Ultraprocessados representam quase 1/3 da dieta de gestantes
Consumo prejudica a saúde da mãe e do bebê a longo prazo; excesso de ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver doenças como diabetes e obesidade
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Quase um terço da dieta das grávidas brasileiras (32%) é composto de alimentos ultraprocessados, mostra uma nova pesquisa feita na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, que buscou investigar as características sociodemográficas e de estilo de vida associadas ao consumo desses itens por gestantes.
Segundo a pesquisa, mulheres mais jovens, de classes mais altas e aquelas que já tinham excesso de peso antes da gravidez têm maior tendência a esse tipo de alimentação. Produtos como refrigerantes, pão de queijo, bolachas e linguiça estão entre os mais consumidos. Os autores chegaram a essa conclusão após avaliar 784 gestantes a partir de questionários que permitiram estabelecer o padrão de consumo usual dessas mulheres. Depois, essas informações foram associadas com dados como idade, nível socioeconômico e estado nutricional antes de engravidar.
“O resultado não nos surpreende porque há uma mudança no padrão de consumo em geral que vem sendo acompanhado pelas gestantes, com aumento da ingestão de ultraprocessados e redução da ‘comida de verdade’, aquela que inclui frutas, legumes, verduras e alimentos minimamente processados”, diz a nutricionista Natália Posses Carreira, autora do estudo.
Ultraprocessados têm substituídos as refeições
A pesquisadora observa que esses alimentos estão sendo usados como substitutos das refeições. “Em vez de comer uma fruta no lanche, preferem bolacha ou pão de queijo, por exemplo. Esses são itens dispensáveis, carentes em nutrientes essenciais como vitaminas, minerais e proteína, e que contribuem significativamente para a ingestão calórica diária.”
Segundo a autora, as gestantes mais velhas parecem ter mais acesso a informações sobre qualidade de alimentos e aquelas de classes menos favorecidas acabam consumindo mais alimentos tradicionais, como arroz e feijão. “Apesar disso, sabemos que também há uma mudança nesse aspecto pois estudos mostram que o preço dos ultraprocessados vem caindo desde os anos 2000 e isso, aliado à facilidade de acesso, facilita o consumo mesmo pelas classes mais vulneráveis”, observa a nutricionista.
O problema é que o consumo excessivo desse tipo de alimento tem implicações na saúde da mulher e da criança a longo prazo. “Além de não nutrir adequadamente a mãe e o bebê com vitaminas e minerais essenciais para o desenvolvimento saudável, o consumo de ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver doenças como diabetes e obesidade”, diz a nutricionista Fabiana Fiuza Teixeira, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Essa alimentação também impacta negativamente a construção de um comportamento alimentar saudável de toda a família, lembra a especialista.
Os ultraprocessados são alimentos que passaram por grande transformação na indústria envolvendo diversas técnicas de processamento e contém aditivos como corantes e conservantes que mudam cor, textura, sabor e aroma. Essa categoria inclui cereais matinais, embutidos, salgadinhos, pratos prontos, chocolates, refrigerantes, entre outros.
Estudos mostram que, em excesso, estão associados a maior risco de problemas cardiovasculares, diabetes e doenças crônicas. Por isso seu consumo deve ser mínimo, sendo que a maior parte da alimentação deveria ser composta de alimentos in natura, de origem vegetal ou animal, como frutas, verduras, grãos, carnes e ovos.
“A educação é uma grande aliada para combater o consumo exagerado desses produtos. Quanto mais conhecimento, melhores escolhas a gente faz”, diz Teixeira, que ressalta a importância de ler os rótulos das embalagens e avaliar os componentes nutricionais, os ingredientes, o modo de fabricação e demais detalhes antes de comprar um produto.
Fonte: Agência Einstein