Hospital cria Caixa de Memórias com pertences de vítimas da covid-19
Meta principal é amenizar dor decorrente da perda de familiares
A Ação de Humanização para Enfrentamento da Pandemia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro, decidiu transmitir mais afetividade e carinho para a entrega de pertences de pacientes que morrem vítimas da covid-19 a seus familiares.
A partir do relato do chefe do Centro de Tratamento Intensivo – CTI – da covid-19 do hospital, Túlio Possati de Souza, que ficou angustiado ao entregar a parentes, em um saco plástico, pertences de um paciente morto pelo coronavírus, a psiquiatra Thabata Luiz, que trabalha com oncologia e cuidados paliativos, decidiu criar uma Caixa de Memórias para amenizar a perda dos familiares. Desde ontem, foram entregues cinco caixas de memórias a parentes de vítimas da covid-19.
A partir desta semana, os familiares dos mortos recebem a Caixa de Memórias, acompanhada de flores e um cartão com mensagem de apoio e contatos para ajuda psicológica no próprio hospital.
“Você trabalha um luto de forma mais afetiva com os parentes dos pacientes. Aí, eu pensei: vamos encaixar uma caixa mais afetiva para que eles possam levar esses pertences e transformar a caixa em uma coisa positiva, talvez guardar coisas importantes, que representem uma história de vida do paciente”, revelou a médica.
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A inspiração para a criação da Caixa de Memórias, adaptada a esse momento de pandemia, veio de cursos que Thabata faz em cuidados paliativos, ministrados pelos psicólogos Rodrigo Luz e Daniela Freitas, da Fundação EKR-Brasil.
A entrega da caixa coincidiu com o início do projeto de visitas virtuais de familiares aos pacientes da covid-19, por meio de um tablet doado por um médico da unidade hospitalar da Universidade Federal Fluminense.
As caixas são produzidas por Thabata e pelas psicólogas Tânia Ventura e Virgínia Dresch, com material cedido pela Associação dos Colaboradores do Hospital Universitário Antônio Pedro (Achuap).
“Foi uma colaboração solidária de várias personagens”, disse. “Quando há um óbito no hospital, a gente é comunicada, recupera os pertences do paciente e entrega para a família. Nesse momento, a gente faz contato explicando que a caixa leva aquilo de forma mais afetiva, mais humanizada e menos negativa”, disse Thabata.
Visitas virtuais
As visitas virtuais começaram ontem (25). Thabata já está fazendo contato dos pacientes lúcidos, que conversam por vídeo com as famílias e também dos pacientes que estão sedados e não se comunicam com a família.
Para esses, a psiquiatra leva uma mensagem de áudio dos familiares. “A família grava uma mensagem de áudio e eu transmito para o paciente no leito. Tem uma função muito importante para os familiares, que declaram o seu amor, dizem que estão na torcida ou falam coisas que queriam, mas não conseguiam falar. É bem emocionante”, relatou.
Segundo informou a assessoria de imprensa do Hospital Universitário, a ideia é que, através de um tablet, os pacientes possam entrar em contato com os familiares, já que o ambiente da covid-19 é de alta contaminação, inviabilizando presença física. A médica destacou que o objetivo é minimizar estressores adicionais, como afastamento familiar e impossibilidade de despedida. Assim, contribui-se para a prevenção de transtornos mentais, como luto complicado e estresse pós-traumático.
No CTI da covid-19 do Huap há 14 leitos e, no Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), são 11.
Esses números podem variar de um dia para o outro. No CTI, são todos pacientes com covid-19 positivo. No DIP, há casos suspeitos e confirmados.
Túlio Possati de Souza informou, ainda, que a inexistência das visitas prejudica pacientes idosos com potencial de desenvolvimento de delírio e síndrome do confinamento.
“A elaboração das visitas virtuais através de tablets surge como uma boa alternativa para contornar esse isolamento social imposto pela doença”, ressaltou o chefe do CTI da covid-19 do Huap.
Acolhimento de profissionais de saúde
Outro trabalho que o Huap vem realizando desde abril é o PsiCOVIDa, acolhimento de profissionais de saúde do hospital que estão na linha de frente do combate à pandemia e que necessitam de suporte psíquico ou emocional.
“São psicólogos que estão online todo dia de plantão e tem o atendimento presencial. Todas as demandas de psicologia e psiquiatria eles atendem e a gente avalia a necessidade de fazer atendimento presencial”, revelou Thabata Luiz.
O grupo PsiCOVIDa atende também familiares de pacientes internados, além de profissionais de saúde de todos os níveis que estejam precisando de algum acolhimento psicológico ou psiquiátrico.
Segundo a psiquiatra, até funcionários administrativos do Huap já foram atendidos pelo grupo. A meta é levar aos acolhidos a mensagem de que eles não estão sozinhos neste momento. A equipe do PsoCOVIDa pode ser acessada pelo telefone (21) 96973-2977.
EBC