Dom Pedro Conti: O shopping dos maridos
Esqueci o endereço, mas tinha uma loja especial na qual as mulheres podiam escolher os maridos. Eram cinco andares e a cada andar aumentava a qualidade da mercadoria. Mas tinha uma regra: cada vez que se subia um andar, não era mais possível voltar aos andares inferiores, só era permitido sair da loja. Duas jovens amigas quiseram visitar o shopping. No primeiro andar estava escrito: “Os homens deste andar são bons trabalhadores e gostam de crianças”.
– Que bom – disseram as amigas – seria pior se não trabalhassem e não gostassem de crianças. Mas como serão os homens do andar de cima? – Subiram mais. No segundo andar, a placa informava: “Os homens deste andar trabalham, têm salários excelentes, gostam de criança e cuidam do seu aspecto exterior”.
– Viu! – disse uma das amigas – subimos mais, vai ser melhor ainda! No terceiro andar estava escrito: “Os homens deste andar trabalham, têm salários excelentes, gostam de crianças, são ordenados e ajudam nos trabalhos em casa”.
– Que maravilha! – pensaram as duas amigas. A curiosidade venceu e subiram correndo ao quarto andar. A placa rezava: “Os homens deste andar trabalham, têm salários excelentes, gostam de crianças, são ordenados, ajudam nos trabalhos em casa e são muito carinhosos.
– Incrível! – exclamaram as duas amigas – Se os do quarto são assim, como serão os homens do quinto andar? Subiram mais uma vez. O andar estava vazio. Leram: “Este andar serve somente para demostrar que é impossível satisfazer todos os vossos desejos. Por favor, sigam as indicações da saída e tenham um bom dia!”
Não têm shoppings de maridos ou mulheres. Nem de crianças. Gente não pode ser mercadoria. Não existem pessoas perfeitas, já prontas. Graças a Deus, somos pessoas reais, com qualidades e defeitos, sempre em construção, que se encontram, escolhem-se e amam-se. Assim nascem as nossas famílias. Assim continua a aventura da vida humana. Quem está disposto a fadigar para aprender com a vida, descobre a beleza do encontro e sente a falta do amado ou da amada, aceita o desafio da correção própria e dos outros, feita de pequenos passos, de egoísmo e generosidade, de palavras e silêncios, de descobertas e frustrações, de muita espera e paciência. Todas as nossas famílias são escolas de vida. Os bons exemplos e os acertos ensinam, mas aprendemos, talvez até mais, com os erros e as lágrimas. Aprendemos a caminhar caindo. Remendo também ajuda, torna-nos mais humildes e capazes de perdoar-nos uns aos outros.
No domingo da Sagrada Família, somos convidados a olhar para aquela família singular de Maria, José e o menino Jesus. Os chamados “evangelhos da infância”, os primeiros capítulos de Mateus e Lucas, antecipam de forma simbólica e proféticas os acontecimentos que virão na vida de Jesus. Perseguição e coragem, angústia e fé, incompreensão e obediência, recusa e acolhida, alternam-se, como na vida de todo ser humano. A sombra da cruz ilumina de longe os acontecimentos. Maria, a mãe, “conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51). Talvez seja isso que está faltando às nossas famílias: aprender com o próprio caminho, sem perder o foco na meta da comunhão e do amor. Precisamos acreditar mais que Deus Pai, na sua bondade, vai nos moldando aos poucos, para que todos, em qualquer idade, cresçamos “em sabedoria…e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Nenhuma família começa perfeita. É algo que se aprende a construir como qualquer outra realidade humana. Não tem o último lançamento de marido, ou mulher, melhor que o anterior. Não serve trocar, precisa aceitar as correções e mudar juntos. Não tem um filho ou uma filha ideal. Tem pais aprendendo a ser pais e crianças e jovens aprendendo a ser filhos. Ninguém de nós é mercadoria com defeito para ser devolvida. Somos todos aprendizes da fraternidade e da partilha; descobrimos as diferenças dos outros e aprendemos a amá-los como eles são. Em qualquer andar do shopping da vida, têm pessoas capazes de amar e ser amadas. Não há outro segredo para sermos melhores, só aquele que Deus Pai escolheu: o amor.