A folha
Um homem que vivia em Song cinzelou para o seu príncipe uma folha de amoreira com puríssimo jade. Para alcançar a mais absoluta perfeição, gastou mais de três anos de trabalho. Ao final, ninguém conseguia distinguir a sua folha de uma verdadeira. Quando soube da façanha, um sábio disse: “Se o céu e a terra gastassem três anos para cada folha de cada planta ficar perfeita, teríamos bem poucas árvores frondosas”. Assim acontece, também, com a nossa vida espiritual e o nosso crescimento interior. É verdade que existem técnicas de oração e meditação, cartilhas de rezas poderosas e tudo o mais, mas basta um pequeno arremesso do coração para ir, realmente, ao encontro com Deus.
No evangelho deste domingo, Jesus começa a falar em parábolas. Essa foi a maneira singular e extraordinária que ele usou para nos fazer conhecer algo que não se encaixa numa simples definição por explicativa e detalhada que seja. O “reino de Deus” é um conjunto de experiências, situações e acontecimentos que nunca deixam de surpreender quem o procura entender e, muito mais, o busca experimentar. O reino de Deus é, em primeiro lugar, obra do próprio Deus e, portanto, apesar da sua realidade e, às vezes, de sua simplicidade, sempre tem algo que vai além dos planos, da vontade e das decisões humanas. O reino de Deus sempre terá que ser procurado, estará sempre à nossa frente, porque, afinal é, e sempre será, um dom do próprio Deus.
A primeira e bem conhecida comparação que Jesus faz é a do reino de Deus semelhante ao que acontece com uma semente. O crescimento dela não depende de o agricultor ficar acordado ou dormir. Se a semente é boa, tem algo na natureza dela que acontece por força própria. Nada de mágico, resultado de forças ocultas ou externas. O desenvolvimento da semente acontece no silêncio, de baixo da terra. Não dá para ver o que se passa, mas basta aguardar que, em breve, não terá mais nada de secreto ou escondido. Os frutos aparecem. Primeiro as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos. Quando está tudo maduro, chegou o tempo da colheita e o homem pode cortar o trigo. A farinha lhe dará o pão para o seu sustento. Cada um, o agricultor e a semente, fazem a sua parte. Não adianta forçar as etapas. Tudo vai acontecer a seu tempo. Basta confiar, ter paciência. A natureza não vai falhar.
Um bom exercício, este, para a nossa civilização tão apressada, incapaz de esperar. Reclamamos da falta de tempo, queremos tudo na hora, mas para que tanta pressa? Para correr mais ainda, nos ocuparmos mais. Iludimo-nos, assim, de ganhar tempo e acabamos prisioneiros do relógio que nem corre e nem demora, continua marcando os mesmos intervalos. Ter paciência, não significa nos entregar à preguiça ou somente aprender a esperar. Significa confiar que as coisas vão acontecendo no seu ritmo e nos seus tempos; acreditar, sobretudo, que estamos no caminho certo, que tudo o que fazemos, coisas grandes ou pequenas, têm um sentido e nada se perde do bem semeado.
A outra comparação de Jesus é entre o reino e a semente de mostarda. É muito pequena, quase invisível, mas, quando cresce, se torna como uma árvore, capaz de dar sombra aos pássaros que por baixo dela se abrigarem. Nós todos somos fascinados pelas obras grandiosas: eventos e construções. Nada de novo: grandeza é expressão de poder. Pode ser só uma fachada, mas o que vale é amedrontar o adversário. Deus, não precisa, e nem quer, espantar-nos, ele ri do nosso orgulho. Não devemos nos deixar enganar pelas aparências. Um grão do amor de Deus vale infinitamente mais do que todas as nossas grandezas. Também os nossos pequenos gestos de caridade fazem crescer a grande obra do reino. A alegria de fazer o bem nos faz colaboradores fieis e perseverantes na construção do reino de Deus. A façanha que nos cabe é sermos parte desta maravilha. Por pequenos e desconhecidos que sejamos, Ele sabe.