FUP aponta falhas nas medidas da Petrobrás para impedir avanço da Covid-19 entre funcionários

Entidade lista pontos de atenção para barrar o contágio entre trabalhadores e continua reivindicando participação nos comitês de crise. Para a FUP, medidas econômicas anunciadas pela empresa para segurar o caixa são consequência da estratégia equivocada adotada pela alta gestão da Petrobrás.

Rio de Janeiro, 26 de março de 2020 – A Federação Única dos Petroleiros (FUP) aponta falhas nas medidas anunciadas pela Petrobrás nesta quinta-feira (26/3) para o combate à disseminação do novo coronavírus entre os petroleiros. A companhia listou uma série de iniciativas para preservar a saúde de seus trabalhadores, em suas áreas operacionais e administrativas, alinhadas às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde para mitigar os riscos de contágio, mas trabalhadores vêm relatando problemas. Além disso, a reivindicação da FUP de ter representantes dos petroleiros nos comitês de crise para o combate ao coronavírus continua não sendo atendida pela empresa.

Contrariando as reivindicações feitas na última semana pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus 13 sindicatos filiados, a companhia continua falhando nas ações de segurança sanitária, o que coloca em risco seu corpo funcional, próprios ou terceirizados, que atuam sobretudo na área operacional.

Alguns dos pontos de atenção:

Deslocamento para as plataformas – os colaboradores estão sendo transportados de van para os aeroportos, e não de forma individual, e lá se encontram com funcionários de diversas regiões do país, além de estrangeiros, causando aglomeração. Depois disso, fazem uma viagem de cerca de 1h30 em helicópteros, sem máscaras, ficando novamente expostos ao contágio.

Quarentena – as escalas propostas estão sendo de 28 dias embarcados, por 14 em terra. Desses 28 dias, sete estavam sendo em regime de isolamento social em hotéis localizados nas cidades de Campos e Macaé (RJ). De acordo com trabalhadores, o isolamento nos hotéis não está sendo respeitado, pois há circulação de outros hóspedes. Além disso, não há profissionais da saúde da companhia para receber os funcionários e fazer a medição de temperatura ou testes para a Covid-19. Segundo a OMS, a incubação do novo coronavírus pode chegar a 14 dias, fazendo com que a ação adotada pela empresa não seja suficiente. Além disso, funcionários que estão desembarcando voltam direto para suas casas, sem qualquer controle ou período de isolamento.

Nas plataformas – como o ar condicionado é central e interliga toda a plataforma, o vírus circula rapidamente. Nas plataformas mais antigas, a renovação do ar é de apenas 50%, nas mais novas de 70%, o que significa que os embarcados não têm garantia de que não serão infectados. Além disso, as atividades que ocorrem dentro de uma plataforma demandam contato e não há, em muitos casos, como respeitar a distância mínima de 1,5 m.

Sendo assim, a FUP e seus sindicatos reivindicam o cumprimento das medidas comuns à população e a outros segmentos profissionais, como a correta higienização dos ambientes, o fim da aglomeração de pessoas, inclusive em meios de transporte rodoviários e aeroviários, e a instauração de trabalho remoto para toda a área administrativa da Petrobrás e suas subsidiárias.

 

REDUÇÃO DA PRODUÇÃO FOI REIVINDICADA PELA FUP

Sobre a redução da produção de petróleo, gás natural e derivados, também anunciada hoje pela Petrobras, a FUP entende como um atendimento a um dos seus pleitos –  a federação sugeriu, na última semana, a redução de todos os efetivos em regime de turno ininterrupto de revezamento a 50% do efetivo em operação. Com isso, haverá redução na circulação de pessoas e menor risco de contágio. 

A FUP defende ainda que esse contingenciamento deve ser feito sem qualquer redução salarial dos trabalhadores. A companhia deve definir quais são os serviços essenciais para a população – que não podem parar a produção – e organizar escalas de trabalho para atender somente à essas demandas, bem como garantir os equipamentos de proteção. Caso seja comprovada contaminação em alguma unidade operacional, que haja parada imediata da produção. 

A proposição da FUP, acatada pela Petrobrás, baseia-se no atual cenário socioeconômico provocado pela pandemia de coronavírus: baixa demanda devido às medidas restritivas de circulação de transporte e pessoas; o nível alto dos estoques nacionais; os preços internacionais do barril de petróleo, extremamente voláteis. 

“É muito importante frisar que todas as medidas de cunho econômico que estão sendo tomadas pela alta gestão da Petrobrás nesse momento de crise são em resposta à uma decisão estratégica que a própria companhia tomou:  deixar de ser uma companhia integrada e priorizar a exportação de óleo cru, o que faz a empresa ser totalmente refém do mercado internacional e da volatilidade do dólar”, o coordenador geral da FUP, José Maria Rangel.

Ainda foi mencionado que a companhia prevê reduzir em R$ 2,4 bilhões o gastos com recursos humanos. Porém, a FUP reivindica que horas extras, férias e Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) devem ser discutidos com a categoria. 

“É de suma importância que os representantes dos trabalhadores participem das decisões e discussões do Comitê Nacional de Gestão de Crise, pensando nas ações em prevenção à Covid-19 e impactos delas para a categoria. Estamos falando do bem mais precioso que temos, que é a vida”, concluiu Rangel. 

Segundo informações oficiais da companhia, até o momento são 13 casos de coronavírus confirmados no Sistema Petrobrás. Sete são trabalhadores da Petrobrás, e seis, da Transpetro.

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