Alimentação saudável vira desafio para a maioria das pessoas
Comer bem é tão essencial para ter saúde e energia que tornou-se um grande dilema
Joyce Moysés
O bom senso tem se revelado um providencial tempero na hora de decidir o que pôr no prato. Nesse sentido, vale seguir a recomendação da coordenadora do curso de Nutrição da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Nayara Cavalcanti, de redefinir o significado de comer bem: “Comer é uma atitude e deve ser vivida em sua plenitude, respeitando cores, sabores, sentidos. É certo que a modernidade nos presenteou com a falta de tempo para realizar coisas básicas, mas também é verdade que as pessoas complicaram o ato de comer bem!”
Tantas dietas são disseminadas na internet, algumas travestidas de causas, de modo que muita gente fica perdida quanto ao que realmente faz mal ou não. Por exemplo, há aqueles que pregam que se deve só comer frutas que caem do pé.
“Todos os alimentos podem ser prejudiciais se consumidos em excesso. E não necessariamente os considerados maléficos são danosos quando ingeridos em pequenas quantidades”, alerta a nutricionista e cozinheira profissional Marina Nogueira, pós-graduada em Nutrição e Esporte, aprimoranda em Transtornos Alimentares pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“Haverá sempre aqueles que poderão esperar a fruta cair do pé, mas isso é uma escolha particular”, analisa a coordenadora da Unimes.
“Recebo uma avalanche de notícias no celular e fico com a sensação de que ora ovo é ruim, ora é bom, dependendo da pesquisa que estou lendo. Compro margarina ou manteiga? Suco de fruta mantém nutrientes ou só in natura? Impossível não ficar confusa”, admite a vendedora de ar-condicionado Solange Santos.
Nem vilão, nem milagroso
A professora Valdete Lemes Stivanin, nutricionista, mestre em Saúde Coletiva e coordenadora do curso de Nutrição da Universidade Católica de Santos (UniSantos), avisa que “estamos olhando para os alimentos de maneira muito simplista: ou são vilões, ou são milagrosos. Nenhum alimento, por si só, resolve a vida de ninguém. Temos de parar com esse terror criado em cima da alimentação, pois ela faz parte dos nossos sentimentos e memórias. Proteínas, ácidos graxos, carboidratos e demais nutrientes são consequências de um cardápio balanceado”.
Para o público em geral não ficar perdido diante de tantas condenações e absolvimentos, Marina aconselha sempre duvidar de promessas ou de estudos que demonizam ou endeusam um alimento. Essa nutricionista, na paralela dos atendimentos em consultório, já trabalhou em cozinha hospitalar, escolas, pastifício, startup de receitas delivery e empresa de kits para lanches. Entre panelas e balanças, percebeu que a nutrição precisava ser redesenhada e criou o blog Não Conto Calorias, com a missão de desmistificar dietas da moda, quebrar paradigmas sobre imagem corporal e repensar a relação das pessoas com a comida.
Esse redesenho também é importante devido ao fato de que o estilo de vida atual dificulta ter uma alimentação menos processada, mais caseira. “A vida corrida é um complicador, mas ainda assim dá para se adaptar”, garante Marina. “Não adianta eu me fartar de goji berry, chia e linhaça se continuar consumindo um monte de frituras, alimentos ultracalóricos, refrigerantes, bebidas alcoólicas… E ainda por cima não praticar atividade física. Isso não levará a uma melhor qualidade de vida”, pontua Valdete.
Via A Tribuna