Fotografia do Amapá de luto: morre Fernando Leite, pioneiro da arte no Estado
O Amapá perde um filho brilhante. Com sua simplicidade, tornou-se um homem vitorioso na sua vida pessoal e empresarial. Mostrou-se sempre uma pessoa muito simples, humilde, próximo das pessoas e solidário.
Foi pioneiro na fotografia no estado com destacada atuação nas obras sociais do Lions Clube. junto com sua esposa Iria Leite.
Em 26 de agosto de 1941 uma parteira aparou o pequeno Fernando José Rocha Oliveira Leite, em Macapá.
“Nasci e me criei no bairro do Trem. Fiz o curso primário no Alexandre Vaz Tavares, depois estudei também no Barão do Rio Branco”, recordou Fernando.
Fernando era contabilista. Era casado com Iria Brasiliense Leite. O casal tem 2 filhas e 1 filho, 10 netos e 1 bisneto.
Dos onze aos doze anos foi Escoteiro da Terra tendo como instrutor do grupo o chefe Clodoaldo Nascimento. Quando ele tinha quatorze anos, a irmã Ivone Rocha Silva, casou-se com Guilherme Cruz , fotógrafo pioneiro e proprietário do Foto Cruz.
“Eu comecei com o meu cunhado Guilherme Cruz, um homem íntegro, organizado com uma visão a frente do nosso tempo. Aprendi muito com ele. Com quinze anos eu já fotografava nas residências, e as famílias que queriam mandar para algum parente distante. Eles tinham o hábito de chamar um fotógrafo para que fosse documentado”, relembrou Fernando Leite.
Em todos os principais eventos de Macapá lá estava o jovem Fernando Leite fotografando.
“Depois eu comecei a ter vários trabalhos profissionais. Fiz muitos serviços para o Governo do ainda território. Fazia de tudo: casamento, batizado, quinze anos, desfile de misses. Depois comecei a registrar os eventos e as solenidades do governo do então Território do Amapá. Os primeiros cartões postais coloridos da cidade de Macapá eu fiz, inclusive com diversas fotos aéreas.
O trabalho de Fernando Leite chamou a atenção das grandes empresas como a Brumasa, Icomi, a indústria de pelotização. Esses registro feitos em Santana e Serra do Navio eram utilizados nos relatórios enviados aos acionistas.
“Eu fotografava tudo que existia na Serra do Navio: o trem com minério, o trabalho na mina, na saúde, as atividades sociais…” esclareceu um dos pioneiros da fotografia do Amapá.
Fernando Leite registrou as etapas da construção da então Hidrelétrica do Paredão, conhecida hoje como Coaracy Nunes. Fotografou a construção da Hospital São Camilo, desde o terreno até sua inauguração. O trabalho contou com a supervisão do médico Marcelo Cândia, idealizador do hospital.
“Acompanhei a construção da rodovia BR 156, na fase decisiva da chegada ao Oiapoque. Documentei inclusive em slides coloridos que o empreiteiro Walter do Carmo usava para mostrar o avanço da obra, testemunhou Fernando.
“Naquele tempo era muito difícil fazer fotografia. Nós tínhamos um laboratório em preto e banco. Tínhamos aquele sistema de revelação com os químicos. Revelar o filme, depois revelar a fotografia. Tínhamos os aparelhos para ampliar as fotografias. Assim nós íamos trabalhando, disse Fernando.
As fotografias para estudante eram a grande demanda na época. O um trabalho impecável que incluía o retoque nos negativos para melhorar a imagem, contribuía para aumentar a procura.
Em 1989 Fernando e Iria Leite, sua esposa, começaram a viajar para o exterior. O resultado foi a aquisição de equipamentos de última geração, laboratório de revelação a cores e com isso. as fotografias ficaram ainda melhores.
Fernando Leite foi o fundador e primeiro presidente e depois por mais dois mandatos da Associação dos fotógrafos profissionais do Território do Amapá. Nessa época promovia exposições dos trabalhos de fotógrafos amapaenses aqui e em outros estados.
Foi o vencedor do concurso nacional da Legião Brasileira de Assistência – LBA sobre Aleitamento Materno.
“Fui homenageado na Fortaleza de São José pelo governador comandante Annibal Barcellos. Ele fez uma solenidade, com todo o secretariado do governo com banda de música e tudo para me entregar o premio”, disse Fernando emocionado.
Grande parte da vida de Fernando Leite foi dedicada as áreas de fotografia, som e ótica. Participou de vários congressos fotográficos e óticos nacionais em diversos estados brasileiros e internacionais, em inúmeros países, como na Holanda, Itália e Alemanha.
Em 15 de junho de 1972, entrou para o Lions Clube. O médico Alberto Lima foi seu padrinho.
Junto com Alberto Lima foi fundador dos Lions Clube Marco Zero do Equador e Perimetral.
Ao longo de 49 anos de atuação no Lions Clube exerceu todos os cargos de diretoria e foi oito vezes presidente 100%. Participou de eventos Leonisticos em mais de 15 países e quase todos os estados brasileiros.
Em 1991 foi eleito vice-governador distrital. Em 1992 tomou posse como governador do Lions em Hong Kong. Nessa época administrou 105 clubes no Amapá, Para, Maranhão e Piauí, visitou a sede do Lions Clube Internacional em Chicago, nos Estados Unidos, recebeu muitas medalhas de Honra ao Mérito ao longo dos anos, entre elas a Medalha Presidencial Rohit Meta, como governador de Distrito 100%.
“Tenho muito orgulho de ter ajudado a construir a sede do Lions Clube Macapá Centro. Foram anos de inúmeras promoções, inclusive com shows de grandes artistas nacionais ”, acrescentou Fernando.
Fernando Leite recebeu vários títulos honoríficos, entre eles o de Cidadão de Macapá, conferido pela Câmara Municipal de Macapá, em 2004.
“Olha nós fizemos muito trabalho aqui. Nós começamos quando o Amapá era território. Começamos assistindo às famílias de detentos, promovemos vários Natais para crianças carentes, ajudamos muitas escolas doando alimentos, material de limpeza. Cuidamos de todas as maneiras de milhares de pessoas necessitadas. Fizemos muitos amigos e isso nos deixa felizes e realizados”, conclui Fernando emocionado.
Contabilista, fotógrafo, empresário, líder do Leonísmo e trabalhador social voluntário, Fernando José Rocha Oliveira Leite, recebeu a medalha da Academia dos Notáveis Edificadores do Amapá, no dia 13 de setembro de 2021, em solenidade na Assembleia Legislativa do Amapá.