Museu Bispo do Rosário abre exposição com peças inéditas do artista

Alana Gandra

O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, ligado à Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, abre amanhã (25) a exposição Utopias: A Vida Para Todos os Tempos e Glória, que apresenta 50 obras de Bispo do Rosário, entre as quais duas inéditas.

Um deles é um objeto que remete a um relógio, antes nunca exposto, e outro é uma uma capa que Bispo usava para proteger as vitrines onde organizava os artefatos que construía, com materiais que trocava com outros pacientes da antiga Colônia Juliano Moreira. Localizado em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, o antigo hospital psiquiátrico abrigou o artista por mais de 50 anos. A capa traz um texto manuscrito que faz referência à ascensão das virgens aos céus.

As informações foram dadas à Agência Brasil pelo novo curador do museu, Ricardo Resende. “Bispo criava suas próprias peças, em um trabalho de artesão”. As capas nunca foram mostradas. Ficaram guardadas e até esquecidas na reserva técnica e, agora, com o trabalho de catalogação. Resende informou que muitos trabalhos de Bispo do Rosário foram descobertos. Ele protegia as capas com sacos de embalagens de plástico.

“Ele tinha a mania de acumular esses objetos, como canecas de alumínio, sandálias havaianas, e depois organizar isso chamando de vitrines. Cobria essas vitrines com as capas. Trocava os materiais descartados com outros pacientes e levava para o trabalho dele”, explicou Ricardo Resende.

O curador revelou que Bispo ouvia vozes que diziam para ele organizar o caos do mundo. “Essa ideia de acúmulo que existe na obra dele levava-o a organizar esses materiais todos, que nada mais é do que uma catalogação dessas coisas”. Nos bordados que fazia, o artista dizia a função daqueles objetos. Artistas plásticos foram convidados a pintar partes das paredes da sala onde a exposição foi montada.

Catalogação
Mais de 900 obras de Bispo do Rosário que integram o acervo do museu foram catalogadas. Elas foram tombadas no ano passado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan). De acordo com o curador do museu, a medida dá mais visibilidade para o trabalho do artista e facilita a obtenção de novos apoios e parcerias para a conservação. A cela onde Bispo viveu por cerca de sete anos também foi tombada.

Começa este ano o trabalho de reforma do pavilhão que abriga a cela e sua restauração. Está prevista a limpeza de várias camadas de pintura nas paredes, que permitirão ver desenhos feitos pelo artista, bem como várias inscrições. Depois de restaurada, a cela funcionará como espaço expositivo permanente para as obras de Bispo do Rosário.

Alguns recursos foram gerados pela taxa de conservação, cobrada pelo museu quando empresta obras para exposições em outros equipamentos. “Essa taxa tem ajudado a gente a conservar a obra de Bispo. Já as obras de restauração serão viabilizadas por financiamento da Fundação Marcos Amaro, de São Paulo, no valor de R$ 350 mil”. Em 2018, a instituição ajudou na reforma e restauração da sala expositiva e, no ano anterior, na readequação da reserva técnica, para melhorar as condições de conservação da obra do artista.

A direção do Museu está buscando também recursos, por meio de editais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fomento do Imposto sobre Serviços (ISS), para a restauração do quadro O Grande Veleiro e para construção de um laboratório de restauro.

Casa B
Na Colônia Juliano Moreira, começou a funcionar um programa de residência denominado Casa B, que abriga educadores, curadores e artistas para o desenvolvimento de pesquisas e produções por meio do diálogo com a comunidade e com outros programas desenvolvidos pelo Museu Bispo do Rosário, informou a assessoria de imprensa do equipamento cultural. “A Casa B continua a pleno vapor”, comentou Resende.

A exposição funcionará para visitação gratuita da população de 25 de setembro até 25 de janeiro de 2020, sempre no horário das 10h às 17h, de terça a sexta-feira, e nos últimos sábados de cada mês.

EBC

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