PL pretende legitimar o ritmo melody em patrimônio do Amapá e causa revolta

Representantes de movimentos da cultura tradicional do Amapá manifestam contra o Projeto de Lei (PL) do deputado estadual Antônio Furlan que quer transformar o ritmo melody, em Patrimônio Imaterial do Amapá. O PL seria colocado em votação na sessão desta segunda-feira, 22, mas a apresentação foi adiada, mesmo com os fãs do ritmo presentes nas galerias. O deputado reuniu com os representantes de grupos de marabaixo e disse que não é de voltar atrás nas decisões e o projeto será votado na próxima semana.

A indignação dos manifestantes foi pela falta de consistência do PL, uma vez que o melody é característico do Pará, onde nasceu, sob a influência e mistura de outros ritmos, como o brega. “Não é preconceito contra o estilo, que tem muitos fãs no Amapá, a questão é querer legitimar algo que não faz parte de nossas tradições. Isso abre precedentes para outras aberrações. Ao contrário do Círio de Nazaré, que nasceu no Pará, porém há décadas faz parte de nossa cultura, passado por gerações e mereceu ser transformado em bem imaterial.”, disse Danniela Ramos, presidente do grupo Marabaixo do Laguinho.

A definição de bens imateriais, tanto da Unesco quanto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e que condiz com a Constituição Federal, considera tratar-se de expressões culturais e tradições de um povo, cuja ancestralidade deve ser preservada, seus saberes, expressões, celebrações, festas e danças populares, lendas, música, costumes e tradições. No Amapá, o tombamento de bens imateriais por parte do legislativo é garantido pela Lei de 2009, de autoria da deputada Roseli Matos.

Para a presidente do grupo de marabaixo Berço das Tradições, Valdinete Costa, o melody não se enquadra na Lei, e portanto não pode ser beneficiado por ela. “Isso é vergonhoso, não podemos nos apropriar da cultura alheia, o melody é do Pará, o marabaixo e batuque do Amapá. Temos muito em comum com os paraenses, nossas raízes estão lá. Mas imagine se um parlamentar do estado vizinho torna bem imaterial um elemento tradicional do Amapá?”, questiona.

O deputado Furlan, na reunião com os manifestantes, afirmou que o número de adeptos do ritmo melody no estado, justificam o PL. O parlamentar argumentou que o marabaixo já foi prestigiado com o Dia Estadual e com a denominação de bem imaterial. “O melody não foi concebido nem manifestado por nossos ancestrais, é apenas um ritmo popularizado aqui. Temos que fortalecer a herança cultural deixada por nossos antepassados”, disse a líder marabaixeira, Elísia Congó.

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