Por uma outra globalização linguística

De acordo com dados divulgados em julho de 2023 pelo Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o número de pessoas deslocadas no mundo alcançou a impressionante marca de 117,3 milhões, podendo, em 2024, superar a marca dos 120 milhões de migrantes. No Brasil, os dados divulgados pela Agência Brasil revelam que mais de 950 mil migrantes entraram no Brasil desde 2017 pela cidade de Pacaraima, na fronteira de Roraima com a Venezuela. 

A migração, neste contexto, ocorre pelos fatores relacionados às questões políticas, econômicas, financeiras e humanitárias fazendo com que milhares de  cidadãos  no mundo se desloquem de suas casas ou locais de residência habitual em busca de melhores condições de vida e de trabalho no Brasil e no mundo. Este cenário têm causado uma série de discursos em torno da aprendizagem obrigatória de português para os migrantes venezuelanos no Brasil, gerando a necessidade de reflexão sobre o funcionamento do dispositivo colonial na sociedade brasileira e, consequentemente, a busca por uma outra globalização linguística que possibilite o acolhimento linguístico-cultural desse público.

 Professor doutor Marcus Vinícius da Silva, Coordenador de Relações Internacionais da UFRR e integrante do Programa de Pós-Graduação em Letras da  UFRR

Nesse sentido, esse será o tema que o professor doutor Marcus Vinícius da Silva, Coordenador de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e integrante do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Roraima (PPGL/UFRR), debaterá durante no 1º Congresso dos Professores da Educação Básica em Língua, Linguagem e Literatura da Panamazônia (1º Cllimaz) e o 2º Encontro dos Egressos do ProfLetras da UFPA (2º Letrasvivaz). Esses eventos serão realizados de 24 a 27 de setembro, no Centro de Convenções Benedito Nunes, em Belém, no Estado do Pará.

Em sua exposição, intitulada  “Por uma outra globalização linguística: reflexões sobre o dispositivo colonial e o ensino de Português como Língua de Acolhimento (PLAC) nas fronteiras roraimenses”, Marcus Vinícius da Silva,  apresentará,  de forma introdutória,  reflexões sobre as relações de saber e poder que estão na base das estratégias discursivas para o ensino de português como língua de acolhimento materializada em Roraima, que possui uma população estimada em 636.707  mil habitantes, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o professor, o estado roraimense é um espaço geográfico complexo, pois apresenta  características de funcionamento particulares e diferentes das normas sociais, linguísticas e culturais estabelecidas hegemonicamente pela imposição do dispositivo colonial, o que têm gerado uma série de discursos de ódio e de xenofobia contra os migrantes venezuelanos, que se perpetua para além da obrigatoriedade do ensino de português simplesmente.

Marcus detalha que debater sobre os desafios do acolhimento linguístico-cultural no Brasil  significa também pensar em outra forma de globalização linguística, sendo uma temática urgente a ser problematizada no 1º Cllimaz e no 2º Letravivaz, sobretudo com professores da educação básica. “Vamos propor políticas de ensino comprometidas com a ecologia linguística e a sustentabilidade, enfatizando, assim, a importância da inclusão social, linguística, étnica, cultural, artística no espaço escolar e linguístico da sociedade brasileira”, assinala.

O 2º Letrasvivaz viabiliza a formação continuada dos docentes da rede pública fundamental e básica. Desde 2013, quando teve início o Programa, mais de 4,1 mil professores de Língua Portuguesa se tornaram mestres e atuam na área educacional em 42 universidades públicas no Brasil. Os dois eventos são organizados pelo Programa, Unidade Regional Norte, e tem o apoio institucional da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Instituto de Letras e Comunicação (ILC- UFPA) e o patrocínio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação (MEC).

Texto: Kid Reis – Ascom UFPA/ProfLetras/ Norte – Foto: Marcus Vinícius.

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