O vizinho insuportável
Após o término de uma palestra do Grande Mestre, um dos discípulos apresentou-lhe esta objeção:
– Tu dizes que posso partilhar minhas bênçãos e minha alegria com o universo inteiro. Isso eu compreendo e acredito. No entanto, por favor, me concedas uma exceção: não consigo partilhar este meu bem-estar espiritual com o meu vizinho. É uma pessoa tão insuportável. Só de pensar em partilhar minha felicidade com ela me dá nojo! – E continuou: Peço-te me conceder esta exceção. Para o resto da criação, tudo bem! Se tu conhecesses o meu vizinho, tu mesmo terias admitido que é possível ter exceções.
O Mestre respondeu: – Tu não entendeste nada do meu ensinamento. A tua felicidade deve ser partilhada, em primeiro lugar, justamente com o teu vizinho; somente assim terás condição de abrir-te ao universo inteiro! Se não estás disposto a dar atenção a quem está perto de ti, como poderão ser teus amigos os outros homens, os pássaros, as árvores…? Deves praticar a partilha a começar por aquela única exceção e… esquecer o resto do universo! Se conseguires transmitir alegria espiritual àquele teu vizinho insuportável, não terás mais obstáculos para espalhar o teu amor. Estarás preparado para partilhar a tua felicidade e a tua paz interior com qualquer criatura!
A Ascensão de Jesus ao céu não foi um simples momento de despedida. Foi um encorajamento, uma promessa e um envio. Os apóstolos não deviam ter mais medo dos demônios, podiam contar com o poder do Espírito Santo, assim, o horizonte da Boa Notícia se abria para o mundo inteiro e a história toda da humanidade, até a volta gloriosa do Senhor. Jesus tinha cumprido a sua missão e, a partir daquele momento, cabia agora a eles serem testemunhas da sua ressurreição, da vida nova do Reino por ele anunciado. Jesus agora continuava – e continua – presente no sinal da comunidade dos seus amigos, daqueles que tinham deixado tudo para segui-lo e dos demais que, depois, seriam batizados acreditando na palavra e na vida deles.
Somos nós, hoje, os responsáveis pelo anúncio e pelo testemunho do Senhor Jesus; a fé pelo mundo depende, sem dúvida, do Espírito Santo, que se serve também da nossa pobre colaboração para cumprir a grande obra da salvação. Espanta-nos sempre o tamanho e a ousadia da missão. Encontramos desculpas e jeitos para nos esquivar. A missão, afinal, por onde deve começar? Na página dos Atos dos Apóstolos, Jesus já respondeu: “em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria e até os confins da terra” (cf. Atos 1,8). Quem puder, e para isso se sentir chamado, irá, sim, até os confins da terra, em outros países, falando outras línguas e assumindo outros costumes. No entanto, para todos deve valer o começar pelos mais vizinhos, em casa mesmo e ali por perto, no seu bairro, na sua cidade. Foi justamente em Jerusalém que os apóstolos começaram a pregar o evangelho e a arriscar suas vidas.
Papa Francisco insiste muito para que sejamos uma Igreja “missionária”, não tanto pelas distâncias geográficas e culturais, quanto pela capacidade de encurtar as distâncias dos corações, dos interesses, das atenções, das disputas sociais. O primeiro teste para a nossa atitude missionária será, portanto, a nossa própria família, os parentes e os vizinhos. Juntas virão também as críticas. Serão bem-vindas porque são os que convivem conosco que comprovam se somente falamos bonito ou se praticamos, de verdade, também se muitas vezes no silêncio, aquela fé que gostaríamos iluminasse o rosto de todos, a partir dos que somos chamados a amar e a servir a cada dia.
Missão é favorecer o diálogo, a união, a compreensão dos que pensam e agem diferente. Se não conseguimos fazer isso com os vizinhos, como conseguiremos fazê-lo com os mais afastados? Também os que irão para missões mais longínquas, nunca irão sozinhos e isolados, sempre os acompanharão a família, os amigos, a comunidade de origem. Tudo começa em casa, podemos dizer. Depois vem os…vizinhos. “Até os confins da terra”.