Euclides Farias: Escopeta, metralha, granada e fuzil
A violência urbana e no campo é parenta próxima da ausência do Estado social e não será vencida pelo Estado policial. Premonitório, o compositor e baterista Wilson das Neves, que morreu no ano passado como dono de uma biografia de gigante da MPB que tocou com grandes nomes da música internacional, anteviu o caos neste samba de 1996. Paulo César Pinheiro foi o parceiro na composição.
O samba é perturbador, contemporâneo e não tem fronteira, embora ambientado nos morros do Rio de Janeiro. É um alerta para quem quiser ouvir.
Nesta interpretação de “O dia em que o morro descer e não for Carnaval”, mestre Wilson das Neves canta, no programa Samba na Gamboa, de Diogo Nogueira, na TV Cultura, com o rapper Emicida, considerado uma das maiores revelações do hip hop brasileiro.
A primeira estrofe já é nitroglicerina pura. Existe algo mais atual? Wilson não faz apologia à violência armada do morro. Faz uma constatação da realidade com o abandono social acumulado no Rio e no país refém da criminalidade. Ele fala da dor dos desvalidos e não prevê boa coisa. Nem poderia.
“O dia em que o morro descer e não for carnaval/ninguém vai ficar pra assistir o desfile final/na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu/vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil/ é a guerra civil…”.