Vaga Lume comemora 23 anos levando leitura e impactando a vida de moradores de comunidades rurais da Amazônia
Caic Rian Lameira Macedo é um desses jovens: o projeto foi fundamental para que ele escolhesse cursar Pedagogia, sonhando em ser professor
Duas datas significativas em relação à educação são celebradas na mesma semana. No dia 15 de outubro celebra-se o Dia do Professor, que homenageia a profissão que personifica o ideal de educar; já no dia 16 de outubro comemora-se o aniversário da Vaga Lume, que em 2024 comemora 23 anos de existência, promovendo o acesso à leitura nos cantos mais remotos da Amazônia Legal.
Fundada por três mulheres — Sylvia Guimarães, Laís Fleury e Maria Tereza “Fofa” Memberg — em 2001, a Vaga Lume nasceu de um sonho de empoderar crianças e jovens da maior região do Brasil, a Amazônia Legal. A abertura de bibliotecas comunitárias em comunidades rurais de Soure e Alter do Chão, no Pará, foi o pontapé inicial. Hoje, a rede da Vaga Lume conta com 95 bibliotecas em funcionamento e mais quatro em implantação, em 23 municípios.
Nessas mais de duas décadas, o projeto foi responsável pela doação de 177 mil livros — apenas em 2024, mais de 14 mil livros foram distribuídos para os espaços de leitura implantados e apoiados pela Vaga Lume — e formou mais de cinco mil mediadores de leitura, voluntários que leem para crianças e levam o projeto adiante. A estimativa é que o trabalho da ONG já tenha impactado mais de 110 mil crianças e jovens.
Um desses jovens, que teve sua vida profundamente impactada pela Vaga Lume, é Caic Rian Lameira Macedo, de 20 anos. Nascido em Belém, cresceu na comunidade Boa Vista, em Castanhal. “Meu primeiro contato com a Vaga Lume foi por meio da minha tia, que é voluntária do projeto até hoje. Ela trazia alguns livros pra mim quando eu era criança, uns 10 anos. Só que eu imaginava que os livros eram dela”, conta. “Foi depois de uns três ou quatro anos que eu conheci a Vaga Lume de fato, comecei a frequentar a biblioteca, enfim, tomei consciência do projeto. E desde então não parei mais. Fiz o curso para ser mediador de leitura, e até hoje sou voluntário.”
Essa experiência foi fundamental para que Caic optasse por estudar Pedagogia, que atualmente cursa na Universidade Federal do Pará. “A Vaga Lume tem total influência na escolha da minha carreira, pois se eu não tivesse criado o hábito da leitura, essa paixão pelos livros, eu jamais escolheria um curso em que temos que dedicar tanto tempo à leitura. E leitura de diferentes gêneros, diferentes aspectos, diferentes escritores”, afirma.
Quando questionado sobre o que espera conquistar quando efetivamente se tornar professor, destaca uma palavra: a simplicidade. “Eu espero ter uma vida simples. Senão, eu não escolheria ser professor, né?. Sei que é uma resposta um pouco clichê, mas eu espero mostrar aos meus alunos o poder da educação, e ela é um fator muito importante para a nossa sociedade”, diz. “Espero conseguir mostrar que através da educação nós podemos mover montanhas. Eu não tenho grandes sonhos, grandes coisas para almejar. Eu vim de um lugar simples, e quero ser simples e ter uma vida simples.”
Outra vida que teve seu curso alterado após o contato com a Vaga Lume foi a de Nayla Monteiro dos Santos, de 25 anos, também da comunidade de Boa Vista, em Castanhal (PA). Ela, assim como Caic, descreve a comunidade como um lugar muito alegre, acolhedor e caloroso, algo como uma grande família, onde todos se conhecem.
“A Vaga Lume chegou na minha comunidade em 2010 ou 2011. Eu não conhecia direito, mas me convidaram para participar. Fui e, desde então, não parei mais”, relembra. “Me apaixonei pelo projeto e hoje em dia sou mediadora de leitura na minha comunidade e ajudo nas atividades. A Vaga Lume teve uma grande influência na minha formação como pedagoga. Agora, sou estudante de Letras. Se não tivesse conhecido a Vaga Lume, não teria escolhido esses cursos. Hoje sou muito grata pelas escolhas que fiz.”
Protagonismo Jovem
Nayla e Caic participaram como lideranças do projeto Protagonismo Jovem, que teve apoio do Criança Esperança, em 2022, após o período de pandemia, com o intuito de estimular a participação dos jovens nas bibliotecas de Castanhal. “O Protagonismo Jovem veio como um desafio, que a gente aceitou, agarrando a oportunidade. E foi maravilhoso participar do projeto. Aprendi muita coisa, os jovens também”, diz Nayla. “A gente conseguiu que os jovens se envolvessem com a biblioteca, com a Vaga Lume. Eles passaram a ler mais a partir desse projeto, a gente fez apresentações culturais, pesquisa, foi bem gratificante.
“Foi muito bom ter um projeto voltado à juventude, que é sempre uma faixa etária difícil de lidar. Conseguimos trabalhar muito bem com eles, por meio de apresentações culturais, de contações de histórias, de leituras de livros infanto-juvenis” afirma Caic. “Foi muito interessante e muito significativo na minha vida, porque por meio desse projeto eu consegui aprender diversas coisas e ter muito mais desenvoltura na minha fala, me comunicar melhor com as pessoas, conversar com pessoas diferentes de mim, ter um amplo desenvolvimento pessoal, sair da minha bolha. Adquiri muitas coisas boas nesse projeto do Protagonismo Jovem, que levo comigo até hoje e espero sempre levar.
“A Vaga Lume tem como foco as crianças e jovens da Amazônia, criar e desenvolver projetos para potencializar o protagonismo jovem é fundamental para formar cada vez mais pessoas engajadas na transformação de suas realidades. Saber que o projeto teve um impacto tão positivo nas histórias de vida do Caic e da Nayla, nos motiva a cada vez mais a inovar, buscar apoio e fortalecer o projeto na Amazônia, podendo assim transformar a vida de outros tantos jovens da região”, diz Lia Jamra, Diretora Executiva da Vaga Lume.
Sobre a Vaga Lume
Criada há 23 anos, a Vaga Lume está presente em 23 municípios da Amazônia Legal com 95 bibliotecas comunitárias em funcionamento e mais quatro em implantação. Desde 2001 já doou 177 mil livros e formou mais de 5 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as crianças, trabalho esse que já impactou a vida de 110 mil crianças e jovens. O seu propósito é empoderar crianças e jovens de comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias, promovendo intercâmbios culturais com a leitura, a escrita e a oralidade para ajudar a formar pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
Em 2023, a Associação Vaga Lume foi eleita pela terceira vez, sendo duas consecutivas, a Melhor ONG de Educação do Brasil pelo Prêmio Melhores ONGs do Instituto Doar. No mesmo ano foi contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança) e, também, foi uma das organizações selecionadas em todo o mundo para receber uma doação da filantropa MacKenzie Scott. Em 2022 foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Conheça o mini documentário Vaga Lume no YouTube e acesse o site da associação.