Jesus, eu confio em Vós

Dom Pedro José Conti
Dom Pedro José Conti

No dia 22 de fevereiro de 1931, na cela do convento em Plock, irmã Faustina teve uma visão na qual o próprio Jesus se apresentou tal como a imagem devia ser pintada. “À noite, quando me encontrava na minha cela – escreve no Diário dela – vi Nosso Senhor vestido de branco. Uma das mãos erguida para abençoar, e a outra tocava-Lhe a túnica, sobre o peito. Da túnica entreaberta sobre o peito saíam dois grandes raios, um vermelho e outro pálido. (…) Logo depois, Jesus me disse: “Pinta uma Imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em Vós. Quero que essa Imagem (…) seja abençoada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia”. Na Imagem de Cristo são visíveis os dois raios. Irmã Faustina pergunta a Jesus sobre o significado desses raios, e Jesus lhe explica: “o raio pálido significa a Água que justifica as almas; o raio vermelho significa o Sangue que é a vida das almas. (…) Feliz aquele que viver à sua sombra”. A alma é purificada pelos sacramentos do batismo e da reconciliação, enquanto que a Eucaristia alimenta-a abundantemente. Os dois raios significam os sacramentos e todas as graças do Espírito Santo, cujo símbolo bíblico é a água e também a Nova Aliança de Deus com o homem, feita no Sangue de Cristo. (Diário – Santa Faustina – 41ª Ed. – Introdução, pg.11)

No segundo domingo da Páscoa, encontramos a página do evangelho de João que nos fala de duas aparições pós-pascais de Jesus ressuscitado. A primeira ao anoitecer do dia de Páscoa e a segunda oito dias depois. Na primeira aparição, o apóstolo Tomé estava ausente e duvidou das palavras dos demais apóstolos. Assim, na segunda aparição, o próprio Jesus cobrou dele mais fé: “Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não seja incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27). O apóstolo responde com uma verdadeira profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”. No mesmo evangelho, encontramos, também, o envio dos apóstolos, com a força do Espírito Santo, e a possibilidade de perdoar ou reter os pecados. Acreditamos que, com essas palavras, Jesus confiou à sua comunidade, a primeira Igreja que estava nascendo, a grande e sublime missão, tantas vezes exercida por ele mesmo junto aos pecadores, de fazer chegar a todos a misericórdia do Pai.

A confissão dos próprios pecados é sempre algo difícil e exige a humildade de reconhecer as nossas fraquezas, mas o perdão desejado e alcançado marca o começo de uma vida nova. A experiência da misericórdia do Pai é sempre um momento “pascal”, porque é uma passagem de uma situação de morte, insatisfação e infelicidade – o pecado – para percorrer um novo caminho de vida, de reconciliação, paz, união – o perdão.

Quando reconhecemos o mal que fizemos, de fato, denunciamos esse mal e manifestamos o desejo de sermos libertos dele. A experiência da misericórdia do Pai é oferecida a todos, mas não é algo genérico, abstrato, fora das situações concretas.  Como o “pecado do mundo” se manifesta nos atos de mal e injustiça que praticamos, a misericórdia também transfigura o nosso agir e faz que as trevas se tornem luz. Somente o amor misericordioso de Deus pode realizar esta renovação, ao mesmo tempo, íntima e visível, exteriormente, na alegria de quem foi perdoado. A Igreja deve ser, simplesmente, o canal, ou a porta sempre aberta, para ir ao encontro do abraço do Pai.

Desde o Ano Jubilar de 2000, o Santo Padre João Paulo II instituiu e estendeu para toda a Igreja Católica a Festa da Divina Misericórdia no segundo domingo de Páscoa. Ele conhecia bem as experiências místicas da religiosa Maria Faustina Kowalska, que se tornou apóstola da Divina Misericórdia e a proclamou santa no dia 30 de abril de 2000, segundo domingo de Páscoa também. Neste Ano Santo da Misericórdia, vamos nos deixar alcançar pelo perdão amoroso do Divino Pai e aprendamos a ser misericordiosos como Ele. Olhando a Jesus e aos sinais da paixão, podemos repetir com o apóstolo Tomé: “Meus Senhor e meu Deus” e, com Santa Faustina: “Jesus, eu confio em Vós”.

O que você pensa sobre este artigo?

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.