Captura incidental de filhotes de peixes-bois da Amazônia preocupa pesquisadores
Há mais de 40 anos, o Inpa trabalha com os peixes-bois. O órgão reabilita os animais e prepara para que eles, após alguns anos, retornem à natureza
Silane Souza
Se o filhote de peixe-boi, vítima de captura incidental em redes de pesca, estiver em boas condições e não houver histórico recente de morte de uma fêmea no local, ele deve ser devolvido à natureza. Não importa se a mãe do animal não é vista na hora, ela está nas redondezas e o encontrará. Resgatar este bicho e entregar aos órgãos competentes, por mais que seja uma conduta louvável, também é uma atitude inconsequente para a espécie. A observação é do veterinário Anselmo D’Affonseca, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).
A manifestação sobre o assunto veio à tona em função de que, nos últimos 15 dias, o Inpa recebeu cinco filhotes de peixes-bois-da-Amazônia, o que representa quase metade da quantidade que a instituição recebe durante um ano – 10 a 12 animais, cuja espécie está ameaçada de extinção. Para os pesquisadores, a captura de um número grande de filhotes, praticamente recém-nascidos, em período curto causa preocupação, já que poderiam estar com suas mães. “Na natureza, eles têm maior chance de sobreviver”, ressalta D’Affonseca.
O veterinário, que atua no Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Inpa, explica que quando o animal é retirado de seu habitat natural e levado ao cativeiro ele passa por todo um processo de reabilitação, que gera alto custo aos cofres públicos e tem taxa de sobrevivência de 80%, e ainda corre o risco de nunca mais poder voltar à natureza. Se não bastasse, caso o bicho tenha condições de ser solto aos rios da Amazônia, isso só acontecerá após seis anos de recuperação, e ainda tem a incerteza sobre sua readaptação ao ambiente.
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