Dom Pedro José Conti: O Pêndulo
O relojoeiro ia consertar o pêndulo de um relógio quando, para sua surpresa, ouviu o pêndulo falar. – Por favor, senhor, deixe-me em paz – implorou o pêndulo – Será um ato de bondade de sua parte. Pense no número de vezes que terei que tiquetaquear dia e noite. Tantas vezes por minuto, sessenta minutos por hora, vinte e quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Ano após ano… Milhões de vezes de tique-taques. Eu não aguentaria. Mas o relojoeiro respondeu sabiamente:
– Não pense no futuro. Faça apenas um tique-taque por vez e desfrutará cada um deles, o resto da vida. E foi exatamente isso que o pêndulo decidiu fazer. E continua a tiquetaquear com alegria.
No primeiro domingo de novembro, todo ano, celebramos a solenidade de Todos os Santos e Santas. Escutamos novamente o evangelho das Bem-aventuranças e somos convidados a reconhecer nelas o caminho de toda santidade. Por isso, a Igreja nos apresenta sempre muitos exemplos de santidade, os mais variados, de todas as épocas, de todas as idades e de todas as classes sociais.
Todo batizado é chamado à santidade, ou seja, a viver conforme o Evangelho de Jesus Cristo. Cada um e cada uma de nós na nossa condição, no nosso tempo, no nosso lugar, com as nossas virtudes e defeitos. Acredito que muitos que se dizem cristãos tenham medo ou receio da “santidade”, como se fosse uma obrigação incômoda, um fardo pesado a ser carregado. Estamos muito longe de almejar a santidade como algo que deveria ser comum a cada batizado e batizada. “Comum” não quer dizer banal, mas que é possível a todos, não, evidentemente, pelos nossos próprios merecimentos, mas pela misericórdia de Deus, oferecida “de graça” àqueles e àquelas que se dispõem a serem “amigos” dele.
Em geral, por causa das suas vidas contadas com detalhes surpreendentes, das apresentações artísticas e da nossa imaginação, pensamos nos santos e nas santas como pessoas extremamente devotas, em constante oração e contemplação, com os olhos sempre virados para o céu. Espantam-nos os relatos do rigor de certas renúncias, das longas penitências, dos jejuns absolutos, da solidão do deserto. Outras vezes, é a coragem do martírio deles e delas que nos empolga, mas, ao mesmo tempo, nos distancia deles por nos sentirmos fracos e incapazes de tantas proezas. O ideal da pureza de certos santos e santas nos parece tão elevado que acabamos considerando-os seres mais celestiais que humanos. A boa intenção de fazer conhecer as qualidades cristãs de tantos santos e santas famosos, que viveram em outros tempos e circunstâncias, faz-nos chegar à conclusão, infelizmente, que uma santidade assim seja possível somente para poucos e, com certeza, não o será nunca para nós.
Desistimos antes de começar. Com essas considerações não quero dizer que devemos deixar de falar bem dos santos. Quero dizer, simplesmente, que o verdadeiro heroísmo e a verdadeira alegria da fé podem acontecer em algum momento especial, único talvez, de nossa existência, mas, em geral, são o resultado de uma caminho fadigoso e lento, feito de coisas simples, com o sabor do cotidiano, do pequeno, do escondido. Nenhum santo ou santa foi tal porque buscava ser importante. Foi muito tempo depois que as suas virtudes foram reconhecidas ou foi o próprio povo cristão a revelar as maravilhas que tinham acontecido naquelas vidas tão humildes e silenciosas.
Resumindo: a santidade é para todos porque nasce, em primeiro lugar, da confiança que devemos ter no próprio Senhor, mais do que nas nossas forças. Depois vem do desejo de servir a ele nos pobres, nos pequenos e necessitados. Se alimenta com a certeza que podemos aprender algo mais todo dia com a sua Palavra e que podemos perseverar a vida inteira nos nossos compromissos, apesar da rotina, das dificuldade e do cansaço. A santidade de todos os dias pede humildade e paciência; jamais desconfia da misericórdia e do surpreendente amor de Deus. Vamos pedir-lhe que nos deixe em paz em nosso comodismo e mediocridade? Pedimos-lhe a alegria da santidade “comum”.
Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá