Adaptação é questão de sobrevivência profissional
Novos modelos de trabalho surgem no mercado e as grandes empresas têm buscado outras formas de atender às suas necessidades. Vivemos o fim da carteira assinada?
O mercado de trabalho atual não exige só qualificação e atualização em dia, mas obriga cada profissional a ponderar sobre o futuro do trabalho. Você já parou para pensar nisso? As relações entre empregadores e empregados estão mudando drasticamente, principalmente em função da transformação digital que extingue postos e cria novas profissões. A consequência é o surgimento de diferentes posições dos profissionais, mudando o conceito de trabalhador ideal. Desse cenário, surge outra questão: a carteira assinada está com os dias contados? Para Cai Igel, CEO da Alstra, empresa de consultoria, a resposta é “sim”. Com uma ressalva: “Para diversas atividades, esse modelo de contratação está ultrapassado. O impacto da tecnologia no mercado em conjunto com as mudanças culturais de propósito e equilíbrio pessoal está tendo grande influência nos modelos de contratação. As empresas precisam de acesso rápido e flexível a diversas competências profissionais que nem sempre têm dentro de casa. Dessa forma, o modelo de execução por projeto e não por atividade está cada vez mais difundido. Os profissionais, por sua vez, querem ter mais protagonismo sobre suas carreiras, sair de estruturas burocráticas e ter um bom equilíbrio profissional e pessoal”.
Cai Igel que, como empreendedor, atua na estruturação e mentoria de startups, formado em administração de instituições financeiras pelo DIHK (Alemanha) e ex-CEO da Unibanco Securities e ex-CCO do Grupo Unibanco, alerta que vamos ter um período de transição, o qual sofrerá ajustes e amadurecimentos. O empregador ganha acesso rápido e flexível a talentos aos quais antes não tinha acesso, bem como profissionais muito focados em entrega. Mas terá que alinhar seu modelo de gestão para não criar atritos entre funcionários e profissionais independentes. “O profissional independente tem entregas e prazos claramente definidos e isso gera uma discrepância de produtividade que tem que ser administrada.”
Por sua vez, destaque o CEO da Alstra, “os profissionais passam, obrigatoriamente, por um processo de evolução e de ‘empreendedorismo’, tendo que aceitar que o emprego fixo e a remuneração depositada todo mês dependerão muito mais de suas efetivas entregas aos clientes. O modelo é infinitamente mais efetivo, mas os benefícios superam em muito esses desafios, seja por uma remuneração muitas vezes maior ou pelo protagonismo e liberdade que esse modelo traz consigo”.
Assim, cada vez mais o mercado absorve novos modelos de trabalho. Um que se destaca neste cenário é o de projetos sob demanda. “O modelo é simples. Empresas cada vez mais precisam de profissionais específicos para resolver problemas e implementar oportunidades. Essas demandas têm início, meio e fim e requerem competências que muitas vezes as empresas não têm em seus quadros de funcionários. Empresas passam a trabalhar em ciclos de projetos e não de atividades rotineiras. Esse processo é extremamente dinâmico e requer alta flexibilidade na contratação de profissionais. A Alstra organiza e digitaliza este processo, garantindo acesso pelas empresas a um novo mercado de talentos de forma ágil e segura.”
Tem ainda o chamado test & hire. Conforme Cai Igel, neste modelo, “o profissional tem o interesse em ser contratado para um projeto, mas também para ser contratado como funcionário pela empresa. Porém, apenas se tiver certeza que o conjunto (cultura, time etc.) se alinham ao seu perfil. Neste caso, a empresa contrata o profissional sob demanda e o trabalho é iniciado imediatamente. Assim, ambos têm a oportunidade de se conhecer por alguns meses e, se concordarem que o “fit” é bom, a empresa o contrata permanentemente”.
Cai Igel explica que o modelo de contratação tradicional leva de dois a quatro meses para o profissional começar a trabalhar. “Esse profissional passa por um processo seletivo e começa a trabalhar sem nunca ter provado, na prática, se encaixa no time ou se entrega o que é esperado. Isso gera dois problemas: primeiro, o custo de oportunidade, porque a empresa deixa de gerar valor até que o profissional seja contratado. Segundo, mesmo passando por todos os testes de seleção, a probabilidade desse profissional não encaixar ainda é alta e, nesse caso, tem-se o desgaste natural e o processo de seleção tem que ser reiniciado.”
RISCO Profissionais que atuam como freelancer também só aumentam. “Ele geralmente tem um ganho financeiro líquido superior ao modelo assalariado e também liberdade na escolha do projeto e da empresa em que vai trabalhar. Ele tem a oportunidade de trazer mais equilíbrio à vida pessoal e profissional. Esses são os principais motivos do aumento em escala desse perfil de profissional. O maior risco que ele tem é não encontrar um projeto para trabalhar. Especialmente porque, enquanto trabalha em um projeto, não tem tempo para prospectar o próximo trabalho após finalizar o atual.” A Alstra, aliás, é um canal de prospecção para os profissionais: “Eles focam no que sabem fazer e nós encontramos novos projetos alinhados com os seus perfis”.
De acordo com Cai Igel, as principais características exigidas de profissionais freelancers são transparência em quais realmente são suas competências e no trabalho sendo executado. Foco em execução, conversas de corredor e cafezinhos não fazem parte desse modelo. Adaptabilidade a diferentes ambientes de trabalho e comunicação assertiva e articulada.
Via Estado de Minas