‘Queremos conectar esforços para garantir saúde como política pública’, diz governador Clécio Luís na ação para indígenas Wajãpi

Governo do Amapá, Doutores da Amazônia e parceiros promovem a missão ‘Mais Sorrisos’ em terra indígena amapaense até o dia 28 de junho.

Fabiana Figueiredo

Os indígenas Waiãpi são os primeiros a receberem a ação de saúde “Mais Sorrisos”, organizada pelo Governo do Amapá com a ONG Doutores da Amazônia e parceiros. O primeiro dia de atendimentos especializados ocorreu na terça-feira, 21, com a participação de 40 médicos e profissionais de saúde voluntários que oferecem na aldeia Aramirã, serviços médicos das mais variadas especialidades, como odontologia, oftalmologia, pediatria e clínico geral, além de exames.

A missão, que atende indígenas amapaenses que moram a mais de 300 quilômetros de Macapá, no município de Pedra Branca do Amapari, ocorre até o dia 28 de junho, e foi organizada através de um diálogo entre o Estado, o desejo do Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) e os Doutores da Amazônia.

O governador do Amapá, Clécio Luís, destacou que a intenção é que a ação inspire a formatação de uma política pública de Estado para atender quem mora em regiões de difícil acesso, como indígenas e ribeirinhos.

“Essa ação concreta de saúde para a população indígena só aconteceu com a ajuda de muitos parceiros. Mas não queremos que essa iniciativa se encerre aqui. Como Governo do Estado, queremos encontrar uma saída para conectar o trabalho que é feito pelo Dsei [Distrito Sanitário Especial Indígena] na atenção básica com as nossas ações de média e alta complexidade. É garantir serviços de saúde pública como política pública para os povos indígenas”, destacou o governador.

Realizando a ação pela primeira vez no Amapá, a ONG Doutores da Amazônia reuniu os profissionais, com auxílio da Força Aérea Brasileira, transportou equipamentos de alta tecnologia para a aldeia e mostra a cada dia da missão, a importância do voluntariado.

“Essa ação não traz só saúde especializada para esses indígenas, mas também serviços de cidadania, porque quando a gente for embora fica um legado. A aproximação do Estado com os indígenas, gerada pela ação, é importante porque pode haver diálogo e, consequentemente, melhorias”, afirmou Caio Machado, presidente da ONG Doutores da Amazônia.

A ação se concentra na aldeia Aramirã, mas os indígenas das demais aldeias também viajam em direção ao local para receberem atendimentos. Segundo o Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina), o território possui mais de 600 mil hectares demarcados como Terra Indígena Waiãpi, com cerca de 1,8 mil indígenas que moram em mais de 120 aldeias.

A jovem Karota Waiãpi, de 25 anos, foi uma das primeiras a participar da ação, junto aos pais, filhos e irmãos. Ela buscou serviços com dentista, psicólogo, fez exames de sangue e ressaltou a importância de ter mobilizações como esta.

“Aqui no polo não tem esse tipo de atendimento para a comunidade. O dentista geralmente faz mais limpeza. E aqui foi diferente. Eu quero que a ação aconteça sempre, vindo equipe grande para trabalhar com a gente. A gente tem muita dificuldade para ir para Macapá, só quem tem dinheiro que viajam para ter atendimento médico”, descreveu.

Assim como Karota, o Kaviano Waiãpi, de 36 anos, também foi até a ação para ser atendido por um dentista. Ele conta que sentia falta de um tratamento mais profundo.

“É muito importante o odontólogo estar aqui na aldeia para atender nossa comunidade indígena. É difícil conseguir ir pra cidade, nem todos conseguem. Quando vamos, tem que pagar. Sendo aqui e de graça, melhorou muito pra nós. Vim fazer restauração em um dente, porque eu tenho dificuldade de comer, e agora vai voltar ao normal como era antes, com saúde”, celebrou Kaviano.

Saúde em regiões distantes
A primeira-dama Priscilla Flores, que também é cirurgiã-dentista, coordena o Mais Sorrisos. Ela conta que levar os profissionais de saúde até regiões mais distantes proporciona também dignidade a esses amapaenses.

“Tudo aqui foi feito a partir da autorização de quem mora aqui e atendendo ao que é demanda deles, no âmbito de especialidades. Trouxemos tecnologias avançadas para ofertar os melhores tratamentos, e, assim, oferecer saúde e também dignidade, que são direitos de todos”, ressaltou Priscilla.

Os atendimentos a indígenas que não falam a língua portuguesa são um desafio para os profissionais. Com ajuda dos mais novos e de intérpretes, os indígenas vão sendo atendidos.

Usando a língua materna e algumas palavras na língua portuguesa, Jeremã Waiãpi, de 53 anos, explicou ao ser atendida que estava com dificuldades na visão. “Não consigo ver direito”, disse com dificuldade.

Ela saiu da ação com um óculos de grau para ter maior qualidade de vida. Também teve acesso a um psicólogo e um odontologista.

Parceiros
O planejamento iniciou em novembro de 2022, com consultas aos chefes Wajãpi e visitas à aldeia Aramirã, além de tratativas com os possíveis parceiros para que a ação fosse realizada.

Os voluntários dos Doutores da Amazônia foram os primeiros a confirmar a parceria, dispondo de equipamentos para realizar os atendimentos, óculos de grau para os indígenas que precisarem desse suporte, além de vários profissionais, medicamentos, e apoio logístico.

No local, os indígenas podem ter acesso a dentistas para tratamentos de média e alta complexidade, inclusive cirurgias; clínico geral; pediatra; ginecologista; oftalmologista; enfermeiro; entre outros atendimentos.

Pelo Estado, participam da ação as secretarias de Saúde (Sesa), de Povos Indígenas (Sepi), de Políticas para Mulheres (SEPM), de Governo (Segov), de Mobilização, de Assistência Social, de Comunicação (Secom), e do Centro de Gestão da Tecnologia da Informação (Prodap).

Também integram como parceiros o Exército Brasileiro, os senadores Davi Alcolumbre e Randolfe Rodrigues, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), a Apina, a Prefeitura de Pedra Branca do Amapari, o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Associação Brasileira de Odontologia-Seção Amapá (ABO), Conselho Regional de Odontologia do Amapá (CRO), Associação dos Procuradores do Amapá, e empresários.

Foto de capa:  Maksuel Martins/GEA

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