Ameba que ‘come cérebro’ pode ser encontrada no Brasil
Espécie vive em lagos de água morna ou quente; contágio é raro e diagnóstico, difícil, obtido normalmente somente após morte de paciente
A Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas (ISID) confirmou na última semana a morte de um garoto argentino de 8 anos por uma infecção causada por uma ameba chamada de “devoradora de cérebro”.
Ele teria sido infectado durante um mergulho na lagoa de Mar Chiquita, na província de Junín, a cerca de 320 km da capital Buenos Aires.
O menino morreu uma semana depois de apresentar os primeiros sintomas, muito parecidos com meningite: febre, dor de cabeça, vômitos, intolerância à luz e ao barulho.
Mas será que um caso como este pode acontecer no Brasil?
O que é ameba que “come cérebro”?
O nome dela é Naegleria Fowleri e ela faz parte de um grupo chamado amebas de vida livre, que pode ser encontrado na natureza. No caso da “comedora de cérebro”, ela pode estar presente em piscinas aquecidas que não foram devidamente tratadas, poças, lagos, córregos, no solo e até mesmo em grãos de poeira.
Não são todas das amebas de vida livre que causam problemas para o nosso organismo, mas a Naegleria Fawleri pode ser perigosa. O apelido de “devoradora de cérebro” não foi dado à toa. Ela entra no corpo humano pelo nariz, quando uma pessoa mergulha e aspira água, e atinge o sistema nervoso central – vai para o cérebro.
O parasitologista Danilo Ciccone Miguel, do Departamento de Biologia Animal da Unicamp explica que, em pouco tempo, essa ameba causa uma infecção no cérebro e nas membranas que fazem parte do sistema nervoso, o que leva a hemorragias e edemas. Esta doença é chamada de meningoencefalite amebiana primária (MAP) e os primeiros sintomas podem aparecer uma semana depois do contágio. A doença tem um curso muito rápido e pode levar à morte em uma ou duas semanas após a exposição.
Esta infecção pode se desenvolver em pessoas totalmente saudáveis, e, como aconteceu na Argentina, é mais comum em crianças e jovens, justamente porque são os mais jovens que se aventuram em lagos ou córregos desconhecidos.
Segundo a parasitologista Marilise Brittes Rott, do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a meningoencefalite é uma doença extremamente letal. Existem poucos casos no mundo, cerca de 200, mas a grande maioria dos pacientes não conseguiu responder ao tratamento. A professora conta que nos Estados Unidos, dos 129 casos registrados entre 1962 e 2013 apenas 2 pessoas sobreviveram.
O que faz com que a doença seja tão letal é a dificuldade de diagnóstico, feito depois de uma análise do líquido que lubrifica o sistema nervoso central, chamado de líquor. Entre os casos registrados nos Estados Unidos, por exemplo, 75% só foram confirmados depois da morte do paciente.
Mais da metade dos casos registrados no mundo se concentram no Sul dos Estados Unidos. Na América do Sul, já foram registrados dois casos na Venezuela e um na Argentina.
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