Jesus, eu confio em Vós
No dia 22 de fevereiro de 1931, na cela do convento em Plock, irmã Faustina teve uma visão na qual o próprio Jesus se apresentou tal como a imagem devia ser pintada. “À noite, quando me encontrava na minha cela – escreve no Diário dela – vi Nosso Senhor vestido de branco. Uma das mãos erguida para abençoar, e a outra tocava-Lhe a túnica, sobre o peito. Da túnica entreaberta sobre o peito saíam dois grandes raios, um vermelho e outro pálido. (…) Logo depois, Jesus me disse: “Pinta uma Imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em Vós. Quero que essa Imagem (…) seja abençoada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa, e esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia”. Na Imagem de Cristo são visíveis os dois raios. Irmã Faustina pergunta a Jesus sobre o significado desses raios, e Jesus lhe explica: “o raio pálido significa a Água que justifica as almas; o raio vermelho significa o Sangue que é a vida das almas. (…) Feliz aquele que viver à sua sombra”. A alma é purificada pelos sacramentos do batismo e da reconciliação, enquanto que a Eucaristia alimenta-a abundantemente. Os dois raios significam os sacramentos e todas as graças do Espírito Santo, cujo símbolo bíblico é a água e também a Nova Aliança de Deus com o homem, feita no Sangue de Cristo. (Diário – Santa Faustina – 41ª Ed. – Introdução, pg.11)
No segundo domingo da Páscoa, encontramos a página do evangelho de João que nos fala de duas aparições pós-pascais de Jesus ressuscitado. A primeira ao anoitecer do dia de Páscoa e a segunda oito dias depois. Na primeira aparição, o apóstolo Tomé estava ausente e duvidou das palavras dos demais apóstolos. Assim, na segunda aparição, o próprio Jesus cobrou dele mais fé: “Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não seja incrédulo, mas fiel” (Jo 20,27). O apóstolo responde com uma verdadeira profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”. No mesmo evangelho, encontramos, também, o envio dos apóstolos, com a força do Espírito Santo, e a possibilidade de perdoar ou reter os pecados. Acreditamos que, com essas palavras, Jesus confiou à sua comunidade, a primeira Igreja que estava nascendo, a grande e sublime missão, tantas vezes exercida por ele mesmo junto aos pecadores, de fazer chegar a todos a misericórdia do Pai.
A confissão dos próprios pecados é sempre algo difícil e exige a humildade de reconhecer as nossas fraquezas, mas o perdão desejado e alcançado marca o começo de uma vida nova. A experiência da misericórdia do Pai é sempre um momento “pascal”, porque é uma passagem de uma situação de morte, insatisfação e infelicidade – o pecado – para percorrer um novo caminho de vida, de reconciliação, paz, união – o perdão.
Quando reconhecemos o mal que fizemos, de fato, denunciamos esse mal e manifestamos o desejo de sermos libertos dele. A experiência da misericórdia do Pai é oferecida a todos, mas não é algo genérico, abstrato, fora das situações concretas. Como o “pecado do mundo” se manifesta nos atos de mal e injustiça que praticamos, a misericórdia também transfigura o nosso agir e faz que as trevas se tornem luz. Somente o amor misericordioso de Deus pode realizar esta renovação, ao mesmo tempo, íntima e visível, exteriormente, na alegria de quem foi perdoado. A Igreja deve ser, simplesmente, o canal, ou a porta sempre aberta, para ir ao encontro do abraço do Pai.
Desde o Ano Jubilar de 2000, o Santo Padre João Paulo II instituiu e estendeu para toda a Igreja Católica a Festa da Divina Misericórdia no segundo domingo de Páscoa. Ele conhecia bem as experiências místicas da religiosa Maria Faustina Kowalska, que se tornou apóstola da Divina Misericórdia e a proclamou santa no dia 30 de abril de 2000, segundo domingo de Páscoa também. Neste Ano Santo da Misericórdia, vamos nos deixar alcançar pelo perdão amoroso do Divino Pai e aprendamos a ser misericordiosos como Ele. Olhando a Jesus e aos sinais da paixão, podemos repetir com o apóstolo Tomé: “Meus Senhor e meu Deus” e, com Santa Faustina: “Jesus, eu confio em Vós”.