Dom Pedro José Conti: Sem fazer rumor

Neste fim de semana, novamente, celebraremos duas solenidade do nosso calendário litúrgico, além de iniciar com esperança e gratidão o Novo Ano de 2022. No dia 1º de janeiro, celebraremos a maternidade de Maria, chamando-a com o primeiro título que a Igreja lhe deu: “Mãe de Deus”. Mãe daquele “filho” obra do Divino Espírito Santo. Somente à luz da Cruz e da Ressurreição desse Filho, podemos compreender um pouco do amor de Deus com a humanidade. “Esvaziou-se” diz a carta aos Filipenses (2,7), ou seja, doou-se até o fim, como sabe doar-se somente quem ama sem limites.

No domingo, logo em seguida, celebraremos a festa da Epifania. Os “magos” chamam a nossa atenção, mas eles viajam, guiados pela estrela, para adorar o Menino. É ele o mais importante, é ele que recebe os presentes. De novo, porém, dá para entender, que o verdadeiro “presente” é aquela criança. Somente quem deixa que a luz da fé ilumine os seus olhos pode cair de joelho diante dela. Fazemos tantas viagens para procurar coisas e emoções passageiras e temos receio de entrar no caminho que conduz à verdade e à vida. Uma viagem necessária, talvez, para entrar de novo em nós mesmos e parar de esperar que os outros, de tantas formas, digam-nos o que devemos fazer e esperar.

Partilho agora algumas considerações, aproveitando da Mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial da Paz. O santo padre aponta três caminhos para a fadigosa construção de “uma paz duradoura”: o diálogo entre as gerações, a educação e o trabalho. Na mensagem, esses caminhos são explicitados e motivados. Para o santo padre, os idosos são os “guardiões da memória” e os jovens são “aqueles que fazem avançar a história”. Para chegar a projetos “compartilhados e sustentáveis”,  é necessário  uma política sã, que não se limite a administrar o existente “com remendos e soluções rápidas”. O diálogo entre as gerações deve se basear na experiência e na confiança. “Sem as raízes, como poderiam as árvores crescer e dar fruto?” diz papa Francisco. Segundo ele, sobretudo a respeito do cuidado com a casa comum, os numerosos jovens que se empenham por um mundo mais justo e atento à tutela da criação, devem ser apreciados e encorajados. Falando da “educação” o santo padre lamenta a sensível diminuição, em nível mundial, do orçamento para a instrução e a educação. Ao contrário, aumentam as despesas militares. É urgente uma inversão na correlação entre os investimentos públicos na educação e os fundos para armamentos. No pensamento do papa Francisco, a educação deve acompanhar um empenho mais consistente na promoção da cultura do cuidado. No entender do papa, essa cultura pode se tornar a linguagem comum que abate as barreiras e constrói pontes. 

O terceiro fator indispensável para construir e preservar a paz é o trabalho. Com efeito, o trabalho “constitui expressão da pessoa e dos seus dotes, mas também compromisso, esforço, colaboração com outros, porque se trabalha sempre com ou para alguém”. Por causa da pandemia, lembra o papa, muitas atividades econômicas faliram. De maneira especial os trabalhadores precários estão cada vez mais vulneráveis. Muitos jovens que querem ter acesso ao mercado do trabalho e os adultos que ficaram desempregados estão em situações dramáticas. É urgente, diz papa Francisco, “promover em todo o mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação”.

Para concluir, acredito que mereça escrever o apelo final do papa: “Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunidades eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para caminharmos juntos, por estas três estradas: o diálogo entre gerações, a educação e o trabalho. Com coragem e criatividade. Oxalá sejam cada vez mais numerosas as pessoas que, sem fazer rumor, com humildade e tenacidade, se tornam dia a dia artesãos de paz. E que sempre as preceda e acompanhe a bênção do Deus da paz!” Com a confiança nesta bênção iniciamos o Novo Ano.

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