ONU e governo brasileiro discutem riscos da obesidade para as crianças

Em encontro de países latinos-americanos e caribenhos realizado em Brasília (DF), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou na segunda-feira (3) que a obesidade compromete o futuro das crianças. Em busca de soluções para o problema do sobrepeso, o evento na capital federal promove até esta terça-feira (4) debates com acadêmicos, sociedade civil e representantes de governos de 13 nações.

Em encontro de países latinos-americanos e caribenhos realizado em Brasília (DF), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou na segunda-feira (3) que a obesidade compromete o futuro das crianças. Em busca de soluções para o problema do sobrepeso, o evento na capital federal promove até esta terça-feira (4) debates com acadêmicos, sociedade civil e representantes de governos de 13 nações.

Socorro Gross, representante da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, ressaltou que a obesidade infantil tem raízes em vários fatores — o que exige uma resposta intersetorial. A especialista elencou medidas já consagradas em publicações internacionais para combater a epidemia global de sobrepeso.

“Podemos citar como exemplos os impostos sobre bebidas adoçadas, a regulamentação da publicidade de alimentos ultraprocessados para crianças, a implementação da rotulagem frontal de advertência, a promoção da atividade física e o incentivo ao aleitamento materno”, afirmou a dirigente durante a abertura do II Encontro Regional sobre Ações de Prevenção da Obesidade Infantil.

Segundo Socorro, existem pesquisas que já comprovam que a amamentação ajuda a diminuir o risco de excesso de peso durante a infância e a adolescência.

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a luta contra o sobrepeso entre crianças deve mobilizar outras pastas e áreas do governo, como economia, agricultura, educação e esportes.

“Há uma série de pontes a serem construídas para gradativamente reposicionar não só o Brasil, mas o mundo, na adoção de hábitos saudáveis”, defendeu o gestor.

“Quando dialogamos sobre obesidade infantil, consideramos dois pilares: primeiro, a alimentação; segundo, a atividade física, que combate o ‘tempo de tela’ das crianças. No mundo inteiro, elas passaram a ficar muito mais reclusas, muito menos expostas às atividades lúdicas típicas da infância e da adolescência”, acrescentou Mandetta.

Na avaliação do ministro, é necessário promover a atividade física nas escolas e também em contextos comunitários.

Promovido pelo Ministério da Saúde em parceria com a OPAS, o evento em Brasília conta com a participação de delegações da Argentina, Belize, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Risca, Equador, Granada, México, Panamá, Peru e Uruguai.

Também presente na abertura do evento, Rafael Zavala, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, lembrou o fato de que quatro países das Américas — entre eles, o Brasil — estão na lista dos dez primeiros com maior número de pessoas obesas no mundo. Para o especialista, o cenário é preocupante e exige uma resposta urgente.

“Temos um desafio no contexto de globalização da obesidade: ter maior oferta de alimentos saudáveis e sistemas alimentares sustentáveis. Nós precisamos reinventar as culturas alimentares”, ressaltou o dirigente nacional da agência da ONU.

Florence Bauer, à frente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Brasil, alertou que a obesidade tem crescido durante a primeira infância. “A obesidade e o sobrepeso são um fenômeno global. No mundo, 40 milhões de crianças de zero a cinco anos já estão sofrendo com sobrepeso.”

Além dos tradicionais impactos na saúde física, o problema, segundo a representante do organismo internacional, pode trazer prejuízos para a saúde mental dos jovens.

“As consequências que o sobrepeso e a obesidade têm sobre a saúde já são conhecidas, mas existem muitos outros fatores. Sabemos que essas condições afetam a autoestima das crianças, têm uma relação com bullying nas escolas e consequentemente uma relação com acesso à educação. Existe também uma ligação entre o bullying e o suicídio entre crianças e adolescentes, que nos preocupa muito”, enfatizou Florence.

Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome das Nações Unidas, explicou que a redução do poder aquisitivo das famílias pode estar associada à obesidade.

“Quando as pessoas começam a ter menos condições de consumir, acabam ficando obesas. Isso acontece porque os alimentos mais acessíveis são aqueles que mais fazem mal à saúde, que têm mais açúcar e sódio, os ultraprocesados que estão em todas as prateleiras de supermercados”, frisou o especialista.

Balaban reiterou a importância de medidas regulatórias como a rotulagem com advertências frontais sobre a composição dos alimentos. Para o representante do centro da ONU, esse tipo de estratégia dá aos consumidores as informações necessárias para escolhas conscientes sobre o que comer.

ONU

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