Putin ignora derrotas e sanciona anexações de territórios da Ucrânia

Forças de Volodymyr Zelensky conquistam terreno em Luhansk e em Kherson, regiões incorporadas por Moscou. Presidente russo promete “estabilizar” situação e promove líder checheno que defendeu o uso de armas nucleares

Rodrigo Craveiro

Apesar de reconhecer as dificuldades na Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sancionou, ontem, a anexação das regiões de Zaporizhzhia e Kherson (sudeste) e de Donetsk e Luhansk (leste). O chefe do Kremlin também assinou um decreto no qual isenta da mobilização parcial de reservistas os estudantes universitários e de instituições privadas. No dia em que Kiev anunciou novos avanços militares em Kherson e em Luhansk, um Putin cada vez mais pressionado buscou transmitir uma mensagem de otimismo. “Partimos do princípio de que a situação nos novos territórios se estabilizará”, declarou, em conversa com professores, durante videoconferência transmitida pela televisão.

Uma sondagem divulgada pelo instituto de pesquisas independente Centro Levada, sediado em Moscou, apontou que 47% dos russos reagiram com “horror” e “ansiedade” à ordem de Putin de mobilizar 300 mil reservistas para combaterem na Ucrânia — 23% se disseram chocados, 13% com raiva e outros 23% afirmaram sentir orgulho patriótico. A aprovação do presidente diminuiu de 83% para 77%. Também ontem, Putin promoveu o líder checheno Ramzan Kadyrov ao posto de coronel-general, poucos dias depois de o aliado pedir o uso de armas nucleares táticas como estratégia para forçar a recuperação de territórios.

Controle
Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM e especialista em segurança internacional, afirmou ao Correio que, ao sancionar as anexações, Putin tenta mostrar ao povo russo que as coisas estariam sob controle. “A medida coincide com o acirramento das críticas ao governo, inclusive por parte de nacionalistas e de lideranças chechenas. As anexações seriam uma resposta às reprovações”, explicou. “Outra hipótese é de que, com a retomada de áreas por parte da Ucrânia, Putin poderia declarar guerra oficialmente, pois a Ucrânia estaria invadindo ‘território russo’. Ele também pode anunciar uma mobilização total, além de implementar medidas mais contundentes, como de controle da população.”

Segundo Rudzit, as perdas humanas foram enormes para a Rússia. “O fato de os russos terem levado meses para reconquistar os territórios e os perderem em questão de semanas fez com que eles sofressem um abalo. O que torna mais complicada a situação é que os reservistas não têm preparo nenhum para a guerra, além de estarem acima do limite de idade. Quando chegarem ao front, se não fugirem, morreram rapidamente”, advertiu o estudioso. Um cenário que, alerta, pode levar a uma situação de desespero para Putin, a uma deserção em massa entre os russos ou à falência militar das tropas do Kremlin na Ucrânia. “Isso tornaria Putin ainda mais perigoso, no sentido de poder apelar a uma arma nuclear tática.”

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