Cerca de 1 milhão de famílias estão na fila para obter Bolsa Família no Brasil
Desde 2019, governo passou a controlar entrada de beneficiários no programa; uma a cada três cidades mais pobres do país não teve novos auxílios liberados entre junho e outubro de 2019
Thiago Resende
O governo de Jair Bolsonaro congelou o Bolsa Família mesmo nas regiões mais carentes do Brasil. Uma a cada três cidades mais pobres do país não teve novos auxílios liberados nos últimos cinco meses com dados oficiais divulgados (junho a outubro de 2019). O levantamento feito pela reportagem do jornal Folha de S. Paulo considera os 200 municípios de menor renda per capita do Brasil, apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017. Em todos, houve recuo na cobertura e um ritmo de atendimento a novas famílias muito menor que em períodos anteriores.
Desde o ano passado, por falta de dinheiro, o governo passou a controlar a entrada de beneficiários no programa. Com a barreira em todo o país, a fila de espera, que havia sido extinta em julho de 2017, voltou e não há previsão para ser novamente zerada. Cerca de 1 milhão de famílias aguardavam, em janeiro, uma resposta do Ministério da Cidadania para ingressarem no programa de proteção social e transferência de renda aos mais pobres.
— Só nos resta pedir para que eles lembrem dos pobres — disse Aldeane Santana, 30 anos.
Com três filhos, Aldeana mora em Peixinhos, povoado do município de Morros, Maranhão. Ela aguarda desde maio do ano passado para entrar no Bolsa Família. Contudo, nenhuma família da cidade foi atendida desde junho. A cobertura do programa em Morros caiu para o menor nível desde de 2017, apesar do esforço para estender o Bolsa Família a povoados mais afastados e regiões ribeirinhas.
Para iniciar o processo de entrada no programa, a referência dada pelos moradores do município é uma só: a casa da Espírito. Maria do Espírito Santo é a secretária de Assistência Social da cidade desde maio de 2017.
— Eu gostaria que o jornal levasse um apelo a eles: Morros precisa da liberação de benefícios; tem gente precisando — pediu.
Segundo ela, nenhuma carta ou aviso do governo federal foi recebido no ano passado. As concessões de auxílios, de repente, foram interrompidas.
Reconhecido internacionalmente, o programa atende famílias com filhos de 0 a 17 anos e que vivem em situação de extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 89 mensais, e pobreza, com renda entre R$ 89,01 e R$ 178 por mês. O benefício médio é de R$ 191.
O Bolsa Família enfrenta, sob Bolsonaro, o período mais longo de baixo índice de entrada de novos beneficiários da história do programa. Isso também ocorre nos municípios mais pobres. Entre janeiro de 2018 e maio do ano passado, 26 famílias passavam a ser atendidas por mês no grupo de 200 cidades brasileiras com menor renda per capita. Os dados mais recentes apontam que a média mensal recuou para cinco famílias. Dessas 200 cidades, 37 tiveram apenas um novo benefício liberado de junho a outubro e, em 64 desses municípios, houve bloqueio total do programa de junho a outubro.
O congelamento foi registrado, por exemplo, em Guaribas, no Piauí — cidade berço do Bolsa Família — e em Belágua, no Maranhão — Estado que concentra a maior parte das cidades mais carentes. No cenário que se percorre de São Luis a Belágua, os traços da região — como carne de bode e a quantidade de urubus nas rodovias — se tornam mais fortes. A economia local se enfraquece e o comércio à beira da estrada cresce. Juçara —nome dado na região ao açaí — e produtos derivados de mandioca, inclusive cerveja, são anunciados.
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