Missa dos Quilombos exalta união e fé do povo afro do Amapá no 28º Encontro dos Tambores
Em 2023, o tema da celebração, nesta segunda-feira, 20, Dia da Consciência Negra, foi ‘Vidas e Culturas Negras Importam’.
Por: Rafaela Bittencourt
O rufar dos tambores das comunidades deu início à tradição de fé e resistência do povo negro na Missa dos Quilombos, nesta segunda-feira, 20, Dia da Consciência Negra. A cerimônia trouxe o sincretismo religioso para marcar o ponto alto do 28º Encontro dos Tambores, no Centro de Cultura Negra Raimunda Ramos, no bairro do Laguinho, que segue até domingo, 26, em Macapá.
Com as caixas de marabaixo ditando os passos dos santos e orixás, a Missa dos Quilombos apresentou o tema “Vidas e Culturas Negras Importam” e trouxe representações dos caboclos, orixás e entidades religiosas.
A celebração também contou com as imagens de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Conceição, São Benedito e São José, este último carregado pelo governador do Amapá, Clécio Luís. As imagens são trazidas para a missa pelas comunidades participantes da cerimônia. Este ano o Governo do Estado garantiu estrutura e hospedagem para 38 comunidades vindas do interior do estado.
“Esse é o momento de manifestar a importância de toda a sociedade, de ter a consciência negra. A Missa dos Quilombos é uma programação que tem ato político, mas com muita religiosidade, fé e ancestralidade. É um evento representativo da sociedade amapaense, feito ano a ano e é um exercício de autoafirmação do que nós somos, de onde viemos, o fazer cultural e a intelectualidade”, reforçou o governador Clécio Luís.
A missa integrou cultura, resistência e tradição. A oferta, simbolizada pelos alimentos entregues às pessoas, representou o entrelaçamento entre santos e orixás, a entrega de frutos e legumes também remete ao cultivo no campo, o alimento que sustenta as comunidades. O tradicional banho de cheiro benzido foi disputado entre o público presente, incrementado com atrativos de boa saúde, prosperidade e renovação das energias.
“Mais um ano nós estamos aqui e estamos vendo algo lindo, o Centro de Cultura Negra totalmente lotado. A Missa dos Quilombos é um ato de resistência, político, é o mais revolucionário do Amapá. Aqui, nós sonhamos a sociedade que Jesus sonhou. Em 30 anos, eu nunca vi esse lugar tão cheio, este é o maior Encontro dos Tambores de todos os tempos”, reforçou o padre Paulo Roberto Matias durante a cerimônia.
A técnica em enfermagem Laura Maria Barros, de 24 anos, este ano, representou Yansã, que simboliza as matas, as ervas e os banhos que trazem cura.
“É uma honra muito grande para mim representar Yansã, porque há três anos que eu participo da religião, iniciada no Candomblé, então estar nesse evento é uma vitória muito grande, porque a gente está aqui, resistindo e lutando contra o preconceito para celebrar a vida, a cura e o acolhimento”, destaca Laura.
Representatividade
No Amapá, são mais de 12,5 mil pessoas quilombolas, segundo o Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representando 1,7% da população do estado. Este número integra os 73% daqueles que se declaram negros ou pardos no Amapá. Diante de uma presença tão forte, a construção de políticas públicas e de visibilidade dessa população se tornam uma marca da atual gestão.
“Em todo esse sincretismo religioso que nós temos aqui, é uma missa que simboliza a nossa cultura. Somos um povo preto resistente que reflete nesse Dia da Consciência Negra um sofrimento que ainda tem resquícios na sociedade, mas que também celebra o seu viver, porque a Missa é para dizer que se nós estamos aqui é porque muitos tombaram, mas também muitos garantiram que estivéssemos aqui tendo uma efetivação de políticas públicas”, explicou a presidente da Fundação Marabaixo, Josilana Santos.
O 28º Encontro dos Tambores é uma realização da União dos Negros do Amapá (UNA) com Instituto Cultural Língua Solta e Grêmio Recreativo Piratas Estilizados. O Governo do Amapá apoia o evento, que também conta com apoio da ex-deputada estadual, Cristina Almeida e do vereador Dudu Tavares, que destinaram recursos de emenda para a festividade.
O evento segue até o próximo domingo, 26, com uma vasta programação envolvendo comunidades rurais e urbanas, segmentos culturais diversos, visita da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e encerramento com show do grupo de pagode, Fundo de Quintal.
Foto: Maksuel Martins/GEA—
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