Encontro de Cinema Negro homenageia ativista americana

Evento começa nesta quarta e vai até 3 de novembro no Rio

Vinícius Lisboa

O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul – Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas completa 12 anos este ano e vai exibir curtas, médias e longas metragens de hoje (23) a 3 de novembro no Rio de Janeiro. Serão 104 filmes nacionais e 40 internacionais em um festival que, pela primeira vez, será totalmente coordenado por mulheres, com Biz Vianna na direção executiva, Viviane Ferreira na direção artística e Janaína Oliveira e Carmen Luz na curadoria.

Angela Davis
A pensadora e ativista Angela Davis, homenageada no Encontro de Cinema Negro – Arquivo/Agência Brasil
A sessão de abertura, no tradicional Cine Odeon, terá presença da pensadora e ativista negra norte-americana Angela Davis, que receberá a Medalha Tiradentes, concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).

Angela Davis integrou o grupo Panteras Negras na luta contra o racismo e pelos direitos da população negra nos Estados Unidos e chegou a ser perseguida e presa na década de 1970. Ela fará uma conferência na abertura do festival, na noite de hoje, quando também será homenageada a atriz brasileira Léa Garcia, que tem uma extensa carreira na televisão, no teatro e no cinema, incluindo a participação no clássico Orfeu Negro, em 1959.

A sessão de abertura também terá a exibição do longa Um Dia de Jerusa, estrelado por Léa Garcia e dirigido por Viviane Ferreira. O filme é um dos 41 realizados por diretoras negras que está incluído na programação.

Além do Cine Odeon, na Cinelândia, haverá exibições de filmes no Museu de Arte do Rio (MAR), na Cinemateca do Museu de Arte Moderna e também em Niterói, no Cine Arte UFF. Está prevista a exibição de filmes de vários países, além da realização de mesas-redondas, cursos, oficinas e painéis.

A curadora do encontro, Janaína Oliveira, disse que o festival já se consolidou como importante janela de exibição do cinema negro na América Latina e realizará neste ano uma edição histórica em termos de participação internacional. “Este ano, a gente teve a procura de pessoas importantes no mainstream internacional, que nos contataram porque estavam interessadas em participar”, disse ela, citando o exemplo do diretor americano Terence Nance. “A gente precisa ir além de exibir os filmes, precisa trabalhar na formação da plateia, na formação do olhar, na formação do cineasta”.

Para Janaína, com o encontro chegando aos 12 anos, pode-se dizer que parte da plateia que hoje lota as sessões foi formada em um cenário de maior acesso da população negra a espaços de formação e maior reivindicação por representatividade, o que inclui o próprio trabalho do Centro Afro Carioca de Cinema, organizador do evento. “O cenário mudou. Parte dessa geração que hoje vê os filmes não só frequentou o encontro como sabe da luta do Zózimo. Ele é uma referência estética, por conta dos filmes, e política, na afirmação da urgência de falar da necessidade de ter pessoas negras atrás das telas e na frente das telas, na plateia”.

O Centro Afro Carioca de Cinema foi fundado em 2007 pelo ator e cineasta Zózimo Bulbul, que morreu em 2013, aos 75 anos. O artista trabalhou em 30 filmes como ator, dirigido por nomes como Antunes Filho, Cacá Diegues, Ola Balogum e Ruy Guerra.

Zózimo foi o primeiro protagonista negro de uma novela brasileira, em Vidas em Conflito, trama em que fez par romântico com Leila Diniz.

Como diretor, Zózimo realizou quatro curtas, três médias e um longa-metragem, e foi premiado pelo curta Alma no Olho.

EBC

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