Entenda a ratificação do acordo de Paris e o manejo florestal sustentável
Mais de 160 líderes, inclusive a presidente Dilma Rousseff, participaram nesta sexta-feira (22) da cerimônia de assinatura do Acordo de Paris, em Nova York, na sede da ONU. O evento inicia o processo de ratificação do histórico tratado para o enfrentamento dasmudanças climáticas, acordado em dezembro de 2015, na Conferência do Clima de Paris (COP 21).
Em entrevista ao programa Amazônia Brasileira, a diretora do World Resources Institute no Brasil (WRI) e membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, Rachel Biderman, falou sobre a ratificação do Acordo de Paris e sobre o manejo florestal sustentável.
O processo de ratificação estará aberto a assinaturas e passará a valer após ao menos 55 países, que respondem por 55% das emissões globais de gases de efeito estufa, apresentem seus instrumentos de ratificação ou aceitação do acordo. O acordo entra em vigor em 2020.
Segundo a Diretora do WRI, o manejo florestal sustentável pretende fazer o uso da terra de uma forma sustentável, produzindo os alimentos, retirando a madeira e recursos da natureza, sem comprometê-la: “Na Amazônia é fundamental promover a pecuária sustentável, fazer a retirada de madeira sem comprometer a existência da floresta, através do manejo florestal. Hoje precisamos zerar o desmatamento, não podemos correr o risco de alterar a floresta, senão a emissão de gases de efeito estufa continua subindo. Restaurar as áreas degradadas da Amazônia, plantar muitas árvores, promover uma pecuária que não comprometa as áreas de florestas conservadas, fazer uma agricultura que não altere o solo de forma degradante, ou seja, realizar o manejo florestal sustentável”.
De acordo com Rachel Biderman o Brasil precisa dar apoio aos pecuaristas e trabalhadores rurais, para se ter sucesso no manejo sustentável: “É fundamental que a gente assessore, apoie os pecuaristas, os fazendeiros, os produtores, os trabalhadores rurais, os assentados, para que toda essa produção vá em uma direção boa, que não comprometa os recursos naturais. O Brasil é líder nas técnicas em como fazer uma pecuária, uma silvicultura, um plantio florestal mais sustentável. A Embrapa domina essas técnicas e vem treinando extensionistas e produtores, além de algumas ONG´s, presentes na Amazônia e no cerrado, que já estão trabalhando com essas técnicas”.
Uma questão fundamental para o pecuarista e trabalhador rural é o acesso ao crédito, que hoje em dia é caro e limitado a poucos: “Estamos trabalhando, frente a alguns bancos, para tentar um acesso ao crédito mais fácil e menos custoso, atrelado a um treinamento e uma aprendizagem, para que os produtores possam implementar essas técnicas sustentáveis, que o Brasil já domina. Uma das técnicas mais conhecidas é chamada de integração lavoura, pecuária e floresta, que é uma forma de intensificar a produção, pois se juntam em um território menor, o gado, um plantio de floresta e a lavoura, e um auxilia o outro, evitando que se avance o desmatamento de uma floresta que está conservada, pois elas são fundamentais para o equilíbrio do clima no planeta e para a conservação da água, para as próximas gerações. Usar as terras que já estão degradadas e impactadas é a forma mais correta de fazer o manejo sustentável”.
Para explicar o manejo sustentável da floresta, a Diretora do WRI, dá exemplos de formas para se fazer esse manejo: “há concessões florestais, autorizadas pelo governo para explorações de áreas de floresta de uma forma sustentável, em que se retira apenas uma parte das espécies e deixa as matrizes, ou seja, as mães árvores reprodutoras que geram as sementes intactas e preservadas, para garantir a continuidade. Outro exemplo é a restauração de pasto degradado. Quando o pasto fica degradado, ele abre o solo, que é uma fonte de gases, pela grande quantidade de carbono preso no solo e acaba emitindo gases de efeito estufa, então quando se restaura um pasto degradado, evita-se essa emissão de gases. Um exemplo que preocupa os especialistas é a produção de alimentos com o uso excessivo de agrotóxicos, pois o Brasil é o maior importador de agrotóxicos no planeta, o que gera uma contaminação nos seres humanos, nos peixes e nos animais, aumentando inclusive os casos de doenças graves, então é essencial que a população exija do governo, uma diminuição nesse uso excessivo de agrotóxicos e que o acesso a alimentos orgânicos, saudáveis e de qualidade, seja para toda a população”.
Foto: Chico Terra