Deputados criam comissão para apurar responsabilidades pela enchente em Ferreira Gomes

Alagamento criminoso precisa ser apurado com rigor
Alagamento criminoso precisa ser apurado com rigor

Parlamentares que fazem parte da força-tarefa de apoio aos moradores de Ferreira Gomes, participaram, na manhã desta sexta-feira, 8, de uma coletiva de imprensa, sobre a comissão especial criada para apurar as responsabilidades pela enchente do Rio Araguarí, ocorrida na quinta-feira, 7, naquele município.

Nesta segunda-feira, 12, será aprovada a comissão dos parlamentares que irão apurar o sinistro. A primeira medida será convidar os diretores das três hidrelétricas (Coracy Nunes, Ferreira Gomes Energia e Cachoeira Caldeirão), visando buscar respostas precisas sobre as causas da enchente na sede do município, que desabrigou cerca de 120 famílias. “A situação não pode ficar sem desfecho. O que ocorreu em Ferreira Gomes foi gravíssimo e, partir desse fato, a cidade não será mais a mesma. Tenham certeza disso”, afirmou Paulo lemos.

A comissão deverá ser composta pelos deputados Paulo Lemos, Pedro Dalua (PSC), Pastor Oliveira (PRB), Edna Auzier (PROS) e Dr. Furlan (PTB).

Enchente e desespero

Após tomar conhecimento que o município de Ferreira Gomes, há 137 quilômetros de Macapá, havia sido inundado, subitamente, no final da manhã desta quinta-feira, 7, pelas águas do Rio Araguarí, o deputado estadual Paulo Lemos (PSOL) foi até o local para apurar a situação da enchente e prestar solidariedade às famílias atingidas pelas cheias do rio. Moradores contam que vivem momentos desesperadores.

Segundo informações alevantadas no local pela equipe de Lemos, o nível do rio aumentou rapidamente por volta das 11h e inundou a toda orla do município, atingindo as casas que ficam na parte mais baixa da cidade. “Em menos de meia hora tudo estava no fundo”, disse, nervosa, uma moradora de uma comunidade do entorno de Ferreira Gomes. Até uma casa, que ficava na Ilha do Amor, no entorno da cidade, foi arrastada pela correnteza e uma balsa ficou à deriva.

A Prefeitura de Ferreira Gomes decretou situação de emergência no início da noite, durante reunião que contou com a presença do governador do Amapá, Waldez Góes, Corpo de Bombeiros, Ministério Público Estadual (MPE) e Defesa Civil, a qual coordena o grupo de trabalho para assistir os desabrigados.

Mais de 600 pessoas atingidas com a enchente estão alojadas nas escolas Jaci Torquato e Maria Iraci Tavares. Moradores chegaram a relatar que mais de dez pessoas haviam morrido com a tragédia, mas a Defesa Civil não confirmou ainda a informação de mortos ou desaparecidos. Os desalojados precisam agora de doações de colchões e de água potável.

As primeiras informações sobre a causa da enchente, segundo relatos dos moradores, teria sido em função do rompimento da barragem na hidrelétrica Cachoeira Caldeirão, construída na zona rural de Ferreira Gomes. Em nota, a empresa disse que, por conta da cheia do Rio Araguarí, foi necessário abrir a ensecadeira (tipo de proteção destinada a facilitar projetos de construção em áreas normalmente submersas) para permitir a passagem das águas do rio, visando garantir a segurança das estruturas e comunidades ribeirinhas.

No entanto, as autoridades e os moradores não foram avisados antecipadamente dessa medida, o que teria provocado prejuízos inesperados à população e à cidade em geral. O deputado Paulo Lemos e demais parlamentares que foram ao local pedirão à empresa mais esclarecimentos sobre o ocorrido.

O problema poderia ter tomado proporções maiores, caso a empresa Ferreira Gomes Energia, que ficam às margens do Araguarí, na sede do município, não abrisse suas comportas para dar vasão à água represada, em função também das fortes chuvas no local e após liberação do volume represado pela Cachoeira Caldeirãodo. Do contrário, dizem os parlamentares, o município de Ferreira Gomes correria o risco de fica submerso, de desaparecer do mapa.

Prejuízos e solidariedade

O pedaço de um tronco de árvores foi parar na porta da igreja de Nossa Senhora da Conceição, que fica localizada em frente na orla da cidade. A água invadiu o interior da igreja e o centro comunitário.

No local onde são ministradas as aulas de catequese, a enchente danificou equipamentos como freezer, roçadeira e caixas amplificadas de som. “Perdemos muitas coisas. Nós, que éramos acostumados a ajudar as pessoas, agora somos nós que estamos precisando de ajuda”, disse o padre Denis, responsável pela paróquia.

Houve moradores que contaram com a sorte e com a solidariedade para conseguir retirar alguns pertences de casa antes da chegada das águas do rio em suas residências, como é o caso da professora Glauciane Azevedo da Silva.

“Cheguei do trabalho por volta do meio-dia, já desesperada, achando que havia perdido tudo. O cenário era aterrorizante, parecia um filme. Pessoas correndo, gritando, chorando, pedindo ajuda. Foi horrível”, conta a professora.

Ela conseguiu salvar boa parte de seus móveis e eletrodomésticos, porque um catraieiro ajudou a colocar os pertences dela em uma área há poucos metros de onde o rio havia chegado. Lá, um caminhão-baú ajudou a fazer a remoção dos móveis até um local seguro, fica na parte mais alta da cidade, conhecida como “montanha”. No final da tarde, quando o nível do rio havia baixado, ela pôde retornar a sua casa.

Irmão e amigos da moradora Nívea Alves, que vivem em Macapá, ao saber do ocorrido, seguiram no início da tarde para o município para prestar assistência a ela. Nívea está alojada em uma das escolas de Ferreira Gomes que servem como abrigo. “Ela perdeu quase tudo. O pouco que conseguimos resgatar, estamos levando para o abrigo. Mas não sobrou quase nada”, relata um dos irmãos.

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