços do Pai, quando o acolhe morto, descido da cruz. A vida recebida no amor vale mais quando é doada, um dia após o outro, também por amor.
Neste ano, a página do evangelho de Lucas nos apresenta o encontro de Maria com Isabel, duas mulheres, duas mães, felizes pelos filhos que carregam no ventre. É uma página cheia de bênçãos, de louvor e alegria. Bendita e bem-aventurada é Maria porque acreditou; bendito é o fruto do ventre dela; louvado é Deus que cumpriu as suas promessas; alegre é a criança que “pula” no seio de Isabel. De novo, são as mulheres-mães que podem nos dizer o que sentem quando uma criança “pula” dentro delas. Os que estudam bem as Escrituras dizem que aquele “pular” pode ser traduzido também com “dançar”. Quem dança pula, é verdade, mas não ao acaso. Dança ao ritmo da música, dando passos medidos e movimentos harmônicos. Quem dança aceita controlar os seus gestos não para limitar os seus sentimentos, mas para dizer que gostaria que todos dançassem juntos, que todos acompanhassem o ritmo e juntos manifestassem uma grande alegria. Um povo que dança junto sempre quer comunicar algo mais do que a simples repetição de passos e gestos. Eu não sei dançar, não tenho jeito. No entanto, fico admirado quando grupos de pessoas dançam juntas, de maneira especial acompanhando o ritmo das batucadas, ao ponto de parecer incansáveis e se identificando totalmente com aquela dança.
“Quem canta, os males, espanta” reza o provérbio. E quem dança faz o quê? Revela a sua alegria, a sua esperança, o seu sonho de ver uma humanidade cantando e dançando em paz. Com certeza o Natal não será tão feliz para todos, mas não podemos deixar de nos desejar alegria uns aos outros e, mais ainda, fazer alguma coisa para superar a miséria das desavenças e das exclusões. Se o nosso Deus, na sua bondade e nos seus desígnios de misericórdia, quis nascer no meio de nós, humano e solidário na vida e na morte, nós cristãos devemos comunicar a todos os distraídos e indiferentes que um mundo novo e melhor é possível, Não estamos sozinhos na luta contra o mal. O homem Jesus, o Deus feito gente, venceu o pecado e a morte. O Pai o ressuscitou, a sua vida e a sua mensagem continuam a ser uma luz para tantos corações despedaçados, para tantas pessoas desiludidas e, quase, querendo desistir da vida.
Comunicar alegria não significa esconder os problemas ou fingir que não existam. Ao contrário, é enfrentar as questões com a mesma confiança e paciência de Jesus, prontos a gastar a vida por causa dele e do seu Evangelho. Tem muitas famílias que precisam voltar a dançar juntas neste Natal. Muitos amigos que se tornaram inimigos podem fazer as pazes, voltando a dar os mesmos passos, na mesma dança. Talvez tenha também alguma Comunidade que, faz tempo, esqueceu os ritmos e a beleza de quando dançavam juntos. Sem dúvida, nós todos conhecemos alguém que aguarda somente o nosso convite para formar uma dupla ou uma roda conosco e, assim, cantar e dançar juntos. E se o sapato apertar? Vamos tirá-lo e dançar “o resto da vida”, a dança do amor, da paz e da alegria. Juntos. É Natal!