Iniciativa valoriza a cultura Afro-Brasileira e Indígena através da Educação Ambiental e da Cultura Popular

Em um esforço para fortalecer e ampliar a aplicação da Lei nº 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana” e da Lei nº 11.645/2008, que instituiu o ensino de História e Cultura Indígena nos currículos das redes de educação básica, um projeto cultural está trazendo uma rica contribuição para dentro dos espaços formais e não-formais de ensino. A iniciativa, encabeçada pela renomada Mestra Neya e pelo Grupo de Carimbó Jangada Encantada, é apoiada por jovens produtores e comunicadores das periferias de Belém, com o objetivo de compartilhar e celebrar a bagagem cultural da comunidade carimbozeira. 

Neste ano (2024), o Carimbó celebra uma década como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, reconhecido oficialmente em 11 de setembro de 2014. A prática cultural, que possui raízes profundas nas comunidades tradicionais e periféricas, é sustentada pelos conhecimentos e práticas dos Mestres e Mestras de Carimbó. O projeto intitulado “Carimbó pra Encantaria – O Futuro é Ancestral!”, é um marco na preservação e valorização do carimbó na região metropolitana de Belém.

A programação do projeto contará com duas oficinas. A primeira com o tema “Tecnologia Ancestral do Carimbó – Instrumentos musicais reciclados a partir do lixo urbano” que será realizada na Escola Professor Francisco das Chagas de Azevedo Cacau, em Icoaraci (PA). Nesta oficina serão abordados os processos de construção de instrumentos musicais reciclados a partir do lixo urbano, trazendo matérias-primas sustentáveis e narrativas culturais, presentes nos saberes e fazeres da Mestra Neya junto a comunidade carimbozeira. 

Latas, capacete de moto, panela, tampinhas de garrafa, sementes, são alguns dos materiais que fazem parte dessa aula de educação socioambiental frente às mudanças climáticas, a partir do Carimbó e da (re)conexão ancestral das pessoas com as histórias e tradições da cultura paraense e afroamazônida.

A oficina contará com a facilitação de Mestra Neya e Samara Cheetara. Os mestres da cultura popular contribuem na defesa da Amazônia quando compartilham sua visão sócio ambiental.”Nós contribuímos transmitindo conhecimentos, repassando pela oralidade, da musicalidade, e através das oficinas de preservação e temas relacionados à preservação do meio ambiente e reciclagem do lixo, tudo isso ajuda a preservar o meio ambiente.”, conta Mestra Neya de 58 anos de idade e com 28 anos de carreira estudando diretamente com outros mestres da cultura popular paraense. 

A segunda oficina “Carimbó pra Encantaria – Musicalização com Maracás frente às mudanças climáticas” será realizada na Barca Literária, na comunidade da Vila da Barca, no bairro do Telégrafo em Belém. Nesta oficina, a partilha com jovens e adolescentes será sobre as técnicas de musicalização em saudação aos caboclos e encantados, presentes da identidade amazônida e na cultura de matriz africana e indígena, a partir de um repertório musical e cultural de enfrentamento das mudanças climáticas e de justiça climática e social.

“Por as turmas serem grandes, não conseguimos abrir inscrição, mas estamos muito abertos para realizar a oficina com parcerias em outros espaços. Na verdade, esse é o nosso objetivo: que se expanda e consiga fortalecer e movimentar os saberes e fazeres ancestrais e culturais do carimbó em outros espaços, e também fortalecer as redes de parcerias da Mestra Neya e da Jangada Encantada.” Comentou Samara Sheetara, de 25 anos de idade, maraqueira, produtora cultural e integrante do grupo Jangada Encantada. 


“Aqui na feira do Paracuri, a gente fazia muita musicalização, apareceu muita criança e a gente ensinava (…) é um modo também da gente repassar o nosso conhecimento para essa geração.” Relembra a mestra Neya de como surgiu a ideia de realizar as formações, a partir das oficinas quase que por acaso, em Icoaraci, distrito de Belém do Pará.  

A seleção da iniciativa para o Prêmio Culturas Populares e Tradicionais Mestre Lucindo, no Edital 08/2023 da Premiação Cultura Viva Sérgio Mamberti, destaca o impacto significativo das ações culturais e ancestrais promovidas pela Mestra Neya. Com mais de uma década de dedicação à preservação do Patrimônio Imaterial e da cultura dos povos de terreiro, “Neya das Maracas” como também é conhecida, tem sido uma figura  central na difusão do Carimbó e na educação sobre a identidade amazônida. 

O projeto “Carimbó pra Encantaria – O Futuro é Ancestral!” promove a oralidade e a vivência do Carimbó com Axé, oferecendo uma plataforma para a juventude negra e periférica se conectar com sua ancestralidade. Através de composições musicais e saberes tradicionais, o projeto não só preserva a cultura amazônida, mas também empodera mulheres e jovens, utilizando a cultura como ferramenta de transformação socioambiental e ancestral.

A iniciativa de Mestra Neya, juntamente com o Grupo de Carimbó Jangada Encantada, é um testemunho do poder da cultura como meio de educação e empoderamento, reafirmando o compromisso com a valorização e a preservação das tradições afro-brasileiras e indígenas para as futuras gerações. _____________________________________________________________________

Sobre a Mestra Neya:

Mestra Neya é uma figura proeminente na preservação e promoção do Carimbó e das culturas tradicionais amazônidas. Com uma carreira dedicada ao ensino e à transmissão dos saberes ancestrais, Neya é reconhecida por seu trabalho em fortalecer a identidade cultural e promover a educação socioambiental.

Sobre o Grupo de Carimbó Jangada Encantada:

O Grupo de Carimbó Jangada Encantada é uma coletividade dedicada à prática e à celebração do Carimbó, preservando a riqueza cultural e musical das tradições afro-brasileiras e indígenas. O grupo é conhecido por suas apresentações vibrantes e por seu trabalho em promover a cultura amazônida nas comunidades e na educação formal.

Mestra Neya, com mais de 10 anos dedicados à preservação do Patrimônio Imaterial e da cultura dos povos de terreiro, desenvolve o projeto “Carimbó pra Encantaria – O Futuro é Ancestral”. Este projeto promove a cultura do Carimbó e a saudação aos caboclos e encantados da Amazônia, conectando a juventude negra e periférica, especialmente mulheres, com sua ancestralidade através da oralidade e práticas culturais. Desde 2011, Neya tem atuado na difusão do Carimbó e na valorização da mulher negra amazônida na produção artística. Ela fundou o Grupo de Carimbó Jangada Encantada em 2019, onde realiza atividades culturais de forma independente, sem apoio governamental, mas alinhado com políticas públicas como o Plano Nacional de Cultura e o Plano de Salvaguarda do Carimbó.

A iniciativa enfrenta desafios como a falta de inclusão do Carimbó nas escolas e a exclusão digital, mas promove a cultura por meio de oficinas, rodas de conversa e eventos como o Mangueio, que ajuda na sustentabilidade financeira do projeto. Além disso, Neya utiliza técnicas sustentáveis na construção de instrumentos musicais e promove a educação socioambiental, valorizando o protagonismo feminino e a conexão com a ancestralidade no Carimbó.

SERVIÇO

1ª Oficina “Tecnologia Ancestral do Carimbó – Instrumentos musicais reciclados a partir do lixo urbano” 

Local: EEETEPA – Professor Francisco das Chagas de Azevedo Cacau 

Endereço: R. Monsenhor José Maria Azevedo – Campina de Icoaraci, Belém, 66813-640 

Data: 11/08/2024

Horário: 08h30 às 11h30 

Público: Comunidade escolar

2ª Oficina: Carimbó pra Encantaria – Musicalização com Maracas frente às mudanças climáticas. 

Local: Barca Literária  

Endereço: Passagem Praiana, n° 55B – Telégrafo, Belém – PA

Data: 30/08/2024

Horário: a partir das 19h

Público: Jovens e Adolescentes  

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