O que é a vida?
Num belo dia de verão, no começo da tarde, a mata estava envolvida num grande silêncio. Tudo descansava. Um passarinho, metido a filósofo, perguntou:
- O que é a vida?
Todos ficaram tocados por esta difícil questão. Uma rosa, que tinha acabado de se abrir, respondeu:
- A vida é desabrochar.
Uma borboleta que desde a manhã nunca tinha parado de voar e passava de uma flor para outra disse:
- A vida é sol e alegria!
Uma formiga, que suava para carregar uma palha dez vezes maior do que ela, disse:
- A vida é trabalho e cansaço.
Uma abelha, toda ocupada em sugar o néctar de uma flor, afirmou:
- A vida é uma mistura de trabalho e prazer.
O discurso começava a ter um ar de sabedoria. A toupeira botou a cabeça fora da terra e disse:
- A vida é uma luta no escuro.
Um corvo preto que passava a vida a roubar dos outros disse:
- Vocês não sabem de nada, precisa escutar o parecer de pessoas inteligentes!
Começou assim uma acesa discussão até que perguntaram à chuva leve que começava a cair o que ela pensava sobre o assunto.
- A vida é feita de lágrimas, nada mais que lágrimas.
Um pouco mais longe trovejava, as ondas do mar, que se chocavam com força contra as rochas, também deram o seu parecer:
- A vida é sempre uma inútil luta para a liberdade.
No amplo céu azul voava uma águia real e, lá de cima, gritou:
- A vida é conquista das alturas.
Um salgueiro, todo encurvado, interveio:
- A vida é saber-se dobrar nas tempestades.
Chegou a noite. Uma coruja deu o seu parecer:
- A vida é aproveitar das oportunidades enquanto todos dormem.
Por um bom tempo houve silêncio. Um jovem que voltava para casa já de madrugada exclamou:
- A vida é uma continua busca de felicidade e uma sucessão de decepções.
Finalmente, surgiu com sua luz a aurora. Abriu-se com todo seu esplendor e sua glória e disse:
- Como eu, a aurora, sou o início de um novo dia que nasce, assim a vida é o começo da eternidade.
Acredito que um pouco de poesia e de imaginação possam nos alegrar no domingo de Páscoa. Nos dias passados, acompanhamos Jesus no caminho do Calvário. Revivemos a sua paixão e morte na cruz. A fé de muitos cristãos os conduz até ali: aos pés da cruz. São conduzidos pelas provações da vida, as frustrações e mesmo os sofrimentos. Difícil olhar além. Acreditam no Cristo sofredor, solidário com todos aqueles que choram e lamentam as dificuldades da vida. Verdade, mas assim acabam sendo cristãos de Sexta Feira Santa, talvez o único dia do ano no qual pisam numa Igreja. A vida não é fácil, mas a nossa fé não acaba no túmulo de Jesus.
Ao amanhecer do primeiro dia da semana – o Domingo para nós cristãos – o corpo dele não foi mais encontrado. Não estava mais entre os mortos. Ele estava vivo, ressuscitado. Assim o encontraram as mulheres e os apóstolos. Aquela boa notícia se espalhou pelo mundo. Nós cristãos não negamos o sofrimento e a morte, seria insensatez. Por ela passou também o Senhor. No entanto, acreditamos que a vida nova de Cristo Ressuscitado já começou a dar os seus frutos no meio de nós. Somos chamados a semear vida, a transformar lágrimas em esperança, a levantar os caídos, a acolher sempre de novo os perdidos. Quem acredita na ressurreição do Senhor, nunca desiste de lutar por um mundo melhor, por uma humanidade mais fraterna, capaz de construir paz e alegria para todos, apesar dos fracassos, das decepções e além de todas as infidelidades, mentiras e corrupções.
Naquele amanhecer da Páscoa de Jesus uma luz nova clareou a escuridão da existência humana. Foi puro dom do Pai para o Filho, para nos dizer que tudo o que ele tinha feito e ensinado era mesmo o caminho da Vida, o caminho do Amor. Caminho difícil, passagem pelas portas estreitas da humildade, da dedicação, da entrega, da doação de si, do silêncio e do escondimento; sem alarde, sem sucessos humanos, somente com a força libertadora do amor. A única força que vence as amarras do egoísmo e da morte e nos faz alegres, também quando estamos chorando. É a luz do Senhor ressuscitado. Luz que não se apaga, vida nova para sempre. Começo de eternidade.