Enquanto Ocidente debate impasse na Ucrânia em Munique, Rússia testa mísseis
Em meio às crescentes tensões na fronteira com a Ucrânia, governo russo testa armas sob supervisão de Putin. Em Munique, líderes ocidentais debatem sanções econômicas à Rússia e reforçam apoio à Ucrânia.Com supervisão do presidente Vladimir Putin, em meio às tensões com o Ocidente em relação a uma possível invasão à Ucrânia, a Rússia testou mísseis com capacidade nuclear neste sábado (19/02).
O Ministério da Defesa da Rússia disse que o exercício envolveu quase todos os braços das forças armadas, incluindo as forças estratégicas de mísseis, bem como as frotas do Mar Negro e do Norte, que possuem submarinos com armamento nuclear.
“Todos os mísseis atingiram seus alvos, confirmando os objetivos de desempenho”, declarou o governo russo, acrescentando que as simulações incluíram bombardeiros e submarinos.
A televisão russa mostrou imagens de Putin e do líder de Belarus, Alexander Lukashenko, sentados próximos a uma mesa redonda, em uma sala do Kremlin, em frente a telas que mostravam os comandantes militares durante testes com mísseis balísticos hipersônicos, de cruzeiro e nucleares.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reforçou que “tais testes são impossíveis [de ocorrer] sem o chefe de estado”.
Enquanto a Rússia testava armamentos na manhã deste sábado, líderes ocidentais reuniram-se na Alemanha para a Conferência de Segurança de Munique, que ocorre anualmente.
O secretário-geral da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg, afirmou que a Rússia deveria evitar um “conflito devastador na Ucrânia”. Ele observou que o “risco de conflito é real” pelo fato de a Rússia acumular militares e munição em regiões próximas à fronteira com a Ucrânia, o que os russos têm negado repetidamente.
“Nunca é tarde para a Rússia mudar de rumo, se afastar da crise, parar de se preparar para a guerra e começar a trabalhar para uma resolução pacífica”, afirmou.
Em seu discurso, Stoltenberg disse que o Ocidente “sempre fará o necessário para se proteger e defender uns aos outros”. Ainda de acordo com o secretário-geral da Otan, “Moscou está tentando reverter a história e recriar suas esferas de influência. Portanto, se o Kremlin pretende ter menos [presença da] Otan em suas fronteiras, só terá mais [presença da] Otan”, disse, referindo-se a um possível conflito com a Ucrânia.
Chefe da UE: “Esperamos o melhor, mas estamos preparados para o pior”
Também presente na Conferência de Segurança de Munique, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reiterou que o Ocidente está preparado para responder com fortes sanções econômicas caso a Rússia ataque a Ucrânia.
“Estamos enfrentando uma tentativa gritante de sobreposição às regras da ordem internacional. Isso é o que as políticas do Kremlin significam na prática: instalar o medo e chamá-lo de ‘exigências de segurança’. Podemos impor altos custos e severas consequências aos interesses econômicos de Moscou. Esperamos pelo melhor [uma resolução diplomática, por exemplo], mas estamos preparados para o pior”, afirmou Von der Leyen.
A líder da União Europeia também destacou a necessidade de o bloco diversificar suas fontes de energia, referindo-se à dependência que alguns países da Europa Ocidental têm do gás proveniente da Rússia.
“Uma União Europeia forte não pode ser tão dependente de um fornecedor de energia que ameaça iniciar uma guerra em nosso continente”, disse, deixando claro que a Europa suportaria o próximo inverno mesmo se a Rússia cortar o fornecimento de gás para o continente.
Líderes demonstram extrema preocupação
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, foi bastante contundente em seu discurso durante a Conferência de Segurança de Munique, neste sábado. Scholz disse que “a Europa mais uma vez enfrenta uma ameaça de guerra, e o risco não foi de forma alguma evitado”.
O líder alemão disse que o Ocidente não deve ser “ingênuo” e reafirmou o compromisso de Berlim com os países para que decidam de maneira independente se querem ou não se candidatar para o ingresso na Otan.
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, pediu cautela quanto a tentativas de adivinhar a forma como a Rússia vai agir neste momento de impasse.
“Em situações de crise, a coisa mais inapropriada a fazer é de alguma forma adivinhar ou supor”, disse, neste sábado, em Munique.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que a Rússia não tem nada a ganhar com o que chamou de “empreitada catastrófica”, reforçando que, em caso de invasão à Ucrânia, o impacto ecoaria em todo o mundo.
“O risco agora é que as pessoas tirem a conclusão de que a agressão compensa”, disse Johnson, que ainda acredita ser possível “seguir o caminho da paz e do diálogo”.
Johnson também fez coro ao apelo da presidente da Comissão Europeia para que a Europa “diminua a dependência do petróleo e do gás de Putin”.
EUA reforçam peso de sanções econômicas
A vice-presidente americana, Kamala Harris, reuniu-se com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, neste sábado, durante a Conferência de Munique. E deixou claro que qualquer ameaça à Ucrânia será levada a sério pelos aliados ocidentais.
Zelenski respondeu, dizendo que “entendemos perfeitamente o que está acontecendo. É o nosso país. Queremos paz”. Ele também afirmou que Kiev precisa da ajuda de aliados ocidentais para tomar “medidas específicas”, aludindo aos pedidos da Ucrânia em relação a mais ajuda militar e econômica.
Harris reiterou as advertências quanto a possíveis sanções econômicas a Moscou: “Não vamos parar com medidas econômicas, e vamos reforçar ainda mais nossa aliança da Otan no flanco oriental”.
Durante visita à Lituânia, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, prometeu que os Estados Unidos vão permanecer ao lado de seus aliados.
“Quero que todos na Lituânia, Estônia e Letônia saibam, e quero que o presidente [Vladimir] Putin no Kremlin saiba, que os Estados Unidos estão com os aliados. Há meses, a Rússia vem acumulando forças militares na Ucrânia e arredores, inclusive em Belarus. Eles estão desenrolando [a ação] e, agora, estão prontos para atacar”, disse Austin.
gb/bl (AFP, AP, Interfax, Reuters)